Para arder no lume da intensa doçura
é preciso desviar a palavra do seu alvo redondo
e balbuciar vacilando em verdes veredas
o som vegetal da nua imperfeição
Se as consoantes rangem com uma matéria espessa
se as vogais oscilam como se fossem de água
é porque de algum modo é a terra que vibra
e quanto mais áspero é o movimento das sílabas
mais se toca o osso do discurso na sua indolente violência
Como quem acende um fogo com ramos entre pedras
e o sopra lentamente para que a chama se eleve
assim os materiais do poema têm a natural secura
da matéria inerte e gasta e que no entanto se inflama
para que possamos arder no lume da intensa doçura
e consagrar o que ainda resta do primitivo fogo
para que o mundo avançando retorne ao seu princípio
António Ramos Rosa
4 comentários:
Muitos parabéns, Jorge. Num post comemoras o a Primavera, o dia Mundial da Poesia e o dia Mundial da Arvore.
Agora, eu aproveito para dizer que conto encontrar-me com todos os Pinguins no "Circunvalação á Noite"!
Abraços a todos
O adeus das folhas secas no chão, o virar da página das gotas frias a baterem na janela e o esvoar para longa das brisas gelidas, que outrora afagaram nossas faces... Enfim... Bem vinda primavera, que nos abraça com os raios de sol aquecendo o nosso corpo . :)
beijos e abraços
Confesso não saber o porquê da coincidência do dia da Poesia com o inicio da Primavera. Mas acho uma coincidência muito feliz.
Parabéns Jorge por trazeres este poema do Ramos Rosa.
Que este dia vos traga muita poesia.
P.S. 6ª Fª marco presença no "circunvalação à noite", espero poder encontrar-vos por lá!
Gostei de chegar aqui e encontrar um belo poema . Obrigada Jorge
Enviar um comentário