sexta-feira, 16 de junho de 2006

Sem rumo

Na passada 4ª feira, o Rui Vieira e a Cláudia trouxeram-nos uma sessão bem diferente do habitual. Trouxeram o local da trabalho às costas (qual tartaruga da Helena), e mostraram-nos o que fazem no seu dia-a-dia na rádio Costa Verde.

A sessão começou com as habituais apresentações, num formato diferente: um verdadeiro mix de apresentações e farpas, sendo que uma das farpas era sobre as quotas e a paridade, e não vinha mais a calhar porque, pela primeirissima vez, as mulheres superaram os homens no Clube dos Pinguins!!! Desculpem lá, mas eu tinha que falar sobre isto.

Estava a mesa preparada para a sessão, mas com uma luz vermelha que nos (me) intrigou muito. Pois é, era a luz “ON THE AIR”, que se iria acender brevemente, quando a Cláudia soltou para o microfone e o Rui para a técnica para nos maravilharem com o programa de rádio que fazem juntos, e que se chama “Sem rumo”. Um programa de autor e com substância, ao contrário do que muito se faz por aí. E porque um bom programa de rádio não se faz sem tema e sem um alinhamento, falou-se sobre a música intervencionista e com um alinhamento que ia desde o José Mário Branco até um Paco Ibañez, passando por Woodstock.


Musica de Intervenção (de resistência ou protesto), é música composta com o propósito principal de criticar qualquer coisa (normalmente com fins políticos). Em Portugal, ela é inevitavelmente relacionada com a resistência à ditadura salazarista e a nomes como José Mário Branco, Zeca Afonso e Sérgio Godinho (entre muitos muitos outros). Este movimento das décadas de 60 e 70, é também chamado “Canção Livre” que, penso eu, deve ser por oposição à repressão que a ditadura fez às caras deste movimento e às suas músicas. Destas canções livres, foi-nos dado a ouvir José Mário Branco com Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Adriano C. Oliveira com Trova do vento que passa, e uma cantora mais popular chamada Ermelinda Duarte com Somos Livres.

Mas, porque música de intervenção não se faz só em Portugal, fomos também a Woodstock ouvir Joan Baez, Janis Joplin e Bob Dylan. Em 1969 estava-se em plena Guerra do Vietnam, um conservadorismo político-social enorme, que os hippies do Peace and Love nao queriam para eles. Por isso, Woodstock será sempre conhecido como um movimento de protesto. Um aparte: infelizmente, estes hippies do peace and love e da liberdade (podem ler libertinagem), não transmitiram o mesmo aos seus filhos, e temos hoje uma América profunda, tradicional e ultraconservadora. Noto alguma hipocrisia no meio de tudo isto.

Por último foi nos dados a conhecer Mercedes Sosa da Argentina, Joan Manuel Serrat, Ismael Serrano e Paco Ibanez (lindíssima esta canção Me lo dicia mi abuelito) de Espanha. Eu escrevo aqui estes nomes, para que vocês os retenham na vossa memória e procurem músicas deles. Vale verdadeiramente a pena.

Embora a sessão fosse sobre rádio, o que o Rui e a Cláudia nos trouxeram foi muito importante, quanto não seja, por nos fazerem lembrar que há pessoas que viveram e vivem oprimidas por protestarem com a sua voz e a sua música. Hoje em dia, temos uma música de intervenção diferente. Não contra governos e ditaduras, mas contra uma sociedade capitalista e consumista, que é igualmente opressora. Penso que temos como exemplo disso o algum hip-hop que se faz em Portugal.

Uma coisa é certa: houvesse mais radialistas como o Rui e a Cláudia, e o panorama de rádio português seria bem diferente. Eu, pelo menos, ouviria muito mais rádio!

6 comentários:

Unknown disse...

Nunca é demais referir que cada sessão é uma surpresa e das boas! É comum dizer que as melhores surpresas são aquelas com que não contamos. Pois, aqui nós estamos sempre à espera de alguma coisa e somos sempre surpreendidos!

O Rui, passado tanto tempo desta nova vaga do Clube conseguiu finalmente apresentar uma sessão e como não queria desiludir os seus co-pinguinianos, já que nos habituou com tanta qualidade no blog, fez uma sessão fabulosa, com uma paixão que é partilhada por muitos, suponho.
E para isso contou com a colaboração da Cláudia, que para quem não conhecia muito bem, como eu, foi uma enorme surpresa (é uma colega, tá tudo dito :P).

O texto da Luísa, que se estreou na arte dos resumos, é um exemplo bem concreto do que se passou na cave! Claro que aquela parte da supremacia das mulheres está incorrecta até porque elas começaram a retirar-se bem cedo! Mesmo assim os parabéns por tão bem conseguida exposição!

Nota: Para quem dizia que o Clube estava a morrer, devia ter visto aquela sala na 4ª feira. Obrigado a todos. Na próxima semana vai-me ser impossível ir e por isso peço desculpa à Marta, mas desejo-lhe as maiores felicidades para a sua apresentação sobre o Dr. Rui Rio e os seus feitos heroicos!

Rui Spranger disse...

Cara Luisa, os meus parabens! Embora nao tendo estado na sessao fiquei com o teu resumo, com uma ideia bastante clara desta. Eu sabia que a sessao ia ser boa e aqui ficou a prova disso. Parabens Claudia e Rui!
Desculpem estar a escrever sem acentos mas nao me entendo com este teclado polaco. Ja agora, as ferias estao a ser optimas e destaco sobretudo uma exposicao que vi em Varsovia sobre Fernand Leger e outra com o titulo "O Teatro Impossivel" onde entre varios nomes constava o de Tadeuzs Kantor, criador que me levou a visitar a polonia e foi extremamente emocionante para mim ver o cenario de uma das suas encenacoes mais famosas, "A Classe Morta". Ainda houve tempo para ir visitar a world press photo, exposicao que perdi quando esteve na Maia.
Neste momento, escrevo de Cracovia, onde so tive tempo para apanhar uma grande borracheira ontem e para acordar hoje de ressaca!

Beijos e abracos

Marta Araújo disse...

Obrigada ao Rui e à Cláudia pela fantástica e surpreendente sessão que levaram a cabo na passada quinta-feira. Mas obrigada principalmente pelo facto de me terem feito recordar uma das minhas grandes paixões: a rádio.Mas mais do que isso obrigada pelo conteúdo da mesma que, ao fim e ao cabo, acabou por nos levar para rumos vários, como foi, e a título de exemplo, a análise do grupo sobre o actual panorama radiofónico nacional. De facto a próxima sessão, que decorrerá na próxima terça-feira, será conduzida por mim, e em jeito de reposta ao post do Jorge Carvalho, fiquem descansados e descansadas por que uma coisa é certa, não irei falar sobre Rui Rio. A propósito... afinal quem é Rui Rio? Até terça...

GRaNel disse...

Pois, eu sou um dos faltosos. Assumo, e peço desculpa, mas era-me completamente impossivel estar presente. Fico com pena, com muita pena.

Pelo que a Luisa aqui nos ilustrou, a sessão deve ter sido realmente apaixonante. Os meus sinceros parabens ao Rui e à Claudia e um renovado pedido de desculpas.

Para a Luisa, esperemos que este seja o primeiro de muitos posts. Gostei bastante do texto, que teve a capacidade de me transportar para a nossa "cova".

Por último, um beijinho às meninas pela vossa numerosa presença. Rapazes, já sabem, terça-feira, todos ao Clube

Rui Vieira disse...

Tive de mandar reparar o meu pc por acumulação de baba após o post da Luísa, mas parece que já recuperou... hehehe
Obrigado pelas palavras que me/nos dedicaste, mas permite-me apenas duas correcções.
a 1ª, porque a César o que é de César: O Sem Rumo é um programa da autoria da Cláudia, pelo qual eu me apaixonei e convosco quis partilhar o prazer que sinto em fazer a parte técnica;
a 2ª, infelizmente fazer rádio é apenas um hobby...
Amanhã, 3ª fª, voltamos ao Clube para descobrir uma outra paixão, e já é grande a ansiedade.

António Manuel Rodrigues disse...

Só posso agradecer ao Vieira por um regresso em força e pedir desculpa pela minha mini visita, a radio é um meio de partilha de paixões e acho que não preciso dizer mais...