quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

O último dia de um condenado, de Victor Hugo

Na forma de diário ou apenas resenha de pensamentos, este livro conta-nos o último dia de vida de um condenado à guilhotina. Na 1ª pessoa, atravessamos a mente de um criminoso prestes a ser executado.
Na mestria de Victor Hugo chega-nos um texto humano e extremamente íntimo. Em tempos, duvidou-se da sua autoria, pondo-se a hipótese de ser um relato verídico.
Em ponto algum desta obra somos confrontados com o crime em causa, em ponto algum isso se torna importante. Esta é uma história de ansiedade, de balanço, de sede de viver e de abandono.
Em “O último dia de um condenado” é-nos dado a conhecer um Homem, apenas isso.

Já muito se tem falado da execução de Saddam. Toda a gente sabia que a pena de morte o iria transformar num mártir. Toda a gente dizia “os contras” de uma pena capital. O que se sabia, mas não se dizia, era que Saddam, antes de um ditador, criminoso ou assassino, era um Homem, como Hitler, Estaline ou Salazar.

Saddam morreu! E o mundo dividiu-se entre “ainda bem” e “não devia ter sido assim”. Mas bastou um telemóvel e o mundo chocou-se, as palavras fizeram-se imagens!
Agora a noticia é maior que a própria morte. Não morreu em silêncio, manteve-se “honrado” e à humilhação e aos insultos respondeu rezando.
Agora é um americano que nos fala dele dando pão aos pássaros, regando as ervas do pátio e nos lembra que também ele foi pai.
Agora, se dúvidas havia, garanto-vos que também foi filho!

Teria sido tão mais pacífico, para a consciência do mundo, “saber” que Saddam morreu em silêncio e que “nos seus olhos se via medo”...

Afinal... São sempre criminosos que executam os criminosos!

Afinal... Somos confrontados connosco próprios e com a nossa humanidade!

Afinal... É nos Homens que a maldade se encontra!

Afinal... Não executaram um monstro, mataram um Homem!

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu já dei a minha opinião àcerca deste assunto, como defensor da função ético-social do direito penal.
Gostava apenas de reagir e considerar a relação de Salazar com os outros infeliz. O Estado Novo era uma autocracia e como tal não cabe no lote de ditaduras (strictu sensu). Comparar um regime paternalista ou até castrador a uma ditadura genocida não me parece justo.

Mesmo assim, todos os homens merecem ser julgados dignamente, já nem falo na execução. Veja-se o caso de Milosevic cujo julgamento foi, no mínimo, discutível no que diz respeito ao rol de testemunhas.

Segundo o entendimento de alguns, o fim do direito penal é o de protecção dos bens jurídico-penais. Quando se fala em fins da pena está-se, em rigor, a falar de fins-meios e não de fim-último. Aqui podemos obviamente falar do caracter preventivo da lei penal e da sua função ressocializadora.
Fala-se, assim, de um critério universal e não es+pecífico, que não se centra na culpa mas sim na necessidade de protecção de bens-jurídicos (vida, integridade física, etc.)

GRaNel disse...

Como já disse no post do Jorge, nenhuma das soluções que pudesse vir a ser adoptada seria consensual. Sendo assim,parece-me de bom senso acreditarmos que quem o julgou, julgou de forma rigorosa e livre de pressões. Tambem eu não concordo com a pena de morte mas daí a dizer que ele morreu como um mártir vai uma grande distância. Não é uma corda mais apertada que limpa todas as atrocidades de um homem (que insisto em escrever com h pequeno).

Rui Vieira disse...

Dizer que se executou um homem e não um monstro, é no meu ponto de vista a extrema simplificação de algo que não é nada simples.
Saddam antes de ser ditador, pela mera observação empírica, era um homem. Mas bastará ter cabeça, tronco e membros para ser considerado um Homem? Não existe uma conduta, um conjunto de principios tranversais a todas as culturas que caracterizam o Homem na sua real acepção?
Há muitos (demasiados) actos na sua vida que contrariam o principio de Humanidade, por isso não me peçam para deixar de o considerar um monstro.
As linhas acima escritas não me tornam um defensor da pena de morte,nem tampouco da autoridade do tribunal que o condenou, simplesmente alertam para a perigosidade em simplificarmos demasiado os problemas.