sábado, 14 de outubro de 2006

A Festa


Parte I


«A Festa» de Thomas Vinterberg; 1998 (Den)

Uma bomba largada. Um terramoto.
Primeiro chegam os convidados, um a um. Vão-se juntando entre abraços e beijinhos. A cerimónia está prestes a começar. Com todo o rigor, uns mais que outros lá se vão reunindo para a Grande Festa. Pais, filhos, tios e sobrinhos e afins. Mas que grande família. Sorrisos abertos. Uma festa de aniversário precedida de uma morte. Sorrisos abertos. Um passado obscuro. Sorrisos abertos. Mais um copo, mais um prato. Abusos sexuais de menores. Sorrisos abertos. Escândalo, insulto, pancada. Sorrisos descaídos e espantados. Canções racistas. Sorrisos abertos. Violência. Uma nova manhã e sorrisos abertos.

Não é fácil descrever um filme da Dogma 95. Sabemos sempre que há um problema que anda na fronteira do intimo e do social, de uma forma crua, fria e violenta.
Foi assim que o Victor Elyseu começou a sua sessão, aquilo que podemos chamar um misto de paixões. O filme, aconselhado e oferecido pela sua querida Antonieta (obrigado pelos bolinhos, já agora, e pela excelente sugestão do filme), começou por ser uma chamada de atenção. O tema central era a hipocrisía.
Como dizia Molière (há 4 séculos atrás) a Hipocrisia é um vicio que está na moda. E assim acontece, sempre. Mas, não me quero alongar neste tema, neste ponto específco.
A ideia de passar o filme, tem que ver com a paixão, desta semana, do Victor - O Clube dos Pinguins. O filme serviu de aperitivo para a sessão enriquecedora que tivémos depois.
Para quem não foi, o filme recomenda-se e muito. É um estalo na cara. Passemos à parte II da sessão.


Parte II

Tanto no início da sessão, como no fim, o Victor fez com que ficasse bem explícito o porquê da escolha de um tema como a hipocrisia para justificar uma paixão pelo Clube dos Pinguins.
A ideia do Clube dos Pinguins é a partilha de paixões. A partilha de paixões pressupõe uma ideia positiva, em que todos descem ao buraco para ouvir a paixão dos outros, mas também mostrar a sua com muito orgulho e acima de tudo, com essa disponibilidade, pois muitas vezes são coisas muito pessoais.
Há uma altura em que as coisas tem de ser repensada, e o Clube não escapa. Já muita gente abandonou, alguns por motivos justificados, outros por motivos que não convencem ainda hoje. Acredita-se então, assim, que o que aconteceu é que se começou a valorizar mais os defeitos das pessoas do que as qualidades, subvertendo-se um principio do Clube dos Pinguins.
A ideia é não sermos iguais ao mundo lá de fora, libertarmo-nos de preconceitos e encontrarmos o melhor que há nos outros, para assim nos conhecermos a nós próprios.
Se descermos desconfiados, então não vale a pena, e foi isso que o Victor quis transmitir - pelo menos no meu entender - com a sua sessão, que temos de continuar a descer com o mesmo espirito que nos fez ficar da primeira vez. É dar e receber. É saber dar e receber. Se bem se lembram foi isso que tirámos da Marcha dos Pinguins.
Da sessão também ficou uma ideia que é: não vamos ver isto de uma forma destrutiva, mas sim construtiva, reflectiva. O que não significa que tenhamos de exorcizar os nossos males lá em baixo. O que temos de fazer é ir com paz de espírito. NInguém é capitão de equipa, nem número 10. Ali não há craques! Somos uma comunidade, lembram-se?

A paixão do Victor é a paixão de todos nós. E o que quero mesmo é encarar este desabafo dele como um alerta! Não podemos cair naquilo que foi «A Festa» senão o Clube morre. Vamos todos fazer por dar um bocadinho mais todas as Terças. Vamos ser os «cozinheiros» uns dos outros.

Ao Victor, e também, à Antonieta, o nosso muito obrigado por esta magnífica sessão que nos fez pensar, discutir... ou seja, criar!

Jorge Carvalho

7 comentários:

Hugo Valter disse...

Vou começar por dar os parabéns ao Vitor e à Antonieta pela escolha do filme que nos presentearam. (E pelos bolinhos também...) Um filme absolutamente fabuloso, de deixar qualquer um de queixo aberto! Uma excelente reflexão sobre o mundo, as pessoas e nós próprios. Diria mesmo mais: Uma obra-prima!

Segundo tenho de dar os parabéns ao Jorge pelo fantástico post que resume de uma maneira fantástica tudo o que se passou na sessão. Falou-se de muita coisa e muito ficou por dizer, de certeza absoluta, mas o Jorge consegue resumir tudo o que se pensou e se disse (e o que não se disse também...) neste pequeno post.
E concordo em pleno com o "dar e receber". É esse o nosso lema e sempre foi o principio dos pinguins e é esse que tem que ser o nosso espírito pinguinense "vamos lá dar a alguém a receber" ou "vamos lá receber o que alguém nos tem para dar", se não for esse o espírito a palavra "partilha" deixa de fazer significado...

Rui Vieira disse...

Antes de mais quero felicitar o Jorge pelo Post. Embora não tenha lá estado, julgo ter ficado com uma ideia muito precisa da sessão.
Depois, quero felicitar a escolha inteligentíssima do Victor e da Antonieta.
Utilizar o filme como mote, abriu espaço para discutir um problema latente e que urge esclarecer. Pelo Post e pelo comentário do Hugo, julgo que a conclusão não poderia ser melhor. O Clube dos Pinguins é um espaço aberto, dinâmico, sujeito a avanços e recuos, mas, acima de tudo, composto por pessoas inteligentes. Deixemos cair alguns "conflitos de ego", sejamos humildes na transmissão de conhecimentos(quer como emissor, quer como receptor) e continuemos a ter uma atitude apaixonada.
Como se tem visto ao longo deste período, temos todos a ganhar.

Vitor Elyseu disse...

Excelente o post do Jorge.
Perspicaz o comentário do Rui Vieira,tive grande pena que não pudesse ter estado presente na sessão,reflecte bom senso e acima de tudo disponibilidade.
o Hugo Valter sempre agradecido é um doce...
Para finalizar tenho só a dizer que temos todos muito mais a ganhar no clube que a perder e por isso sugiro que se valorize as qualidades dos membros e se comprendam as diferenças,oresultado só pode ser mais e melhor clube.
Obrigado Jorge,mais uma vez,pelo magnífico post.

Rui Spranger disse...

Muitos parabéns Jorge pelo excelente post!
A reflexão é sempre importante e dentro de um grupo é sempre natural que existam angustias.
Embora não tenha estado presente na sessão, tenho reflectido muito nestas duas ultimas semanas sobre o Clube...
Estamos quase a fazer um ano de existência e só posso dizer que o resultado é bastante positivo. Claro que ficamos sempre tristes com algumas desistencias mas, se me permitem a ousadia de o dizer, não creio que a culpa seja do Clube. Qualquer grupo exige dedicação e algum sacrifício pessoal. As angustias pessoais não devem ser superiores às do Grupo ou eventuais conflitos entre duas pessoas não se devm sobrepor ao grupo. "Cada cabeça sua sentença" e não me espantaria nada que cada um de nós tivesse uma ideia diferente do grupo e para o grupo. Mas apesar disso, o grupo existe e mantém-se com gente muito diferente que formam uma outra unidade e identidade chamada Clube dos Pinguins. E, caros amigos, quer queiramos quer não, isto é um facto!

Rui Spranger disse...

Faltou-me acrescentar o sorriso de satisfação. :)

GRaNel disse...

Quanto ao filme já ficou muito pouco por dizer. Reforço só a ideia de que é um bom filme com uma mensagem incómoda habilmente transmitida. Um muito obrigado ao furriel e à Antonieta pela escolha desta pelicula. E era ela, o mote para a verdadeira sessão da passada terça. Como foi dito, e eu concordo em absoluto, o Clube está bem e recomenda-se. É evidente que há situações que têm de ser melhoradas mas com a nossa vontade, esforço, e porque não, inteligência, rápido as resolveremos.
Resta-me enviar um forte abraço a todos e fazer votos de que apareçam na próxima sessão...

hörster disse...

Vitor e Antonieta: o filme é EXCELENTE e a todos tocou. As reacções durante a sessão e os comentários já expostos deixam isso bem claro.
Jorge: excelente descrição (e sintética!!!!!), os meus parrrabéns!
Agora vou pedir desculpa, mas não sei como é que o tema hipocrisia é um bom mote de entrada para o debate de um Clube que se diz bem de saúde. Creio que é claro para todos a existência de sinais de alguma doença, chamemos-lhe descontentamento ou mágoa... No entanto é inequívoca a voz que se ergue entre a comunidade pinípede em querer recuperar o fôlego em pleno, excelente sinal, se não de saúde, pelo menos de vontade de saúde!
A manutenção da saúde do nosso querido Pinguim faz-se todos os dias e a todos compete. Os períodos de alguma reflexão, como este, mostram também de forma nítida, a paixão comum e que a todos nos une.