Considero-me bastante eclético do ponto de vista musical, mas há géneros que me custam mais a entrar ou nunca entraram de todo. Um deles é o Heavy Metal, outro, embora já mais aceitável para mim, é o Rock Progressivo. Eis senão quando, no nosso querido Clube, o João apresenta a sua primeira paixão: Metal Progressivo. "Estou fo.... " pensei eu. Ainda por cima já me tinha oferecido para escrever o post. Que custou a sair. Que me provocou insónias. Sim, já lá vai mais de um mês, foi no dia 07 de Fevereiro. Ainda se lembram? Eu lembro, mas na verdade não por maus motivos. Pois é, quando temos alguém apaixonado é possível que a conversão aconteça. Primeiro o João preparou um powerpoint cheio de informação e de humor (este último funciona sempre). Depois, e este aqui é para mim próprio o grande ponto de viragem, explicou-nos que é um género difícil de entrar pela "parede sonora" pelo que nos sugeriu que nos focássemos num ou noutro som. Até porque há um certo virtuosismo no género (isto sou eu a reconhecer) mas muito em especial no multifacetado e também bastante eclético Devin Townsend. Foi aqui que começou verdadeiramente a nossa viagem, com o João a levar-nos pela abrangência musical deste ícone do Metal Progressivo. Desde temas como "Ziltoidia Attaxx!!!" em que o título já diz muito e em que nos faltou cabelo para agitar em exagerados sins, passando por temas mais melódicos como DeadHead, ou ritmados e poderosos como "Lucky Animals", ou o calmo e ritmado "The Code" que consta já nos meus favoritos do Spotify. E foi o humor, as instruções de escuta, a viagem proposta na noite de 07 de Fevereiro e também a playlist partilhada no dia 09 no nosso grupo de whatsapp que me permitiram tornar-me mais eclético. Obrigado João! As insónias foram só peso na consciência por não ter escrito este post no devido tempo.
quarta-feira, 13 de março de 2024
sexta-feira, 8 de março de 2024
A Arte de Bem Jardinar!
No passado dia 6 de março, o Clube espantou-se com mais uma noite embrenhada em surpresa, desta vez, com o mote dado pela doce Joana.
Ao aterrarmos na cave mágica, deparamo-nos com o cenário que passo a descrever: quatro mesas juntas formando uma super-mesa, e, em cima desta, vários utensílios referentes ora à arte da jardinagem ora à pintura. Confuso? Não por muito tempo.
Ora, não fosse a querida Joana uma apaixonada pelo diletantismo, abraçando várias áreas do saber, e a sua proposta seria curta e objetiva. Mas a noite tinha outros planos para estes aventureiros e, por isso, o desafio no qual prontamente mergulhámos foi o de semear algumas "plantas-a-ser" e enfeitar uns bonitos vasos que a nossa promotora tinha encontrado junto a um ecoponto, ditando assim um destino que já se queria colorido!
O resto do serão pautou-se por uma partilha lúdica com bom rock de fundo, em que uns pintava, outros brincavam com a terra, trocando-se depois de estação de trabalho, e onde os testemunhos sobre "experiências psicadélicas" foram lugar-comum. Minto. Reescrevendo: onde os testemunhos de "amigos" que tiveram experiências psicadélicas foram lugar-comum. (Advertência: não experimente "Salvia Divinorum" em casa.).
Se aprender é já um deleite assumido pelo clube que aqui se reúne semanalmente, esta sessão foi particularmente rica no que nos deu a conhecer e, mais importante ainda, a saborear conjuntamente: um convívio alegre, a vivas cores, com a vontade da partilha a impulsionar a bonita troca que, mais uma vez, se verificou em sucesso.
Viver não é preciso, Pinguar é que é preciso!
sábado, 2 de março de 2024
Escape Cave - Malas, Caixas, e Ultravioletas
Imaginem o seguinte cenário: uma cave familiar, uma mala conspícua tanto pela iluminação deliberada como pela ausência de mais elementos de destaque, e uns quantos lugares ocupados por futuras vítimas de uma caixa de madeira. Assim começava a reunião de 28 de fevereiro de 2024 do Clube dos Pinguins.
O Hugo, para nos falar e mostrar a sua paixão por enigmas, fê-lo de uma forma bastante fiel à forma, enchendo-nos de mistérios por resolver. O que é que estaria na mala? Porquê que ele acabou de fechar a porta com um aloquete? Será que nos vai obrigar a fazer sudokus a noite inteira? Depois de uma breve introdução à origem da sua paixão, que traz consigo desde os tempos de infância em que servia de Mestre dos Enigmas para a sua irmã, e de nos presentear com alguns puzzles, livros, e jogos que lhe vão saciando a fome de se provar a si mesmo como capaz de desmontar qualquer incógnita, o Hugo propôs o desafio que iria responder a todas as perguntas previamente feitas: iríamos fazer um Escape Room na cave do Pinguim.
As regras eram simples. Em primeiro, não se podia partir nada. E era isso, tudo o resto seria deixado ao nosso critério, desde que cuidássemos dos objetos e do espaço, sem desmontar, partir, arrancar, ou desmantelar nenhum objeto, por muito que a frustração fosse crescendo. Numa tentativa de sumarizar os 45 minutos que demoramos a resolver este puzzle meticuloso e bem planeado, segue-se uma breve descrição do processo, em termos mais ou menos compreensíveis para quem não lá esteve.
1) Foi-nos lido um texto com pistas importantes que foram esquecidas nem 5 segundos após a Olga ter terminado de o ler;
2) A mala continha mais malas, três no total, cada uma com mais pistas ou objetos necessários para a nossa liberdade;
3) As paixões de sessões anteriores foram usadas contra nós, tanto é que a solução final envolvia a palavra GIN (e não GHN, ao contrário do que pensávamos inicialmente);
4) A música/sons de fundo utilizados oscilavam entre gritos de mulheres em pré-assassinato, gatos/crianças a berrar, vozes angélicas, e ruídos industriais;
5) Apenas UM objeto foi partido em toda esta aventura, o que significa que mesmo só havendo uma regra não fomos capazes de a cumprir;
6) O objeto partido estava a pedi-las – uma caixa de madeira cuja solução era incrivelmente simples, algo que os nossos cérebros, condicionados à complexidade devido ao restante jogo, falharam em compreender;
7) Uma lanterna UV e algumas letras espalhadas pela cave, soletrando a palavra que nos deu a liberdade, por muito que alguns elementos tivessem tentado remover o aloquete por via do som e da coloquial fézada;
8)
Terminamos antes do tempo, para surpresa de
todos, sobretudo depois do tempo perdido com o objeto envolvido nas alíneas 6)
e 7).
E assim terminava o nosso escape room, com algumas pessoas a ficarem convertidas a esse mundo de intrigas, puzzles, e desconfianças sobre todos os cantos e recantos das salas envolvidas. Não haverá melhor recompensa para um apaixonado do que ter conseguido plantar nos outros a sua própria paixão, e diria que o Hugo foi bem sucedido nesse objetivo. Nem que não o tivesse sido, a oportunidade de ter visto tanta gente presa na maléfica e demoníaca caixa de madeira, que ele próprio revelou ter-lhe dado muitas dores de cabeça quando a recebeu, certamente lhe trouxe algum ânimo, por saber que não estava sozinho na sua luta contra os paralelepípedos.
Assim termino, com um obrigado ao Hugo por todo o planeamento, à Olga pela sua participação enquanto fotógrafa e narradora, e aos restantes, sem os quais nada disto se teria proporcionado.
domingo, 25 de fevereiro de 2024
A Casa
Na passada quarta-feira, o Clube dos Pinguins abandonou a sua habitual casa na cave para se reunir num local singular e verdadeiramente especial. Sob os auspícios dos 25 anos do evento "Correntes D'escritas", aconteceu magia, na Casa Manuel Lopes, na Póvoa de Varzim. Na companhia de várias figuras etéreas, explorámos os recantos da casa e, possivelmente, alguns dos recônditos da alma do famoso bibliotecário da Póvoa, homem conhecido pelo seu temperamento irascível, mas especialmente pela profundidade da sua cultura e pelos milhares de livros que legou à cidade, assim como a sua própria casa, com o desejo de que aquele lugar servisse de pólo cultural.
Os atores, verdadeiros virtuosos, desempenharam os seus papéis de forma excepcional e foram os nossos guias, elevando ainda mais a experiência. O Pinguim Rui Spranger, que não só atuou mas também dirigiu o espetáculo, merece os mais sinceros parabéns pela sua brilhante contribuição.
(E sabes, Rui, também nos sentimos um bocadinho "voyeurs", mas voltávamos já amanhã, ao "A Casa" .)
domingo, 18 de fevereiro de 2024
O Alquimista
Na reunião de 31 de janeiro, no Clube dos Pinguins, o André partilhou a sua paixão pelo gin de forma entusiasmada. Para surpresa e alegria de todos, trouxe consigo um pequeno alambique, transformando a sessão numa experiência sensorial única.
Entre risos e provas mergulhámos nos segredos por trás da produção do gin, misturando com cuidado os ingredientes selecionados por todos: álcool agrícola, zimbro, semente de coentros, angélica, cássia/canela, café, cardamomo, alecrim e flor de laranjeira. Com paciência e alguns momentos de confusão pois os ingredientes à escolha eram muitos, destilámos uma deliciosa criação: um London Dry de quase 40 graus alcoólicos, que batizámos de "Gin dos Pinguins".
Durante o processo, aprendemos que a destilação é uma arte delicada, onde é crucial escolher os componentes corretamente para obter um produto de qualidade. Legalmente, descobrimos que o gin requer álcool agrícola e zimbro, e que a destilação é uma dança entre preservar os sabores e aumentar o teor alcoólico. Com o uso do densímetro, pudemos medir com precisão o grau da nossa criação, enquanto nos divertíamos a aprender que é possível criar um "Bathtub gin" e termos técnicos como cabeça, coração e cauda (heads, hearts and tails).
A destilação é uma técnica fascinante que permite separar um sólido de um líquido ou dois líquidos com diferentes pontos de ebulição. No nosso caso, com uma mistura de 70% de álcool e 30% de água, a destilação começou quando atingimos os 78 °C, momento em que o vapor iniciou a sua subida. Ao entrar em contacto com água fria, o vapor condensa novamente em líquido. É importante notar que todos os destilados são inicialmente incolores; se houver cor, algo pode estar a correr mal no processo.
Enquanto o alambique fazia magia, provámos gin puro, gin com apenas gelo e gin com gelo e água tónica, o que nos permitiu apreciar diversos sabores num só gin.
Gostaria de expressar um enorme agradecimento ao alquimista André, por nos proporcionar esta experiência única e brindar ao GinT, que de algum modo patrocinou esta sessão, permitindo-nos explorar e apreciar as nuances deste destilado tão versátil. Que venham mais encontros repletos de descobertas e bons momentos!
Ah e o resultado final ficou mesmo espetacular!
domingo, 4 de fevereiro de 2024
O "Passeur"
Na passada quarta-feira, dia 24 de Janeiro, fez-se juz ao objetivo do Clube dos Pinguins: partilhar!
O Rui Spranger começou por partilhar connosco a saudade de Paris, da sua vivência nos bairros boémios da capital francesa, locais que mais tarde viu retratados nos livros de Daniel Pennac e que partilhou connosco, aliás como este escritor dizia na sua entrevista: "o que nós sabemos não nos pertence [...] um dos nossos motivos de estar sobre a terra é ser passeur e partilhar o que sabemos".
Mas a sessão guardava para o final mais uma partilha fantástica, um filme sobre uma história verídica de que o Rui tomou conhecimento quando ainda morava em Paris, sobre um homem paralisado que escreveu um livro somente com o seu piscar de olhos (ou, neste caso, de olho). O filme "O Escafandro e a Borboleta" prendeu-nos nas cadeiras do princípio ao fim, sem intervalo, deixando-nos com uma lição de vida e exemplo, de que nada é impossível quando queremos muito alguma coisa.
É por estas e por outras que venho ao Clube... há sempre alguma coisa que se aprende e se leva destas sessões.
Obrigado ao Passeur!
domingo, 14 de junho de 2020
Viagem grátis à Escócia! Não percam!
terça-feira, 2 de junho de 2020
João de Araújo Correia - Olga Pires
O mistério manteve a sua camada de aparência na primeira pergunta que nos fez: “se eu vos falar num médico, escritor do Douro, quem vos vem à ideia?” As respostas foram tímidas e parcas. E percebendo que não chegaríamos lá, a Olga devolveu-nos um nome – João de Araújo Correia. O desconhecimento geral proporcionou uma daquelas sessões que nos fazem terminar o dia com a certeza de que iremos acordar mais ricos e mais curiosos com novos caminhos. Juntos, temos então a nossa “terra de consortes”.
João de Araújo Correia nasceu em 1899, em Canelas, nesse paraíso natural que é o Peso da Régua. Entusiasta da grande literatura do seu tempo, acaba por se licenciar em Medicina, na cidade do Porto, sob a orientação do humanista Abel Salazar, profissão que exercerá como um “João Semana” ou, como diria mais tarde o seu neto, um “Robim dos Bosques da Medicina”. E, não obstante a sua dedicação à medicina, que jura ser acidental, e o seu amor pelo Porto, como se lá tivesse nascido, é a Canelas que regressa com a mulher e os seus cinco filhos, vítima dessa doença que tantas vezes nos assombra o espírito – “um cansaço extremo” -, dedicando-se àquele que considerava ser o seu verdadeiro ofício, o de escritor.
Influenciado pelo génio de Camilo, seguindo trilhos traçados por Trindade Coelho ou Mestre Aquilino (este que acabaria por dizer que o mestre de todos era o próprio João de Araújo Correia), o escritor concentrou-se nas idiossincrasias do povo, nos regionalismos e na natureza e foi assim quem em 1936 escreveria um opúsculo de linguagem médica popular do Alto Douro. Colaborou com diversos órgãos da imprensa, local e nacional, e compôs uma colectânea com esses contributos, contos e crónicas, publicando-os sob o nome “Sem Método – Notas sertanejas”.
O seu realismo naturalista chamou a atenção de grandes críticos literários da época, como Urbano Tavares Rodrigues ou João Bigotte Chorão. Este último tornar-se-ia no grande estudioso da sua obra, apontando a singularidade da sua escrita, a pureza e correcção da linguagem e o domínio exemplar da língua portuguesa. Araújo Correia afirmava, então, uma capacidade invulgar para transformar a linguagem popular em literatura, explorando diálogos, modos de vida e perspetivas do real, da realidade que foi observando enquanto homem e médico. A sua sensibilidade é angustiante.
A sua obra é, também, resultado da sua insistência em explorar a sua origem matricial, onde garante que todos encontramos a universalidade, sem precisar de sair pelo mundo. Esta ideia, presença constante da sua literatura, confirma-se na descrição exata dos elementos naturais, da imensidão dos regionalismos e na exploração da essência do ser humano, lembrando outros autores como Afonso Duarte, Aquilino, Torga ou Fernando Namora.
A sua inquietude e necessidade de divulgar a sua obra e a de outros autores com menos acesso ao mundo editorial fê-lo criar a editora Imprensa do Douro, ainda hoje em actividade, apesar de menos ligada à literatura. Essa sua intervenção é, talvez, o motivo para ainda hoje existir uma tertúlia no Peso da Régua com o seu nome, que se dedica à divulgação da sua obra, através de conferências e debates ou através da publicação de obras suas já há muito esgotadas e desaparecidas do alcance do grande público. Apesar dessa dificuldade de publicação, João de Araújo Correia é um dos autores do Plano Nacional de Leitura e o seu nome foi atribuído à escola secundária, onde a nossa anfitriã, Olga Pires, estudou. E eis um bom motivo para terminar esta já enfadonha crónica.
Não sei distinguir, ao certo, o momento em que a paixão da Olga se metamorfoseou. É, aliás, difícil dizer com toda a certeza se a Olga nos quis falar de João de Araújo Correia ou se, através das suas palavras e da sua missão, quis connosco partilhar a sua paixão pela raiz da sua essência – o Peso da Régua. E, na verdade, isso é um pouco indiferente, na medida em que tudo isso se mistura em nós com naturalidade: a nossa linguagem; o cheiro da terra; o som do vento nas árvores; o quotidiano das nossas gentes; os costumes que reconhecemos e que tantas vezes nos colocam dilemas entre um tempo outro e o nosso tempo. Mas é na raiz dessa essência e na crónica do tempo que passa que a identidade é matriz dos símbolos – esses símbolos que ostentamos no peito e que cativam o olhar dos outros na rua que conduz à porta da nossa casa.
terça-feira, 19 de maio de 2020
Gin
quarta-feira, 6 de maio de 2020
A safra pelo conteúdo, no regresso do Clube
Lima de Freitas, gravura para o livro Olhos de Água de Alves Redol |
O que interessa é o conteúdo. A paixão, neste caso.
Tendo nascido em Vila Franca de Xira – um dos epicentros do neorrealismo – e vivido em S. Mamede de Infesta – onde está desde a juventude do Jorge a Casa-Museu Abel Salazar – pode dizer-se que é natural que esta paixão se desenvolvesse em alguém que se interessa pelas artes e pela cultura. Nesta jovem vida entre cidades (há nele uma paixão enorme por Lisboa, também), o Jorge descobriu um título que o podia descrever “Nasci com um passaporte de turista” aí pelos 14 anos, quando começou a ler – nas palavras dele –o livro o introduziu ao neorrealismo. Ainda no Porto.
Seguiram-se o “Gaibéus”, a descoberta do Carlos de Oliveira num poema da Antologia da Poesia Portuguesa do Eugénio de Andrade nas sessões de poesia do Pinguim.
Entretanto, em Vila Franca, onde ainda o ar guarda um cheirinho a domínio pela aristocracia rural, ao neorrealismo não era dado o destaque que o Jorge entendia que deveria ter, com a exceção do Museu do Neo-Realismo.
O fascínio ganhou, entretanto, contornos de paixão quando o Jorge deixou o Porto e, especialmente, o Pinguim. “O distanciamento fez-me perder vida cultural, tinha conversas que deixei de ter”, contou-nos, e no Museu do Neo-Realismo, com as suas publicações e exposições – “vi uma do Cunhal e fiquei doido com a capacidade de desenho de um homem que não tem formação em arte, a inteligência… e vi outras” – que motivaram a sua tentativa de sair do pelouro do turismo, onde trabalhava. “Consegui chegar ao Museu do Neo-Realismo”.
Rewind. Quem é que se oferece para escrever um post sobre a paixão de um grande amigo? Voluntarismo palerma!
Uma das coisas que aprendi com o Jorge nesta apresentação é que o neorrealismo só foi verdadeiramente conhecido depois do 25 de Abril, de tal forma foram perseguidos e censurados os seus representantes. Impedidos de publicar e de ensinar, os artistas que nasceram para a criação artística com o marxismo, a comuna de Paris e, sobretudo, a revolução popular na Rússia de 1917 foram considerados inimigos da imagem que o regime queria dar de si próprio e dos portugueses.
Com isso, nomes maiores da arte portuguesa ou feita em Portugal acabaram por ficar num segundo plano onde ainda hoje, nalguns casos, ainda estão confinados. Nomes como o de Afonso Ribeiro, quem conhece? Ou João José Cochofel ou Joaquim Namorado? Claro que Alves Redol, um dos mais completos escritores, Fernando Namora – em parte por causa da série televisiva Retalhos da Vida de um Médico – e parcialmente Carlos de Oliveira, por causa da poesia e do filme Uma Abelha na Chuva, chegarão a mais gente mas há um esquecimento que o Museu do Neorrealismo e o Jorge, em todas as ações públicas e com todas as pessoas que conhece, tenta dissipar. Como nesta sessão primeira da nova série do Clube dos Pinguins.
Quem é que se lembra de se oferecer para escrever os diálogos da quarta temporada de uma série de sucesso, a sério quem? E em isolamento, com a cabeça em água?
Seria curioso fazer esta sessão no campo, pegar em ferramentas e conversar sobre a vida, sobre o nosso dia-a-dia e encontrar aí a arte. Como o fez Alves Redol, como o fizeram os neorrealistas, os escritores, os pintores como o brasileiro Cândido Portinari, que quando veio a Portugal – por causa de um trabalho alinhado na Exposição do Mundo Português e a visão do Regime – foi ver a Lezíria, a terra do trabalho. E aí poderíamos perguntar ao Jorge, como Portinari perguntou a Mário Dionísio e Redol: “isto é tão bonito, os vossos pintores não pintam isto?”
Alguns sim. E pintavam o rosto do trabalho. E esculpiam, enquanto o deixaram José Dias Coelho - até ser assassinado. E desenhavam. E escreviam, como Soeiro Pereira Gomes que na Alhandra encontra os esteiros e as crianças que trabalhavam, explorados, os “filhos dos homens que nunca foram meninos”. E até filmaram, o Manuel Guimarães – que por isso acabou na miséria – ou o Fernando Lopes, que com uma linguagem diferente filma, contudo, o Uma Abelha na Chuva – ou os italianos, mas isso é outra história. Ou levaram ao teatro, como Bernardo Santareno, ou a música maior de mestre Lopes Graça.
E é assim? Acabas assim? Sim. Tenho 8700 caracteres de notas que disponibilizo a quem quiser e o Paulo tem o vídeo no Zoom, é só pedir. E deixo uma música que sei que o Jorge gosta.
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Da Ditadura à Democracia: uma abordagem conceptual para a libertação, sobre estratégias de luta contra ditaduras
Aproveito para partilhar uma série de vídeos gravados hoje no São Luiz Teatro Municipal de várias personalidades (Ricardo Araújo Pereira, por exemplo) a lerem excertos do mesmo livro e, já agora, a última edição do mesmo, em PDF. É de salientar que a editora Tinta da China editará o livro até ao final do ano, em português!
domingo, 17 de março de 2013
Uma imagem acutilante de um tal de video mapping...
Começámos de forma exemplar com um dos trabalhos do Águia. Como um pai que apresenta o seu filho, o mestre Águia ia descrevendo, pausadamente, o seu trabalho de forma efusiva. O gosto do Águia era por demais evidente e vinha à tona. Claramente estávamos perante uma verdadeira paixão. E como ele dizia... nada melhor do que fazer dinheiro com o que se gosta verdadeiramente de fazer.
Caros leitores atentos... para finalizar, nada melhor do que uma saída à Águia...