quinta-feira, 4 de maio de 2006

Fugacidade do tempo

O tempo de um segundo

Mais logo, à 1 hora, 2 minutos e 3 segundos da manhã, acontecerá algo que não voltará a repetir-se no decurso da nossa vida (por longa que seja a nossa curta vida). Na verdade, a todo o momento acontecem coisas na vida de cada um de nós que não se repetirão, um rosto que se cruza connosco na rua, uma palavra ou o fragmento de uma conversa escutados por acaso, a súbita alegria de um riso atrás de nós, um reflexo de sol numa montra decompondo-se num brevíssimo e efémero arco-íris, um portão (como no poema de Borges) que nunca mais atravessaremos, um nome que nunca mais pronunciaremos, alguém que não voltaremos a ver. A vida, mesmo a mais rotineira das vidas, é feita de coisas únicas e últimas. Mas a nossa curiosidade tem uma natureza geométrica e é atraída pelas coincidências e pelas conjugações misteriosas e singulares. Logo, pouco depois da uma da manhã, durante a breve pulsação de um segundo, nos mostradores dos relógios digitais surgirá o seguinte grupo data/hora 01:02:03:04/05/06. A notícia chegou-me alvoroçadamente por e-mail. É a notícia de uma perda, de algo que teremos durante um instante e perderemos para sempre no instante seguinte. Como acontece (pois ter é perder) com cada instante e com cada coisa da nossa vida.

in Jornal de Noticias, Manuel António Pina

Há já alguns meses que me sinto viciado nestas pequenas crónicas publicadas na última página do JN, hoje recebi um mail que me falava deste "momento", a primeira coisa que pensei foi na fugacidade do tempo, depois esqueci... porque o tempo passou... Agora há pouco, enquanto esperava que me servissem no café aqui por baixo, peguei no jornal e li esta crónica, não resisti...
Porque também eu deixo o tempo passar, como todos nós fazemos, por vezes de forma inconsequente não medindo os instantes desperdiçados... E hoje à 1 hora, 2 minutos e 3 segundos da manhã do dia 4 do 5º mês do 6º ano do presente milénio passará um instante único nas nossas vidas para nunca mais se repetir...

2 comentários:

Rui Vieira disse...

há pequenas preciosidades que teimamos em ignorar. Há colecionadores de sensações que teimam em as valorizar.
Obrigado pela lembrança, Tó. Apesar de o tempo ser aquilo que nós fazemos dele, há tempos que valem por si só.

GRaNel disse...

Pois, a verdade é que o momento me passou completamente ao lado. Mas não deixa de ser engraçado. Aquele abraço