Ingredientes:
1 individuo do sexo masculino;
Idade entre 41 a 45 anos;
Altura entre 1,75 e 1,80m;
Olhos e cabelo castanho com tez morena;
Situação familiar estável;
Carreira profissional de sucesso na área da gestão;
Partido politico de renome.
Modo de preparação:
Coloque-se o individuo numa redoma sem contacto com o público durante algum tempo. Tempere-se com perseverança, confiança, optimismo e bondade q.b. Junte-se jornalistas que lhe corrijam a espontaneidade, a dicção, a linguagem gestual e até o discurso. Largue-se numa pequena plateia e corrija-se o caminhar e a postura.
Após esta preparação leve-se a um congresso do partido a fim de ser aclamado entre os seus pares.
Esta pequena alegoria baseia-se nos elementos que a Marta nos apresentou na sua última sessão. A sua paixão desta vez, deu-nos a descobrir os meandros do Marketing político (MKT pol).
Iniciando por nos mostrar a imagem de um perfeito desconhecido, apresentou-nos o 1º ministro ideal, segundo uma sondagem levada a efeito em 2004 para o seu curso de MKT pol. Foram algumas dessas caracteristicas que utilizei nos ingredientes da alegoria e que nos indiciam que nada pode ser deixado ao acaso quando se pretende “fabricar” um 1º ministro.
Embora o MKT pol tenha dado os seus primeiros passos nos EUA na década de 50 com a eleição do General Eisenhower, só no final do século chega a Portugal com um trabalho verdadeiramente sistemático, a eleição de António Guterres.
Foram meses de preparação onde tudo foi revisto. A.Guterres perdeu 15 kg., tirou o bigode, aprendeu a falar sem fazer caretas ou esticar os braços. Deixou de usar calças compridas porque acentuavam a sua baixa estatura e passou a usar fato escuro, camisa com riscas e gravata rosa ou laranja de nó estreito. Passou ainda por 58h de simulação de debate televisivo, corrigiu a dicção para rádio, aprendeu a usar sound-bites (frases curtas, à maneira de propaganda) e reviu a sua postura junto dos jornalistas, começando a olhar para o jornalista em vez do microfone.
O resto nós já conhecemos, foi eleito à 1ª e serviu o país durante cerca de 6 anos, interrompendo o seu 2º mandato visivelmente desgastado. Diria a equipa de MKT pol que o preparou ter criado um “sabonete”, mas não um politico. Entre o politico e a sua equipa de MKT politico deve existir um casamento dificil de suportar, mas necessário em todos os momentos. Em Abril de 2002, pediu o divórcio e afastou-se da politica nacional.
Em 2004, a mesma equipa de MKT pol. volta a contrair matrimónio. O eleito foi José Sócrates e avizinha-se um casamento para durar. Tal como Tony Blair está para o Labour, Socrates está para o PS. Indiferente aos interesses particulares do partido que o escolheu, tem uma missão a cumprir e pretende representá-la da melhor forma possivel.
Os erros cometidos na era Guterres não seráo repetidos. Sócrates sabe quem é o seu eleitorado e trabalha-o a preceito. Com manobras de charme para os grandes centros urbanos, substitui a ideologia pela tecnocracia, e favorece a propaganda em detrimento do esclarecimento. São os sound-bites do MKT pol que ouvimos ressoar.
Sócrates é o melhor produto que o MKT pol podia encontrar. Pouco há para corrigir. A postura é irrepreensivel, pese embora o olhar que por vezes trai o discurso. O seu estilo “nouveau et interessant” insinua-se ao eleitorado masculino e feminino e agrada ao eleitorado.
Sócrates “vai bem com o minimalismo da arquitectura de Siza ou o pós-modernismo da Bica do Sapato”. Que mais há a dizer sobre um casamento de MKT pol em que o cônjuge é retratado de forma tão sofisticada?
Ainda sobre a sessão cumpre-me realçar a árdua tarefa que a Marta enfrentou. Num tema destes é dificil conter as opiniões e cada um dos presentes tinha algo a comentar, questionar ou acrescentar. A (in)disciplina reinou, mas a Marta lá ia saltando do seu plinto improvisado, quebrando o formalismo, para de novo retomar o discurso e levar a sessão ao seu termo. Faltou apenas a música no final para terminar em apoteose :)
3 comentários:
A progressiva falta de interesse e futilidade dos povos ocidentais fazem com que esta ttenha de ser a estratégia. A culpa parece-me que não morre solteira e todos nós casamos com ela.
Embora não tenha podido aparecer dou os meus parabéns à Marta pela escolha do tema e pela paixão, pois faz-nos compreender melhor o admirável mundo novo.
Ao Vieira nem é preciso dizer nada. Compreendi-te! (como diria o nosso Vasco Santana).
Curiosamente, na quarta-feira (um dia depois da sessão) estive a ver um documentário sobre o tema na 2:. Nele, Joe Napolitan, um dos pais do Marketing Politico, dizia, após ter ganho inúmeros campanhas e ter moldado inúmeros sabonetes: - Todos sabemos que está errado e todos gostávamos de voltar aos bons velhos temposmas tambem todos sabemos que não dá. Este remorso e saudade deixa bem patente o vazio em que caímos e continuaremos a cair. É que a politica tornou-se num jogo. E não é licito brincarmos com as pessoas e com o destino do país.
De qualquer forma e para que não fiquem duvidas, devo dizer que gostei bastante da sessão e desde já me penitencio pelo "mau comportamento". Obrigado Marta pela sessão e muitos parabens pela escolha.
Parabens extensivos ao Rui por mais este brilhante post (nada que tambem já não estivéssemos à espera)
Nada mais tenho a acrescentar... Mais uma excelente sessão do Clube acompanhado por um post que merece a mesma adjectivação.
Parabéns aos dois.
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