domingo, 30 de julho de 2006

finalmente...


É verdade que vivemos num país que atravessa momentos dificeis que nos levam a tudo criticar e a olhar sistematicamente para o que a vida nos traz de pior. Mas não é menos verdade, que vivemos numa cidade e numa região que há muito nos habituou a reagir de forma positiva e enérgica às adversidades. E é nesse contexto que hoje vos trago a história da “Coisa” como Rui Veloso apelidou. É uma história feliz, ou pelo menos assim se espera, com um principio triste triste triste. Devo recordar que o edificio foi encomendado ao arquitecto catalão Solà-Morales pela Porto 2001 e até hoje tem estado votado ao abandono (muito provavelmente poque quem o encomendou tambem não sabia bem para que é que o queria). Este é um exemplo gritante do que é pôr dinheiro em sacos sem fundo geridos por pessoas cultas. Por outras palavras, dar fundos (e que fundos!!!) para fins culturais sem pedir nada em troca. Pois bem, eis que o edificio passa para a posse da Câmara Municipal do Porto e prontamente é concessionado – privatizado portanto. O que é certo é que, e segundo o anuncio da concessionária, o edificio abrirá ao público em Novembro deste ano.

O projecto de remodelação, do arquitecto Portuense Carlos Prata, visa preparar o edificio para utilização durante os 365 dias (podendo mesmo chegar aos 366, lol) do ano. No Inverno estará coberto inteiramente por janelas e paineis de vidro, devidamente climatizado e no Verão, completamente arejado. Esta cobertura permite tanto o conforto dos utilizadores como manter a vista soberba que o edificio nos proporciona.
O edificio comportará inumeros espaços de restauração, bares e até um bar-disco (situado no piso (-1) da praia). No piso 1 ficará situado o jardim de Inverno e a Box in the Box, que consitirá num cubo em vidro e aço destinado a um espaço cultural tipo “fnac”. O edificio comportará ainda uma área de escritórios e um salão de eventos. O orçamento da remodelação é de 15 milhões de euros e há a previsão da criação de 500 postos de trabalho directos.

Perante estes dados, pergunto-vos se a gestão privada, rigorosa e com fins bem definidos não será uma benção para a nossa cidade ou se por outro lado, devemos continuar a injectar verbas para os ditos “cultos” esbanjarem a seu bel-prazer.

quarta-feira, 26 de julho de 2006

conversas de café

Clube dos Pinguins: O Pinguim
o pinguimcaffé foi de novo o encontro doce dos amigos numa mesa de opiniões cheias de calor e emoção.O Tó Rodrigues é um dos mais convictos residentes,sempre mortinho por se revelar um pouco mais,é um apaixonado pela vida e transparece-o.O Jorge é o General com voz sonante e eloquente,um poço de conhecimentos.A Helena atenta é uma optima auxiliar quando nos falta um termo para qualificar ou embelezar uma frase.O Hugo Valter passa o tempo a sorrir e a rir é contagiante.O Miguel Ângelo é um preocupado com os outros e com as horas de trabalho,o verdadeiro empresário.Eu sou dos mais chatos mas em competição aberta com o General.Aos que não compareceram um cumprimento respeitoso e saudoso e até já.Escrevam no blog durante o defeso para não perdermos a veia critica a que o clube nos viciou.

terça-feira, 25 de julho de 2006

O Pinguim

O nosso Cheers
"Where everybody knows your name and they're always glad you came"

Pois é verdade... Os pinguins vão de férias!
Mas as terças continuam (enquanto o Paulo não decidir ir de férias também) com noites de copos e convívio no espaço do costume, e o clube continua a respirar aqui no blog. Por isso esperam-se colaborações, sejam diarios de férias, farpas ou desabafos existenciais...

Esta ultima sessão sofreu um pequeno revés... Não houve apresentador, pelo que optamos por uma sessão conjunta de uma paixão comum. Qual noite de copos entre amigos onde os temas de conversa vão ondulando ao sabor das mentes...

A noite começou com as costumeiras farpas, alongadas pela ausência de regras e pela conhecida sede do Jorge. Começando pela morte de Syd Barret, passando pelo processo de Bolonha (que levou à responsabilidade académica), até às questões da imigração e direito à nacionalidade, com Calouste Gulbenkian pelo meio e terminando no actualissimo conflito Israel-Líbano...

E chegamos então (já avançados na noite, com tudo o que isso significa) à sessão: O Pinguim!
Todos os presentes tiveram oportunidade de manifestar a sua opinião em relação a este espaço, terminando com uma volta de opiniões que lembrava as nossas apresentações, mas em vez de nomes e paixões ouvimos "porquê o Pinguim", e aqui ficam algumas expressões curiosas:

"É sempre bom ficar até à ultima", Almeida
O Paulo é que nem sempre gosta...

"O Pinguim não é um bar da moda", Granel
E ainda bem, digo eu...

"A necessidade de partilhar paixões", Vieira
Pois, esta será a motivação de muitos dos clientes do pinguim, a partilha, seja pelo espaço, pela conversa ou simplesmente pelo Paulo... (de uma forma legal....)

"O clube dos pinguins resume aquilo que o Pinguim sempre foi!", Valter
orgulhosamente pinguins...

"Uma rapariga pode vir sozinha", Ana
Pois... isso não sei, mas achei engraçado o à vontade que todos sentem quando entram neste cantinho...

O Jorge teve ainda tempo para lembrar os pinguins que não têm podido aparecer, mas que continuam com as quotas em dia, o Toninho, o Hugo, a Cátia e o Ricardo, para eles abraços e beijinhos (respectivamente...) de todos, esperemos que em Setembro todos reapareçam...

O Pinguim é uma paixão comum a todos nós, é a nossa casa e a nossa familia, porque aqui nos sentimos bem, capazes de partilhar... Como fazemos com as pessoas de quem gostamos...

Porque o bar é apenas isso, um bar, as pessoas, os amigos e o Paulo é que fazem tudo isto acontecer.

Muito mais foi dito, muito mais haveria a dizer, mas espero muito mais nos vossos comentários...

domingo, 23 de julho de 2006

Juntos no Rivoli

Rui Rio decidiu há uns dias atrás por o Rivoli à venda de privados. A Câmara do Porto vai fazer uma consulta a companhias de teatro e até ao fim de Outubro deverá tomar a decisão e Rui Rio admite que nem todos os funcionários da Culturporto possam ter lugar no novo modelo de gestão.
Obviamente que esta decisão fez levantar muitas vozes e criar uma indignação total por partes dos artistas da cidade do Porto. Está-se a preparar uma vigília à porta do Rivoli, na segunda-feira às 19h e acho que todos nós deviamos comparecer. Entretanto já se levantou uma petição que qualquer um pode assinar em: Juntos no Rivoli onde podem encontrar mais informações sobre o que se está a preparar para combater esta medida da Câmara.
Não podemos deixar que a Meca artistica do Porto seja entregue a estranhos ou incompetentes. E que festivais como o Fantasporto fiquei severamente comprometidos, com graves riscos de perder a sua identidade, ou mesmo a sua preturberância.

Saudade

Há na despedida algo tão triste que não consigo descrever. Quando vemos alguém partir, vemos também uma figura da nossa vida desaparecer, nem que seja temporariamente.
Não gosto de despedidas! Não gosto de dizer adeus e assim perpetuar a tristeza que me assombra aquando da partida.
Há na partida um vazio, um nó na barriga que mais parece uma úlcera. Perde-se o amigo, o companheiro, separam-se os amantes. Relembra-se então o seu rosto, o seu sorriso, as suas lágrimas...

Não consigo descrever este vazio, esta vontade de partir também, ou de não querer deixar partir!
Não vás!

sábado, 22 de julho de 2006

Breve resumo das andancas de um vadio

Caros amigos,

Ha ja algum tempo que nao escrevo aqui, embora o tenha feito diariamente no meu caderno. As vezes e dificil vir a net e ter tempo para escrever. Alem disso o ritmo da escrita e quase diario e facilmente o "ontem" e realmente passado e parece longinquo.
Espero que consigam perceber este texto mesmo sem os devidos acentos. Ainda por cima este e o teclado mais complicado que encontrei ate agora porque tambem permite escrever em cirilico.
Nao vou aqui escrever detalhadamente as minhas aventuras, mas sim fazer um breve resumo do meu periplo europeu.
Deixei Varsovia no dia 29 de Junho como previsto e optei por sair do aviao em Milao. Dai fiz uma inesquecivel viagem de comboio, atravessando os Alpes ate Genebra. Segui depois para Toulouse onde fiquei alguns dias com a minha filha e onde assisti as derrotas portuguesas.
Seguiu-se Angers (onde visitei um grande amigo) e L'Huisserie, aldeia perto de Laval, terra dos avos da Luana.
Regressei ao fim de alguns anos a Paris e ali fiquei 4 dias a fazer um pouco de turismo e a visitar alguns amigos.
Dia 15 de Julho viagei ate Tallinn, depois ate Naisaree (uma ilha quase deserta, antiga base militar sovietica e hoje um parque natural), Parnu e agora encontro-me em Riga na Letonia.
Quando regressar conto-vos tudo mais detalhadamente.
De resto, ja percebi que vao ao ponto de falar de Shakespeare na minha ausencia!
Parabens, Hugo. Grande paixao!
Parabens Miguel, grande resumo!
Caros actores, fico a espera de uma reposicao quando regressar!

Beijos e abracos!

sexta-feira, 21 de julho de 2006

Macbeth

Não é de forma alguma, uma adaptação da Noite de Reis de Shakespeare, tal como o filme de John Madlen na Paixão de Shakespeare. Mas foi, é uma excelente forma de exteriorizar uma predisposição de sentir a vida, à boa maneira Shakespeariana.
Não é por acaso que Valter ama este extraordinário escritor, de facto, Hugo Valter respira teatro e toda a sua essência se completa quando transpira emoções de romantismo, enredo e tragédia tão características nas obras deste gigante intemporal…
O despertar desta memorável paixão começou com uma rotineira viagem ao cinema ver o filme Romeu e Julieta de Lurman. De seguida procurou no vídeo clube o filme Otelo de Neud Pavlovic, que desencadeou em Valter, uma exaustiva busca de identidade em todas as obras deste autor. Se eu quantificasse esta paixão, diria que Hugo conhece de cor os trechos mais íntimos da sua amada.
De entre as suas obras predilectas, a Noite de Reis, Hamelt, Romeu e Julieta, Macbeth, é com Otelo que mais se identifica. Diz Hugo – Obra escrita além fronteiras, começa em Veneza e acaba em campanha. Revejo-me no personagem de Iago pela sua personalidade manipuladora e persuasiva, maquiavélico e principal impulsionador da história.
Nesta sessão fomos galanteados com uma pseudo encenação de Macbeth, uma história de intriga, poder e traição, onde Hugo com uma leitura repleta de força, garra, amor e paixão, conseguia exteriorizar toda a energia dos personagens, que ia atribuindo a cada um dos presentes.
Rui Vieira intitulado de Macbeth, honroso general do rei da Escócia Duncan que cai na desgraça da traição e acaba por cometer o crime odioso do assassínio de Duncan, isto é, Eu. Lady Macbeth, Helena, torna-se na principal personagem da história, personificado a intriga incentivando a morte do Rei “…Vem cá, para que possa verter a minha coragem nos teus ouvidos…” Cena V, a impaciência “…se podemos ser reis já, porquê esperar!...”, a sede pelo poder “…quando Duncan estiver a dormir… neutralizarei com vinho…seus dois camareiros…vós e eu com o indefeso Duncan…”
Shakespeare utiliza frequentemente o nº 3 na construção das suas cenas, as 3 bruxas, personificando o diabo, representadas por, Hugo, Helena e Ana, as 3 premunições “…Salve, Macbeth, salve que um dia serás rei…” e as 3 aparições “…Macbeth nunca será vencido até que a floresta de Birnam marche…”, “…Acautela-te com Macduff…”. È através destas personagens que vai contextualizando a acção e adiantando a desenvoltura da história criando desta forma, a sensação de impotência nos leitores, que Hugo tanto gosta.
Como na maior parte das peças se Shakespeare, esta não foge à regra, todas as tragédias têm um final feliz. Macbeth fica banhado em eternas insónias e decapitado por Macduff, um dos senhores da Escócia e braço direito de Duncan “… reentra Mucduff com a cabeça de Macbeth…” Cena VII. Lady Macbeth enlouquece e vive com as mãos manchadas do sangue de Duncan “…fora maldita manha…”Acto V, cena I e suicida-se “… a rainha meu senhor esta morta…” Cena V.
Por ultimo, e em jeito de pinguim discutimos o moral da história que se resume na frase “ tudo o que se ganha também se perde”, a vida é um rodopio de altos e baixos, por isso devemos medir bem, se os meios justificam os fins.
Obrigado ao meu amigo Hugo Valter pela magnífica apresentação e a todos os personagens por vierem intensamente esta memorável paixão.

Miguel Angelo

PS- Este post está assinado com o meu nome porque me foi impossivel utilizar o login dos pinguins, já agora peço desculpa pela demora em publica-lo o que é culpa minha...

quarta-feira, 19 de julho de 2006

Smile, Bush and Blair, you're in Candid Camera

Chorem mundo... assim são dois dos principais lideres mundiais.


terça-feira, 18 de julho de 2006

Um dia melancólico

"A questão suprema é esta e só esta:Deus existe ou Deus não existe.Se não há Deus,a vida,produto do acaso,é uma mistificção.Aproveitemo-la para satisfazer instintos e paixões.Se Deus não existe,não há força que me detenha.Não há palavras,nem regras,nem leis.Tudo é permitido.Oh!Ponhamos a questão,consciência:se Deus não existe,tu não és senão um estorvo,meia dúzia de regras aprendidas ou herdadas!Escusas de encher a boca com o dever.O dever não me interessa nada.A questão fundamental,a questão que eu debato com todo o meu ser,e de que não me cnsigo desligar,é a da morte eterna e a da vida eterna.Se Deus existe,eu sou um homem-se Deus não existe,eu sou outro homem completamente diferente".In Húmus,Raul Brandão.

Shine on you crazy diamond


Syd Barret
1946 - 2006

segunda-feira, 17 de julho de 2006

José Cid vs Pink Floyd

Enquanto via uma entrevista/reportagem na Sic a José Cid, absorvia a incoerência discográfica do artista, mas ia percebendo a coerência do Homem.
Sempre me causou alguma confusão o percurso musical de José Cid, mas como ele deixa perceber, um homem tem de comer, e assume que tem música má. Neste ponto conquistou a minha admiração. Também acho que ele tem musica francamente má. Enquanto vou divagando nas minhas considerações sobre José Cid, a SIC termina a peça e inicia uma outra sobre Pink Floyd. Não estou seguro de que a colagem tenha sido intencional, mas não podia ser mais acertada.
Em 1978, edita "10 mil anos depois entre venus e marte", uma obra prima do rock progressivo ( também há quem lhe chame sinfónico ou conceptual). Um álbum na sua verdadeira acepção da palavra. Ao invés de fazer uma colagem amorfa de temas sem qualquer ligação entre si, José Cid narra ao longo de 50 minutos a fuga da Terra com todas as sensações, apreensões, receios e anseios. São 8 faixas onde impera o piano e a guitarra pontuado com derivações de sintetizador tornando a atmosfera algo estranha e progressiva (se imaginada à luz do remoto ano de 1978). A sua voz também marca presença, e bem, acrescento eu.
Escutar este álbum, "ler" a história , apreciar o extraordinário trabalho de produção, reconhecer as semelhanças com "Dark side of the Moon", a originalidade criativa, é perceber com justiça o epíteto de "Mãe do Rock Português".
Pois bem, a dar consistência ao post deixo o 2º tema do álbum: " O Caos", para ser escutado aqui.

segunda-feira, 10 de julho de 2006

A vida continua para lá do Mundial?


Luís Afonso, in Público, 9 de Julho de 2006

Dedicatória



Não posso deixar de partilhar as minhas paixões, pois tornou-se um dos maiores vícios. E agora, que estou longe dos meus queridos amigos, e não posso partilhar todas essas paixões que por aí andam, tenho neste espaço o meu cesto de despejo! Hoje trágo-vos duas paixões: Pessoa (mais uma vez) e a paixão das paixões - a mulher. Como não vou especificar deixo-vos a foto daquela que para mim será sempre a mais bela: Greta Garbo!


Análise
Tão abstracta é a ideia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a ideia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me

Sabendo que tu és, que, só por ter-me

Consciente de ti, nem a mim sinto.

E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho

Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.



Fernando Pessoa, [Cancioneiro]

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Orientação

Nesta terça fomos conduzidos até ao oriente, num cenário montado à volta de um edredão estendido no chão, impregnado de incenso e acompanhado pela luz de velas, com ambiente sonoro a fazer lembrar água a correr e a evocar o som de espanta-espíritos.

A paixão que nos foi apresentada pela Ana Vaz foi o Reiki, uma palavra japonesa que significa “Energia Vital Universal”. O Reiki é um sistema de cura natural que se pratica através da imposição das mãos, sobre si mesmo ou sobre outra pessoa, abrindo o fluxo de energia Reiki. Esta energia é passada para os chakras, abrindo, limpando e purificando de todas as obstruções do corpo, trazendo o equilíbrio de uma forma natural, conduzindo ao bem-estar e restaurando as funções dos órgãos eventualmente afectados. Com a sua voz doce e sorriso sempre presente, a Ana explicou-nos que o Reiki é também um caminho para o desenvolvimento pessoal e espiritual.

Um aspecto muito interessante desta sessão é que a Ana pouco falou mas pôs-nos a todos a falar. Diria mesmo que ela praticou uma sessão de “Reiki verbal”, deixando-nos fluir pelos nossos pensamentos e convicções. A fórmula mágica utilizada pela Ana foi um cesto de verga escura cheio de plantas secas e cheirosas, com uma colecção de rolinhos de papel cor-de-rosa, que ela colocou no centro do nosso cenário. Depois incumbiu-nos da tarefa de desenrolar todos os rolinhos de papel, um a um, e comentar sobre a frase inscrita. Com frases como:

“Não somos seres humanos a vivenciar uma experiência espiritual.
Somos seres espirituais a vivenciar uma experiência humana”,

“Como raios de uma bicicleta, todos os caminhos indicados pelas grandes religiões levam ao mesmo centro, à iluminação.
Nenhum caminho é melhor ou pior do que outro”,

“Escutemos as nossas intuições e não deixemos que os nossos medos influenciem o murmúrio do coração.
(...)”

e

“O passado já terminou e o futuro ainda não está aqui.
Aprende com o passado e liberta-o.
Planeia o futuro e não te preocupes.
(...)”,

A Ana veio abanar os nossos fundamentos e conduziu-nos até ao lugar dos grandes filósofos e dos grandes mestres do pensamento. É o lugar onde se questiona a razão da existência humana.

Perto do final ainda foi lida uma história sobre uma velhinha que procurava na rua uma agulha que tinha perdido dentro casa, porque a casa estava escura, o que tornava a procura difícil, e na rua havia luz, e a busca era, assim, mais fácil. Penso que a ideia por trás desta pequena história é que nós devemos buscar o nosso interior. Ele é escuro mas está nas nossas mãos buscá-lo, descobri-lo e, com isso, iluminá-lo.

O fim da sessão reservou-nos ainda mais uma surpresa: cada um de nós foi presenteado com um cristal! Olho de tigre, citrino, quartzo,..., todos eles com o seu significado espiritual.

Confesso que saí da sessão um pouco desiludida. Não no mau sentido. A verdade é que eu queria mais, mas o avançado da hora já não permitia.
Obrigada Ana!
Parabéns por esta tua magnífica estreia!
Helena Hörster

Somewhere over the rainbow

Uma das minhas paixões é o teatro. Apaixonei-me quando ainda brincava com bonecas e inventava histórias, onde fazia as vozes de todos as personagens. No 9.º ano dei vida ao “Joanne” do “Auto da Barca do Inferno”. Nessa altura queria era estar em cima dum palco e dizer o texto, contagiada pelo público e por todo um crescente de emoções.
Mais tarde aprendi que representar é mais do que isso, é mais do que os ensaios. Representar é vestirmos o texto, as palavras de um outro alguém bem diferente de nós. Uma peça de teatro é mais do que os actores, os encenadores e os textos. Teatro são figurinos, cenários, adereços, som, luz, e música. A música pode ser um excelente companheiro em palco para um actor. Tive essa experiência numa peça que fiz na faculdade. Os textos eram de Heinner Muller. A ideia do encenador era transformar a peça no desconstrutivismo total. Depois, chegou à conclusão de que fez a peça toda, tendo um vestido vermelho como fonte de inspiração... mas forçada. O vestido tinha sido imposto por mim e foi usado só na cena final, quando representei a morte de Electra com um véu vermelho. A ideia do véu já foi do encenador. Mas o que deu um maior impacto à cena foi a música, também escolha do encenador.
Na altura eu andava sempre a cantarolar “Somewhere Over the Rainbow” do filme o “Feiticeiro de Oz”, imortalizada pela Judy Garland e uma das músicas que já inspirou centenas de cantores. O encenador ouviu-me a cantarolar e apesar de eu desafinar fez com que ele trouxesse no ensaio seguinte uma versão que não conhecia, cantada por Blixa Bargeld. Uma música inicialmente estranha que destrói a música infantil e que a volta a vestir de novas tonalidades. O desconstrutivismo total. Nesta situação foi entendido como destruir para construir de novo.
Não conhecia Blixa Garbeld e ainda não o conheço bem, mas esta música inspirou-me pela voz que se entranha em nós. Representar é deixarmo-nos levar e sermos livres com as palavras de um, as roupas de outro, a música de um outro, mas a alma essa é a nossa, apesar de transfigurada.
“Somewhere over the Rainbow” na versão de Blixa Garbeld é a minha escolha para hoje.


http://www.blixa-bargeld.com/

http://www.mondobizarre.com/e_blixa.html

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Vieira Marques

A notícia assombrou-me a meio da sessão dos pinguins quando uma voz fina e triste me sussurrou ao ouvido via telemóvel: “O Vieira Marques morreu!”. O meu contacto com o Vieira Marques nunca foi muito próximo e nunca foi directo, mas foi o suficiente para a notícia me deixar um pouco abalado, não por ser uma surpresa, acho que já todos estávamos um pouco à espera, mas por muito preparado que estejamos ficamos sempre um pouco abalados. É mais uma grande perda para a história do cinema português!


Vieira Marques era das últimas pessoas que amava verdadeiramente o cinema em Portugal. Abandonou o seminarismo, segundo dizem, por causa de uma mulher, mas a coisa não parece ter dado muito certo e a partir daí dedicou toda a sua vida e paixão ao cinema. Conseguia ver os filmes antes de eles passarem pela terrível censura da igreja (quem não se lembra dessa fabulosa cena do “Cinema Paraíso”?) em estado bruto, com todas as cenas “picantes” e lia imenso sobre cinema, viajando muitas vezes para França para ver os filmes que não conseguia ver cá. A sua paixão pelo cinema aumentou e fez com que desejasse trazer para Portugal filmes raros, de culto ou obras-primas que raramente chegavam cá, por isso criou um Festival de Cinema. (Estamos a falar de uma época anterior ao vídeo, se é que alguém se lembra disso…)
José Vieira Marques foi durante 31 anos director do Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz (FICFF) até 2002, data do último festival. O FICFF foi durante anos o melhor festival de cinema de Portugal, responsável por pôr a Figueira da Foz nos mapas internacionais. Chegavam a vir realizadores dos quatro cantos do mundo com as bobines nas mãos, na esperança de ver os seus filmes passados no certame, pois não tinham conseguido enviar a tempo da selecção e chegaram-se mesmo a criar várias sessões especiais, fora calendário, para poder mostrar algumas dessas relíquias, mesmo que não entrassem na competição.
O FICFF tornou-se um ícone dos amantes de cinema e “nasceram” lá muitos cineastas que hoje estão no activo, como António Pedro Vasconcelos, por exemplo. Foi um festival que também apostou bastante no Manoel de Oliveira, quando este ainda não era reconhecido no estrangeiro, tendo uma vez a coragem de passar a concurso a versão integral do filme “Francisca (1981)” (com 6 horas de filme, ou 9 horas, agora não me recordo), numa sessão de porta aberta, que as pessoas podiam entrar a sair à vontade.
O FICFF foi durante muito tempo a única oportunidade de ver filmes de qualidade que nunca passariam no circuito comercial português e que muito dificilmente se voltaria a ver na vida, o que originou que se tornasse um lugar de culto e ponto de encontro para a comunidade cinéfila portuguesa (é claro que o crescimento mercado vídeo, veio prejudicar isto a longo prazo…).
Vieira Marques foi o criador, o programador, o mentor do Festival. O FICFF era ele e só ele! Talvez tenha sido esse o factor que levou ao posterior encerramento do festival quando a doença dele se começou a agravar. Já diziam os meus professores: “Não queiram ser vocês a fazer tudo. Kubrick houve só um!”. Mas a sua cultura, o seu “background” e a sua luta pela divulgação do cinema levou-o a ser júri em muitos festivais internacionais, como o de Veneza, e chegou a ser dos pouquíssimos portugueses a sentarem-se na mesa de Júri de Cannes!!! (Não estamos apenas a falar de um teórico ou de um simples entendido. Estamos a falar de uma pessoa que respirava cinema e cujo celulóide lhe passava nas veias. Estamos a falar de um guru!)


José Vieira Marques foi também professor do Curso de Tecnologia da Comunicação Audiovisual no Instituto Politécnico do Porto, onde leccionou História Crítica do Cinema e do Vídeo e Análise de Filmes e estava a preparar um livro sobre a História do Cinema. Era das pessoas mais cultas sobre cinema em Portugal, um excelente contador de histórias porque tinha corrido mundo e convivido com grandes nomes do cinema como Marcello Mastroianni, Michelangelo Antonioni, Claude Chabrol, Jean-Luc Godard e, mais recentemente, Danny Boyle entre muitos, muitos outros que passaram ao longo de 31 anos de FICFF e por isso me arrepio só de pensar como seria o livro dele sobre a História do Cinema. Uma bíblia para o mundo que se perde num país que se calhar não a merecia…

Até os comemos!


«Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!»

Fernando Pessoa, in «A Mensagem», Segunda parte/ Mar Português; Possessio Maris; I. O Infante

terça-feira, 4 de julho de 2006

«Carioca»


Quando começamos a crescer há coisas no mundo que passam a fazer mais sentido para nós. Enquanto adolescentes há um mundo melancólico que nos envolve e nos consome que é típico da idade, desse crescimento. Depois, mais tarde começamos a ficar mais lamechas, mais caretas e isso é muito engraçado. A seguir a fase em que já não nos importamos com isso, já é natural e aceitamos a nossa condição etária.

Francisco Buarque de Holanda passou a fazer parte do meu mundo há já algum tempo! O tom da sua voz, a maneira como brinca com as palavras (veja-se o exemplo de «Construção»), os temas de amor e ódio com que fala serenamente, sem nunca perder o controlo e a beleza emocional! Assim é Chico Buarque - belo, sublime! Na voz que compreende sátira, amor e razão descobre-se esse mundo que é incompreensível para um adolescente. Penso que é preciso crescer para conseguir perceber Chico Buarque!

Com um novo disco lançado oito anos depois, Chico aparece igual a si mesmo! Aperece de novo com bossas, forrós, choros, boleros com aquela atitude de Sinatra sul-americano. «Carioca» é um disco fresco que fala do Rio, evidentemente, de um Rio de Janeiro mau e bom. Do subúrbio à baixa fala-se de amor, de crime, de vida difícil mas feliz, fala-se de perda e esperança. Em cada esquina de «Carioca» um Chico diferente. Um Chico que faz confundir o amor entre os homens com o amor pelas cidades, neste caso pela sua cidade.

A minha sugestão é que ouçam! Deixo-vos apenas uma pequena quadra de um dos temas. Embora seja de um anónimo Chico construiu um tema á volta dela.

«Soñé que el fuego helou
Soñé que la nieve ardía,
E por soñar lo imposible
Soñé que tu me querias»

segunda-feira, 3 de julho de 2006

O Estado Democrático como sancionador e educador!

Qual é o valor de um crime cometido por um menor? Qual é o valor de uma sanção severa sobre um crime cometido por um menor?
Hoje no Tribunal de Família e de Menores do Porto iniciou-se o julgamento do processo respeitante ao homicídio de um travesti transsexual, cometido por um grupo de menores nas ruas da cidade do Porto. São já várias as pressões feitas sobre o Estado Português no que diz respeito a uma punição exemplar deste crime, tanto por grupos defensores dos direitos dos homossexuais como até mesmo pelo Parlamento Europeu.

O homicidio cometido com dolo eventual é a sugestão do Ministério Público. Dolo eventual significa que houve uma desvalorização do resultado da acção, ou seja, o grupo em causa pratica uma acção (as agressões) e desvaloriza completamente a consequência desta, não ignorando totalmente o seu resultado (isto para explicar de uma forma simples).

Ora, meus amigos a minha questão é esta: imaginemos que as provas são evidentes quanto à situação que vos coloquei. Que tipo de sentença deve proferir um tribunal de menores num caso destes?
Vou mais longe. Do ponto de vista social e moral, o que aconteceu aqui foi um caso gritante de falta sensibilidade moral, perda de valores e desresponsabilização do acto., para além de uma enorma falta de tolerância (e estou a ser brando e contido nas palavras). Deve o Estado ter em conta a idade, a condição social, o ambiente familiar destes jovens e ser brando na sanção aplicada ou, por outro lado, deve ser duro, implacável, mas justo, punindo inequivocamente e pedagogicamente esta situação?
Parece-me que o Estado deve tomar uma postura severa neste tipo de casos. Este grupo de adolescentes com facilidade se torna num grupo delinquentes, e para evitar que caiam na delinquência deve o Estado travar esse percurso com a reclusão tendo como prioridade absoluta a educação destes menores fazendo com que terminem a escolaridade obrigatoria e que sejam sempre acompanhados com ajuda psicológica para que se possam integrar com mais facilidade numa vida em sociedade que desprezam, a avaliar pelo acto.

Esta ideia tem por base a falta de responsabilidade que se instalou na mente colectiva de grupos de risco (aqui significando desfavorecidos, condição social baixa) e que influencía substancialmente um pre-adolescente fazendo-o perder o controlo sobre os seus valores e os valores da sociedade onde se insere, e isto se alguns valores lhe foram incutidos. Nesta idade a percepção da realidade já começa a ser independente, autónoma e se a escala de valores for muito reduzida corre-se o risco da pessoa degenerar e acabar por adoptar comportamentos desviantes. Importante é também a fase de pre-adolescência no sentido do que será o futuro para estas crianças. Quero com isto dizer que é a partir daqui que a pessoa decide que caminho irá seguir na sua «vida moral», como adaptará o seu conhecimento à realidade.

Em suma, gostava que reflectissem sobre este assunto. É claro que podem encontrar autores portugueses que falam sobre este tipo de questões de uma forma mais aprofundada. Eu analisei isto de uma maneira extremamente superficial. Notem, também, que não é minha intenção culpar a priori este grupo mas sim reflectir sobre a essência da questão: os factores de educação primária e secundária, o decréscimo da consciência moral colectiva e individual, etc.

Nota: Esta é uma paixão que só me é possivel apresentar por escrito dado o peso do seu conteudo que tornaria qualquer sessão enfadonha. Mas, para que todos percebam, ela tem a ver com o direito como braço prático da filosofia.