
Há algumas coisas garantidas: Cigarros, conversa, copos... Apalavraram-se outras: castanhas, jeropiga, salgados... Esperam-se ainda: pinguins, memórias, humor e língua afiada para as farpas...
Sobre o que é a sessão? Sobre o que não é?

Se eu voar sem saber onde vou
My my, hey hey
Rock and roll is here to stay
It's better to burn out
Than to fade away
My my, hey hey.
Out of the blue
and into the black
They give you this,
but you pay for that
And once you're gone,
you can never come back
When you're out of the blue
and into the black.
The king is gone
but he's not forgotten
This is the story
of a Johnny Rotten
It's better to burn out
than it is to rust
The king is gone
but he's not forgotten.
Hey hey, my my
Rock and roll can never die
There's more to the picture
Than meets the eye.
Hey hey, my my.
Neil Young - Hey Hey, My My
A menina que protagoniza a secretária de Hitler em "A Queda" é agora a amante de Ian Curtis em "Control" e vai fazer parte de um filme sobre a Baader-Meinhof. Algo me diz que está a nascer uma estrela no firmamento cinematográfico europeu. Ah! Chama-se Alexandra Maria Lara, tem 29 aninhos e é romena.
Sei que não é disso que Eugénio de Andrade escreve quando passa ao papel o grito "É urgente destruir certas palavras,/ Ódio, solidão e crueldade,/ Alguns lamentos,/ muitas espadas." Ou talvez seja e o postador é incapaz de ir além da compreensão do poema para lá das circunstâncias em que se encontra. Eu sei que a paixão que nos foi transmitida, havia já entrado este dia, pelo Vasco, não é a da guerra, não é a daquele monstruoso general espanhol que gritava "Viva la Muerte" (numa sala em Salamanca, reza uma lenda, onde António Machado tinha acabado de falar sobre a cultura portuguesa) quando as tropas nazis se preparavam para estilhaçar a Europa. Mas a paixão sobre Segunda Guerra Mundial, os contornos que a anteciparam e que a fizeram grassar vidas, Vida, para a alegria daquele moribundo espanhol que apenas respirava, e expirava ódio e crueldade, foi trazida ao clube através de um filme, "A Queda", que mostra tudo, mostrando muito pouco. Mostra que é preciso gritos como o de Eugénio de Andrade para que nos libertemos dos hinos à morte. Antes de dormir, e já depois de ter fechado os olhos, é preciso o poema para que tente, pelo menos o postador, apagar nem que seja por umas horas, o horror da morte, da crueldade, do ódio, da solidão, da cegueira, da ceifa que significa uma guerra. O pesadelo da possibilidade que venha um novo general a gritar vivas à morte e o pesadelo real da noite persistem, apesar de o poema continuar com outros gritos fortes, de que "É urgente inventar alegria,/ multiplicar os beijos, as searas,/ é urgente descobrir rosas e rios/ e manhãs claras." Numa manhã clara em que o fim da Segunda Guerra se anunciava, estava a dias de acabar, um conjunto de mães, maridos mortos-vivos nas trincheiras vêem os filhos perecer perante os seus olhos. O horror não parava. "Cai o silêncio nos ombros e a luz/ impura, até doer." Foi assim n'"A Queda", foi assim, multiplicado por milhares a horas da queda definitiva do regime nazi. Foi assim em outras tantas guerras em que o ser humano se transforma em monstro, vil, astuto, guerreiro, um merdas. A guerra apura os sentidos aos que a combatem, aperfeiçoa os instrumentos que depois se tornam usáveis por todos nós (as auto-estradas, o carros do povo - o volkswagen -, contava o Vasco em relação aos nazis), deixa dementes os seus líderes, os que se escondem em bunkers. A vertigem da guerra torna os negociadores mais aptos, salvaguarda normas que virão a dar em direitos que chamamos humanos, ajuda a definir ideais e horrores, obriga a escolher entre bons e maus. A guerra, esta guerra, fez-se de palavras que é urgente "destruir", usando o eufemismo de Eugénio de Andrade: poder, comando, obediência cega, raça, cor, religião, credo, nascimento, ascendência, morte matada... Peço desculpa se relato mais o filme e os meus medos do que a paixão do Vasco - poderá ele escrever aqui sobre ela melhor do que eu. Como quero dormir sem pesadelos, deixo apenas uma das notas que tomei no telemóvel, dita por Eva Braun à secretária cujas memórias permitiram este filme, horas antes de se suicidar, com o seu entretanto marido e líder de um povo que desprezava: "A vida vai continuar". É isso. A vida. Ou como termina o poema de Eugénio de Andrade, entre aquele 1939/1945 a viver como José Fontinha em Coimbra, "É urgente o amor, é urgente/ permanecer." É isso. A vida. Viver.