domingo, 31 de dezembro de 2006

Parabéns Blog!

Faz exactamente hoje 1 ano que o nosso blog entrou oficialmente em actividade.
Estive a recolher alguns elementos que nos permitem conhecer um pouco melhor a vida do blog.




Em Março deste ano instalamos um contador de visitas que, até às 15:20h do dia de hoje, recebeu um total de 5484 visitas.
Neste gráfico podemos ver a variação de visitas ao longo do ano:




Deixando os visitantes de lado, vamos verificar o quanto se escreveu por aqui. Foram 228 post's e 819 comentarios, distribuidos mensalmente assim :

Para o final deixei um gráfico sobre os "postadores" do Blog. Estão ordenados alfabeticamente, mas julgo que há algumas surpresas. Uns, afinal de contas não terão escrito tantas vezes quantas poderiamos supor, outros, embora discretos, até escreveram muito:

Parabéns a todos quanto contribuiram para este ano de existência do Blog, e muito em especial ao Tó pelo nº de post's que nos dedicou.

A todos, um Excelente 2007!

P.S. Como se nota tenho uma enorme dificudade em colocar os gráficos abaixo do texto para facilitar a compreensão. Se alguém perceber como alterar isso, esteja à vontade para editar este post.

sábado, 30 de dezembro de 2006

A próxima sessão?

Imagino que não seja este encontro que o MosquiTTo nos vai trazer. Ver mais.
Boas entradas

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Encontro de Lateiros

Hoje, I encontro internacional de lateiros.

O «Jantar de Natal» do Clube está marcado para as 20h, acho que no Pink, mas não tenho a certeza porque os primos maravilha (ou não!) são uns incompetentes!

Tudo a atacar em S.Lázaro a partir dessa hora (mas de uma forma legal)!

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

"Planeta dos Macacos" como exemplo da paixão por filmes de ficção científica


Quando a determinada altura um dos personagens do filme reprime o humano porque este lhe chama chimpanzé, em vez de macaco, dizendo que os chimpanzés estão abaixo na escala da evolução logo a seguir aos humanos, percebemos a quase displicência, própria dos que se acham superiores, da forma como definimos – e tratamos - os animais não humanos no nosso dia a dia. A mesma superioridade, esta ficcionada, que está patente na forma como aquele macaco reprimiu o humano. Mas ainda antes disso, logo no início do filme “Planeta dos macacos” – versão 2001 de Tim Burton - que a Helena escolheu como símbolo da sua paixão pelos filmes de ficção científica na sessão 26/12 – está bem patente essa superioridade: Num futuro eventual, uma nave espacial realiza experiências com símios para que estes substituam os humanos em missões exploratórias mais arriscadas, como a que dá origem à trama do filme, macacos “construídos” geneticamente para ter a capacidade de fazer esse papel.

“Planeta dos macacos” tem por base um livro de Pierre Boule, publicado em 1963 (conta a wikipedia), e foi passado ao écrã inicialmente em 1968, com Charlon Heston no principal papel. Houve vários sequelas, segundo a wikipedia, que fugiram demasiado do texto original de Boulle – embora seja claro que há algumas diferenças entre o argumento original e o filme que vimos esta madrugada –, além de séries de televisão e mesmo um jogo de vídeo, que surgiu por alturas do filme de Tim Burton.

Foi esse que a Helena escolheu. No final da sessão conversamos sobre as diferentes leituras que ele permite, as metáforas que esconde, os universos paralelos. A forma como o tempo se nos vai, a forma como tratamos o outro e como nos vimos no papel do outro – e o Spranger lembrou as viagens de Gulliver –, a forma como o poder corrompe, a forma como as ditaduras tomam conta de nós e como podem ser derrotadas. A Helena destacou outro ponto, a modificação genética, o caminho para a caixa de pandora.

Esperemos que quando se abra ela não seja, como o romance e o filme, a revelação de uma sociedade de distopia, como acontece com outras obras de ficção científica como o "Triunfo dos Porcos" ou "1984".

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

DJ Binny Jam

este é o verdadeiro nome do dj da ultima sessão.
quanto às sessões que se avizinham não vou estar presente nem sequer no perú de natal.
combinem á vossa maneira e felicidades para o clube.
quanto aos amigos do reggaeclub estamos em Alijó para purificar o lixo que nos consome.
Feliz Natal e Óptimo ano novo e também uma páscoa feliz,aleluia,aleluia!!!!!

A Man's World

Mr. James Brown
(1933 - 2006)

domingo, 24 de dezembro de 2006

Feliz Natal!

Notícia de última hora: anda tudo louco! Filas de trânsito intermináveis, centros comerciais a implodir de pessoas, famílias aos berros por causa das prendas que faltam, as mulheres, e os homens, os filhos embirrentos....SOCORRO!

Existem campanhas de todos os tipos em defesa do ambiente....porque nós o destruímos continuamente a cada gesto despreocupado; Manifestações pela Paz Mundial e campanhas de recolha de alimentos, porque natais com mesas repletas de comida e famílias unidas são uma minoria.; Mas então porque não montar uma banca em cada centro comercial com uma campanha de esclarecimento dedicada ao tema: Abra o coração mas feche a carteira: a sua família e amigos precisam é de Amor...e esse é de graça!

Quando foi a última vez que dissemos à nossa mãe, ou pai , ou irmãos, no meio de um abraço dado pelo coração, “estou muito feliz por seres quem és e por partilhares a minha vida.”? E será que temos coragem de dizer aos nossos amigos “obrigado por estares presente em todos momentos deste caminho, por me sorrires quando estou feliz, por me apertares a mão quanto a tristeza me ofusca o olhar, pelas palavras duras de cada vez que perco o norte.”? Com certeza que as palavras se escapam da nossa boca menos vezes do que aquelas em que sentimos as emoções que as despertam! Este é o grande desafio: em vez de embrulharmos livros e bombons, gravatas e Cd’s, em papeis com pinheirinhos e flocos de neve, vamos embrulhar a dedicação e amizade, a alegria, a gratidão, enfim, o amor incondicional que sentimos por essas pessoas que nos fazem viver em vez de sobreviver, e embrulhar com os nossos braços decorados com o coração e com um bonito laço de sorriso. Este é o presente que espero que todos vocês encontrem debaixo do pinheiro esta noite!

O meu presente deixo vos aqui hoje. Mesmo sem braços para o embrulhar, ofereço vos a alegria imensa e a gratidão de vos poder chamar de amigos. Nos vossos sorrisos encontro o conforto de poder partilhar o que sou e de receber nos meus braços abertos os pedaços de alma que generosamente oferecem. É a amizade que cresce por vós a cada dia que me faz perceber que, afinal, vale a pena acordar cada manhã e lutar mais um pouco neste mundo de loucos. Porque, contra todas as probabilidades, ainda é possível ter amigos de verdade!

Feliz Natal Clube dos Pinguins!

Feliz Natal

O meu postal de Natal, não podia deixar de ter música. Enquanto procurava o tema perfeito consultei o blog do meu amigo Nuno e lá estava : Christmas Song, por Nat King Cole.
Para todos os membros do Clube, e também para os que não sendo membros, costumam fazer-nos uma visita aqui no Blog, um Feliz Natal.



O vídeo fica aqui a rodar até amanhã, depois pode ser consultado aqui.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

As sessões do Vitor nunca são fáceis de resumir, é dificil por vezes transmitir as paixões e as viagens que o Vitor nos proporciona e quem não esteve presente fica sempre com uma pequeníssima ideia do que por lá se passou. Desta vez calhou-me a mim a árdua tarefa de fazer o post da sessão.
Findas as habituais (interessantes e interrogativas) farpas (apesar do Vitor querer fazer uma sessão sem farpas, devido ao caractér especial da sua sessão) a sessão começou sem grandes comentários, arrancando automáticamente com música, apenas com uma pequena apresentação dos "colaboradores" que o Vitor convidou para a sessão. Sim, engane-se quem pensa que o Vitor apresentou uma sessão normal. Não! Além de se apresentar com um visual a rigor, ele contou com a participação de um DJ, o Dja, que se encarregou de nos conduzir musicalmente durante a noite. O Vitor acabou, sem palavras e apenas com um livro (um Guia de Música Reggae) que foi rolando pelas mãos dos mais curiosos, por nos dar uma "injecção" de musica reggae, transmitindo assim a sua paixão por este estilo de música e subtilmente passar uma mensagem de liberdade e, talvez, de paz.
Sob luz ténue (que foi diminuindo gradualmente durante a noite...) os pinguins foram confraternizando entre si, acompanhados por um vídeo de fundo sobre Bob Marley, que ia dando ao espaço as tonalidades Jamaicanas, juntamente com a decoração do espaço, cuidadosamente preparada pelo Vitor.
Foi uma "sessão" diferente, talvez um pouco ousada, daquelas que estavamos habituados. A(s) mensagem(s) do Vitor foram subtis, muito ao seu estilo (com a sua doce e saudável loucura): "Quem quiser que entenda...", mas no fundo, talvez (talvez...) seja pelo aproximar da época natalícia, subtilmente ficou no ar um "Paz e Amor" que rege também o espírito reggae. E um pouco de loucura também, ou não fosse uma sessão do Vitor.... (De génio e de louco...)

Um abraço a todos e um Bom Natal.

Have yourself a Merry Little X-Mas

Aproveitando a deixa do Flinto deixo aqui a minha mensagem de Natal.

Este Natal não dêem prendas. Dêem um abraço forte e digam aos outros que gostam deles.
Este Natal não dêem prendas. Dêem amor, bondade, verdade.

Como não pude ir à sessão do Vitor, com muita pena minha (mas o Influenza apanhou-me desprevenido), aproveito este nosso espaço para desejar um Feliz Natal a todos e que façam para que o natal seja todos os dias.

Abraços e beijinhos.

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

A Magia das Palavras

No passado dia 05 de Dezembro, a Cláudia levou o Clube dos Pinguins numa incursão pelo mundo mágico da poesia. Como bússola, usou os recantos da sua alma onde habitam palavras, às quais emprestou a emoção e o encanto da sua voz de mel e canela.

A descoberta do encantamento lançado pelo feitiço de um poema começou quando tinha 11 anos, provavelmente enquanto ainda a inocência deixava que os olhos do coração vissem para lá do que está escrito e sentissem o ritmo criado pelo confronto entre os significados e significantes.

E como todo o momento mágico tem o seu ritual, também a nossa anfitriã tem o seu para destrancar a porta secreta: sentir o livro nas mãos e deixar que o destino as guie na busca da expressão perfeita para o sentimento perdido nas brumas da razão. Porque os nossos poetas são tantas vezes a corda a que nos agarramos para fazer sair o pensamento da areia movediça das emoções.

Assim começamos a nossa viagem na companhia de Cesariny para percebermos que “Afinal o que importa não é a literatura nem a crítica de arte nem a câmara escura” mas “é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício”

Fomos depois levados á presença da “Princesa de Braços Cruzados”, que nos falou de todos os que se sentam debaixo da árvore do presente à espera que lhes caia no colo o fruto perfeito oferecido pela sorte. E no meio de um sorriso e de uma gargalhada abafada, imagens cortadas à memória obrigaram-me a olhar os meus braços e interrogar-me se não estariam também cruzados. Nesse instante, fui princesa. Será que fui só eu?

A viagem continuou e visitamos Herberto Helder, Sofia de Mello Breyner, entre outros, até à grande surpresa da noite!

Mais do que a sua paixão, a Cláudia quis partilhar connosco o lugar onde cada um de nós se senta confortavelmente no seu coração. E esse lugar eram poemas, esses poemas palavras e essas palavras as nossas imagens reflectidas no espelho dos seus olhos verdes de ternura...

A nossa jornada terminou em grande! Com toda a emoção e energia a jorrar do fundo da alma, a Cláudia embriagou-nos ao ritmo do “Fado Falado”, empurrando e afagando as palavras que ecoaram em nós muito para além do poema.

Obrigada Cláudia, por todas as emoções que ousaste partilhar connosco! E muito, muito obrigada pelo presente, pois mais do que pintados com palavras, as folhas trouxeram a magia da amizade!

Obrigada e parabéns, Amiga!

A mesma palavra que no vernáculo portuense se poderia referir ao PC, versão Carolina

Venho com uma proposta de farpa para a sessão de hoje: os jantares de Natal.

Nas duas últimas semanas antes do Natal terei, no todo, direito a quatro manjares e, também por isso, a minha farpa seria não contra os jantares mas contra os que protestam por terem tantos jantares. Numa altura em que há tantas formas de nos "desocializarmos", há tanta falta de tempo para tudo, tanta falta de paciência, não serão pelos menos estes encontros uma forma de mantermos uns laços?

Com a excepção dos jantares de empresa - que são obrigatórios e nefastos, mas até acabam por ser divertidos, quase parecem casamentos tantas são as personagens-tipo que por lá aparecem -, os jantares que amigos organizam nesta altura permitem-nos manter laços que não fosse a época - e o esforço que todos nesta altura fazemos - se iam perdendo.

Por isso a minha farpa seria para os que dizem mal dos jantares de Natal. E este post seria uma desculpa antecipada porque hoje não posso ir à sessão. Porque tenho um jantar de Natal.

A quem não vir, Bom Natal!

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

TERÇA,19 DEZEMBRO-REGGAECLUB

Convido para a tribuna vip todos os nobres membros do clube.
Apelo à participação numa terapia de raiz popular.
Desafio a imaginação de todos.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

O Precedente

Ao longo dos meses as sessões no clube têm-se vindo a modificar.
Alguns precedentes são abertos e têm sido essenciais no bom ambiente que se tem vivido em cada sessão.
Porém, não posso deixar de chamar à atenção de determinada situação que a mim, pelo menos, me chateia um bocado.

Quando alguém apresenta uma sessão, o princípio mais evidente que o resto do clube deve seguir é o respeito. Saber ouvir dizia na carta de princípios. E saber ouvir pressupõe olharmos para o apresentador e tentar perceber que tipo de sessão quer ele fazer. É claro que não precisamos de nos portar como meninos do coro, mas em sessões com o mesmo espaço para conversar situações como a de 3ª passada não aconteceram. Depende do interesse de cada um. Eu sei que é muito complicado, mas se queremos que as nossas sessões corram bem, devemos fazer para que a dos outros também corram.

O que pode acontecer é desvirtuar-se a estabilidade das sessões, com novos membros que possam aparecer correndo-se o risco de se começar a achar que conversar a meio de uma sessão é uma coisa normal, que no meu entender está completamente errado.

O motivo para que fiz este post foi para deixar a minha opinião e para afastar os comentários àcerca disto no post da Marta cujo motivo é a Grande Sessão do Filinto.

Um abraço a todos e boas sessões!

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

A Música do Mundo

Que o tabaco faz mal todo sabemos. Mas foi devido aos seus malefícios que na última sessão giramos à volta do Mundo, conduzidos pelo Filinto, embalados por agradáveis ritmos. Foi ao som da “World Music” que ouvimos, mexemos e sentimos diferentes culturas, línguas e instrumentos musicais. Neste post não me atrevo, por não estar preparada para, a lançar nomes sobre aquilo que ouvimos. Mas garanto honestidade e verdade no seu conteúdo.

Foi a primeira sessão do Fil e, digo eu, foi muito bem. Confessou que desde cedo teve curiosidade por descobrir o outro e de imediato se apercebeu que a música é um excelente veículo para o efeito. Através dela, conseguimos obter informação sobre diferentes povos, culturas, línguas, hábitos, etc...

Com 11 ou 12 anos – desculpem a imprecisão mas o próprio não se lembra bem – fumou, na instituição de ensino que frequentava, aquele que foi o seu primeiro cigarro. Imediatamente depois dessa sua aventura foi invadido por uma enorme – ou mesmo gigante - sensação de medo. Em causa estava a possibilidade de os seus pais se aperceberem do sucedido.

Sem muito tempo para dar asas ao seu receio teve, logo de seguida, de se dirigir para a sua próxima aula: educação musical. Durante aquela aula, garante o próprio, conseguiu esquecer-se se tudo. Do cigarro que tinha fumado. Da possível descoberta dos seus encarregados de educação. Daquilo que acontecesse quando chegasse a casa. No final da aula o Fil estava “preparado para tudo. O que tivesse de acontecer que acontecesse”.

E assim foi. Pormenores de parte – porque de facto há coisas que não interessam nada – a chegada ao doce lar foi um pouco amarga mas valeu a pena. E valeu a pena porque percebeu que aquilo que estranho e de menos agradável que acontece nas nossas vidas dá sempre frutos. Aprendemos sempre alguma coisa. Aqui o fruto foi o elo de ligação que conseguiu fazer entre a sua vontade de conhecer o outro – quiçá era já o seu espírito jornalístico a dar sinais – e o seu gosto pela música.

A partir daquele momento nasceu a sua paixão pela música. Principalmente pela “World Music”. Pelo tabaco também...é certo mas o Fil ficou sempre a ganhar. Ele e nós porque tivemos o privilégio, pelo menos eu, de conhecer novos ritmos, línguas, povos e instrumentos musicais.

Na última terça-feira ficamos a saber que existe um instrumento musical que se chama, e não sei se é assim que se escreve, “triquiticha” e que, entre muitas mas mesmo muitas outras coisas, que dois castelhanos e um andaluz cantavam algo parecido com árabe mas que, na verdade, não era.

Obrigada Fil pela sessão! Tenho que confessar que já sabia que ia gostar porque as pessoas fantásticas só podem ser apaixonados igualmente por algo fantástico. Desculpa o post estar “despido” de informação relativa aos nomes daqueles que foram os teus convidados. Mas é certo que podes sempre fazer, a segui, um post com essa informação. Como dizia a Cláudia outro dia: “dizer que gostei muito é pouco”.
Mais uma vez obrigada pela partilha.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Pode ou não falar-se o fado?

Fado Triste
Fado negro das vielas
Onde a noite quando passa
Leva mais tempo a passar
Ouve-se a voz
Voz inspirada de uma raça
Que mundo em fora nos levou
Pelo azul do mar
Se o fado se canta e chora
Também se pode falar

Mãos doloridas na guitarra
que desgarra dor bizarra
Mãos insofridas, mãos plangentes
Mãos frementes e impacientes
Mãos desoladas e sombrias
Desgraçadas, doentias
Quando há traição, ciúme e morte
E um coração a bater forte

Uma história bem singela
Bairro antigo, uma viela
Um marinheiro gingão
E a Emília cigarreira
Que ainda tinha mais virtude
Que a própria Rosa Maria
No dia de procissão
Da Senhora da Saúde

Os beijos que ele lhe dava
Trazia-os ele de longe
Trazia-os ele do mar
Eram bravios e salgados
E ao regressar à tardinha
O mulherio tagarela
De todo o bairro de Alfama
Cochichava em segredinho
Que os sapatos dele e dela
Dormiam muito juntinhos
Debaixo da mesma cama

Pela janela da Emília
Entrava a lua
E a guitarra
À esquina de uma rua gemia,
Dolente a soluçar.
E lá em casa:

Mãos amorosas na guitarra
Que desgarra dor bizarra
Mãos frementes de desejo
Impacientes como um beijo
Mãos de fado, de pecado
A guitarra a afagar
Como um corpo de mulher
Para o despir e para o beijar

Mas um dia,
Mas um dia santo Deus, ele não veio
Ela espera olhando a lua, meu Deus
Que sofrer aquele
O luar bate nas casas
O luar bate na rua
Mas não marca
Mas não marca
a sombra dele
Procurou como doida
E ao voltar duma esquina
Viu ele acompanhado
Com outra ao lado, de braço dado
Gingão, feliz, levião
Um ar fadista e bizarro
Um cravo atrás da orelha
E preso à boca vermelha
O que resta de um cigarro
Lume e cinza na viela,
Ela vê, que homem aquele
O lume no peito dela
A cinza no olhar dele
E então
E o ciúme chegou como lume
Queimou, o seu peito a sangrar
Foi como vento que veio
Labareda atear, a fogueira aumentar
Foi a visão infernal
A imagem do mal que no bairro surgiu
Foi o amor que jurou
Que jurou e mentiu
Ah
Correm vertigens num grito
Direito ou maldito que há-de perder
Puxa a navalha, canalha
Não há quem te valha
Tu tens de morrer
Há alarido na viela
Que mulher aquela
Que paixão a sua
E cai um corpo sangrando
Nas pedras da rua

Mãos carinhosas, generosas
Que não conhecem o rancor
Mãos que o fado compreendem
e entendem sua dor
Mãos que não mentem
Quando sentem
Outras mãos para acarinhar
Mãos que brigam, que castigam
Mas que sabem perdoar

E pouco a pouco o amor regressou
Como lume queimou
Essas bocas febris
Foi um amor que voltou
E a desgraça trocou
Para ser mais feliz
Foi uma luz renascida
Um sonho, uma vida
De novo a surgir
Foi um amor que voltou
Que voltou a sorrir

Há gargalhadas no ar
E o sol a vibrar
Tem gritos de cor
Há alegria na viela
E em cada janela
Renasce uma flor
Veio o perdão e depois
Felizes os dois
Lá vão lado a lado
E digam lá se pode ou não
Falar-se o fado.


Começo pelo fim e pela derradeira questão, digam lá se pode ou não falar-se o fado?
Se o fado é poesia, como a Cláudia nos explicou e demonstrou a resposta é óbvia!

A última sessão já vai um pouco longe mas as palavras fincaram-se em mim. Podemos viver uma vida passando ao largo da Poesia, mas quando escutamos quem ama a Poesia é impossivel sermos-lhe indiferente.
Dizia-nos a Cláudia que “nasceu” para a poesia com João Villaret e a sua forma apaixonada de dizer a poesia. Com ele aprendeu o ritmo da frase, a intensidade da palavra, o falsete da sílaba. E graças a ele nos fez percorrer uma viagem pela grande lingua mátria. Herberto Helder, Adília Lopes, Mário Cesariny, Eugénio de Andrade, Sophia Mello Breyner foram alguns dos autores que seleccionou para demonstrar o seu amor.
Mas fez mais do que isso. Disse-nos que a poesia é para ser sentida, e então decidiu vestir-nos a alma com alguns poemas. A mim coube-me Pablo Neruda, e assim de relance lembro-me que o Granel foi vestido por Mário Henrique-Leiria, o Spranger por Craveirinha, o Vitor por Boris Vian, a Ana e a Helena por Cecília Meireles. Cada um dos presenteados foi seguramente bem vestido, pois cada um (com uma ou outra excepção perfeitamente justificada) foi capaz de a ajustar à sua alma e transmitir-nos pela sua voz as palavras que recebeu. E o seu digno propósito foi plenamente atingido. Vi nos olhos da Marta, ouvi nos tambores do Rui, senti na incredulidade do Granel.
E a poesia dita pela Cláudia voltou a inundar a sala. Tempo de sonhar com um verso em branco à espera de um futuro roubado de “No teu poema” de José Luís Tinoco, e de experimentar a fúria da paixão, o descontrole do amor no “Fado falado” de Aníbal Nazaré.

A minha resposta à questão já cá está, agora digam vocês se pode ou não falar-se o fado?

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006