segunda-feira, 19 de junho de 2006

Diário de Viagem I

Sempre gostei de visitar cemitérios...
Muita gente pode achar estranho, ou mórbido, ou outra coisa qualquer.
Mas apesar da morte que inevitavelmente está presente nestes locais, está também presente o amor.
Nunca me esquecerei de um túmulo que vi no Pére Lachaise em Paris. Uma pirâmide enorme com dois textos gravados na pedra, um do marido e outro do pai da senhora ali enterrada. O túmulo, com mais de cem anos, ja não guarda concerteza corpo nenhum, mas regista a existência passada de alguém e sobretudo o amor que lhe foi dedicado em vida.

Ontem estive nos dois maiores cemitérios do mundo.
Neles não está registado o amor, apenas o NÃO ESQUECEMOS!
E é fundamental não esquecer o HORROR!
E é importante ir-se lá, mesmo que durante horas fiquemos com um nó na garganta, as lágrimas nos olhos e com raiva, muita raiva...
Raiva pela atrocidade cometida no tempo dos nossos pais, raiva dos turistas a tirarem fotografias a sorrir ou a deixarem latas de cerveja em cima de camas ou a deixarem registado nas paredes um idiota Paul 2005, ou outro nome qualquer, ou outra data qualquer...

Mas também há as poucas coroas de flores... " Para as criancas que aqui morreram, nós nunca as esqueceremos!" e apetece chorar e esquecer aqueles rostos, mas há que lutar para se não esquecer nunca que existiu

KL AUSCHWITZ I
KL AUSCHWITZ II - BIRKENAU

9 comentários:

Unknown disse...

Partilho contigo este gosto que não me parece nada mórbido! A celebração dos que por cá passaram e a merecida homenagem, seja amor ou reconhecimento.

Na minha cidade, Vila Franca de Xira, há um culto interessante à volta daqueles que deram a sua vida à cidade e muito especialmente à tauromaquia e como tal as campas são de uma beleza ìmpar, viradas para o Tejo e para a Palha Blanco (a Praça de Touros de Vila Franca).

Quanto ao horror a que assististe... nós não nos esquecemos... espero eu!

Espero que nos continues a relatar as tuas viagens Gullivert. Boas férias!

Cláudia S. disse...

Também partilho o mesmo gosto por cemitérios, foi através deles que descobri a minha paixão pela escultura, já fui visitante assídua do "Prado do Repouso" e do cemitério de Argamonte onde podemos encontrar as obras dos melhores escultores do Romantismo em Portugal.

Concordo com o Jorge e espero que continues a contar, aqui no blog, o que vais vendo por aí.
Beijinhos e muita vodka.

Rui Vieira disse...

Há cemitérios que apesar da dor carregada pelos entes queridos nos transportam para uma serenidade desconcertante. Talvez seja por nos ENCONTRARMOS.
Outros há, que por mais que fechemos os olhos não deixamos de sentir o amargo sabor da estupidez humana. Também esses precisam de ser visitados e constantemente recordados.
Continuação de boas férias e esperamos pela sequela do Diario de Viagem.

Unknown disse...

Nem de propósito, a música do blog até parece propositada para este tema. Às vezes mais vale nem acordar e pensar que tudo está bem.

GRaNel disse...

Tinha de ser eu... fica sempre reservado para mim este lugar. Tenho de ser sempre eu... o do CONTRA.

Eu detesto cemitérios. E detesto-os a todos. Mal por mal, gosto do estilo americano - sem dúvida menos carregado e fundamentalmente terreno melhor aproveitado.

Quanto a AUSCHWITZ, não se pode considerar um verdadeiro cemitério. É mais um marco que glorifica o sofrimento do povo judeu e uma montra de tudo quanto não devemos fazer.

Obrigado Rui, por nos proporcionares mais este momento de reflexão aqui no blog.

Boas férias e vai contando as peripécias. Como vês, até em viagem tens a plateia atenta... grande abraço

josé pedro ferraz disse...

caro Miguel, discordo quando dizes que AUSCHWITZ nao se pode considerar um verdadeiro cemiterio, ainda hoje estao sepultados anonimamente milhares de judeus, os locais estao assinalados e as suas cinzas permanecem para nos recordar os horrores do holocausto, um abraco,

jose pedro ferraz

(peco desculpa pela falta de pontuacao mas escrevo de um teclado estrangeiro)

Hugo Valter disse...

Rui, eu sei o que deves ter sentido porque também já lá estive. A magnificiência de Birknau deixa qualquer um de rastos, aterrorizado e infinitamente pequeno em relação ao mundo.
Também me irrita a descontração e frieza dos turistas a tirarem fotos com a cabeça dentro dos crematórios todos sorridentes, sem pensarem sequer na atrucidade que aquele objecto representa e nos milhares de pessoas que por ali foram queimadas...
Muito se pode falar de Auschwitz, mas nada se compara a estar lá e ver com os próprios olhos, principalmente em Birknau...

António Manuel Rodrigues disse...

A memória de Auschwitz e Auschwitz-Birkenau não se esquece, Birkenau é um dos maiores cemitérios da humanidade, lá estão centenas de milhar de pessoas. Partilho com o Rui esta melancolia pelos cemitérios, nestes antigos campos de concentração a sensação é desconfortavel, da memória das pessoas fica-nos o seu sofrimento dos ultimos dias, não conseguimos encontrar o amor, apenas o respeito anónimo pelo desconhecido, apenas ao passar os olhos pelos nomes e pelos rostos, que podemos encontrar em Auschtiwz I, identificamos o "nosso proximo".
Cracóvia é uma cidade belissima para visitar, excelente para férias, e para conhecer os campos de Auschwitz basta perder uma tarde (ou talvez não...)

hörster disse...

Cemitérios são, sem dúvida, locais de sentimento, muito sentimento. Amor, saudade, raiva, vingança... São também locais de histórias, cada campa com as suas histórias, e inúmeros sentimentos dentro dessas histórias.
Auschwitz é um local cheio de sentimento e com a particularidade de todas as campas partilharem uma mesma história, e essa história é-nos conhecida, e é uma história de horror. Sendo-se sensível, será impossível passar por este local sem sentir uma imensa emoção, infelizmente muito pesada e carregada de dor.

Mil beijos para ti, Rui!