Há já alguns dias que esta história me vem incomodando...
Hoje não resisti e cá fica a opinião de uma outra pessoa:
Leie justiça
de Manuel António Pina, in JN
O facto de certas decisões judiciais confrontarem sentimentos elementares de justiça da sociedade é uma das causas da perda de autoridade da lei e do descrédito dos juízes. A condenação a 6 anos de prisão, por um tribunal de Torres Novas, de um homem cujo "crime", à luz da consciência moral comum, foi amar uma criança abandonada pela mãe e esquecida pelo pai, que ele criou como filha desde os três meses de idade, a ponto de preferir a cadeia a entregá-la a um desconhecido (o pai biológico, que só apareceu a reclamá-la anos após ela ter sido entregue para adopção), põe em crise não só o consenso entre o cidadão e a lei como a sua confiança na própria "Justiça". "Deve o cidadão - pergunta Thoreau - desistir da sua consciência, mesmo só por um instante e em última instância, e dobrar-se ao legislador? Por que é então o homem dotado de consciência?" Quando a lei é injusta, o lugar dos justos é na prisão, mas, mais do que com a lei (que, aliás, previa meios para que tivesse sido feita justiça), Luís, o pai adoptivo, está, como Sócrates, em desavença com os juízes, e também ele se ofereceu à cicuta. Decerto nunca terá lido Thoreau (nem Rawls), mas o seu gesto de desobediência civil situa-se no eixo central do próprio fundamento moral da democracia.
Isto depois de um agente de autoridade, na sequência da morte acidental de um cidadão, ser condenado a uma multa de 720 euros (até do valor me lembro...).
Este post (enquanto esperam pelo outro) é a catarse de uma pergunta: Por que é que isto me incomoda?
E a vocês?
5 comentários:
fico incomodado é em ver opiniões que partem de permissas erradas ou incompletas, i. é, o pai biológco, segundo sei, só aparece a reclama-la anos após ter sido dada para adopção porque só nessa altura ficou judicialmente clarificada a sua paternidade. A mãe biológica não revelou quem era o pai e o que sucede subsequentemente é 1 processo de averiguação da paternidade. Esta última senhora, 15 dias após o parto já estava a dar para adopção a criancinha, ocultando apaternidade.
Deixo só 1a questão: se fosse teu filho biológico, te tivessem ocultado a paternidade, tivessem dado o teu filho para adopção e só poosteriormente soubesses dela, querias ou não exercer esse poder/dever que é a educação de teu filho?
desculpa antónio a falta de assinatura. aqui vai
luis meireles
Este é um dado que sem dúvida altera muito a história. É evidente, e a ser verdade este novo dado, que o pai biológico tem direitos e pode ter a vontade de deter a custódia da criança mas é inegável que quem a acolheu, criou e educou até agora também tem uma palavra importante...
Mas afinal o que é ser pai (ou mãe...) ? Educar o seu filho... sem dúvida um dever, um desafio e um enorme prazer! Vê-lo crescer, sorrir e chorar e partilhar os momentos simples e únicos como a primeira palavra, a mãozinha que nos aperta com receio no primeiro dia de aulas,entre tantos outros! E, com toda a certeza, que a dor de ser privado destes tesouros é enorme num pai que ame o seu filho. Mas o que fazer quando, para suprir a dor da ausência que um pai sente, este cause a dor, a confusão e todas as marcas que irão acompanhar a criança que foi arrancada ao seu lar, às pessas que ama, sem perceber o que fez de errado para merecer tal castigo? Isto faz me lembrar a história das duas mães e do Rei Salomão. Pai/mãe é quem ama o seu filho acima de si mesmo e opta por sofrer, em vez de causar sofrimento aquele que ama. No meio desta batalho judicial, quando de novo se levanta a espada do rei, quem abdica em favor da felicidade desta criança?
A versão que eu conheço é um bocadinho diferente, mas independentemente dos pormenores da história, o que é certo é que estas situações, assim como muitos dos casos de aborto, acontecem pela desresponsabilização do acto sexual.
Quem anda à chuva, molha-se.
E se és Homem e andaste à chuva, certifica-te se não existe colheita durante as seguintes 37 semanas.
E se este pai biológico tivesse noção da responsabilidade dos seus actos, de certo que não ignoraria a sua condição de pai biológico.
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