Na forma de diário ou apenas resenha de pensamentos, este livro conta-nos o último dia de vida de um condenado à guilhotina. Na 1ª pessoa, atravessamos a mente de um criminoso prestes a ser executado.
Em ponto algum desta obra somos confrontados com o crime em causa, em ponto algum isso se torna importante. Esta é uma história de ansiedade, de balanço, de sede de viver e de abandono.
Em “O último dia de um condenado” é-nos dado a conhecer um Homem, apenas isso.
Agora a noticia é maior que a própria morte. Não morreu em silêncio, manteve-se “honrado” e à humilhação e aos insultos respondeu rezando.
Agora é um americano que nos fala dele dando pão aos pássaros, regando as ervas do pátio e nos lembra que também ele foi pai.
Agora, se dúvidas havia, garanto-vos que também foi filho!
Afinal... Somos confrontados connosco próprios e com a nossa humanidade!
Afinal... É nos Homens que a maldade se encontra!
Afinal... Não executaram um monstro, mataram um Homem!
3 comentários:
Eu já dei a minha opinião àcerca deste assunto, como defensor da função ético-social do direito penal.
Gostava apenas de reagir e considerar a relação de Salazar com os outros infeliz. O Estado Novo era uma autocracia e como tal não cabe no lote de ditaduras (strictu sensu). Comparar um regime paternalista ou até castrador a uma ditadura genocida não me parece justo.
Mesmo assim, todos os homens merecem ser julgados dignamente, já nem falo na execução. Veja-se o caso de Milosevic cujo julgamento foi, no mínimo, discutível no que diz respeito ao rol de testemunhas.
Segundo o entendimento de alguns, o fim do direito penal é o de protecção dos bens jurídico-penais. Quando se fala em fins da pena está-se, em rigor, a falar de fins-meios e não de fim-último. Aqui podemos obviamente falar do caracter preventivo da lei penal e da sua função ressocializadora.
Fala-se, assim, de um critério universal e não es+pecífico, que não se centra na culpa mas sim na necessidade de protecção de bens-jurídicos (vida, integridade física, etc.)
Como já disse no post do Jorge, nenhuma das soluções que pudesse vir a ser adoptada seria consensual. Sendo assim,parece-me de bom senso acreditarmos que quem o julgou, julgou de forma rigorosa e livre de pressões. Tambem eu não concordo com a pena de morte mas daí a dizer que ele morreu como um mártir vai uma grande distância. Não é uma corda mais apertada que limpa todas as atrocidades de um homem (que insisto em escrever com h pequeno).
Dizer que se executou um homem e não um monstro, é no meu ponto de vista a extrema simplificação de algo que não é nada simples.
Saddam antes de ser ditador, pela mera observação empírica, era um homem. Mas bastará ter cabeça, tronco e membros para ser considerado um Homem? Não existe uma conduta, um conjunto de principios tranversais a todas as culturas que caracterizam o Homem na sua real acepção?
Há muitos (demasiados) actos na sua vida que contrariam o principio de Humanidade, por isso não me peçam para deixar de o considerar um monstro.
As linhas acima escritas não me tornam um defensor da pena de morte,nem tampouco da autoridade do tribunal que o condenou, simplesmente alertam para a perigosidade em simplificarmos demasiado os problemas.
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