
A todos quantos estiveram presentes e me deram o privilégio (isto sou eu a delirar porque o presente vem carregado de veneno) de redigir este post e principalmente ao Rui, o meu muito obrigado.
Ontem, enquanto ía de carro até ao Pinguim, ouvi uma coisa que não ouvia há muitos anos, o 13 de Maio dos Xutos e Pontapés.
Lembrei-me, inevitavelmente, daquilo que significa o 13 de Maio e senti mais uma vez que continuamos na mesma.
Já vem sendo habitual, ao longo dos anos dizer-se que Salazar usava o Fado, o Futebol e Fátima para distrair o povo para traçar a sua grande estratégia sem que houvesse muito alarido. Esta é uma situação típica em sistemas como o antigo regime, e não querendo comparar, alguns artistas como Chico Buarque ou Vinicius de Moraes falavam desta situação no seu país, mas numa escala mais preversa.
O Fado de Amália, o Futebol de Eusébio e Fátima, o centro do fanatismo católico em Portugal. Poderíamos estar a falar disto como uma coisa passada, algo que está enterrado num Portugal diferente que alguns tentam esmagar. Mas a memória não se apaga quando os factos continuam bem presentes e vivos, no entanto encobertos. E que melhor dia para falar nisto pode haver?
Hoje 13 de Maio, último dia da Queima das Fitas da Academia do Porto, véspera da Final da Taça de Portugal. O povo continua distraído!!! Caminham uns num desespero de lamúrias lavadas em àgua benta, e de promessas cuidadosamente atiradas para o reino anárquico das velas, outros caminham trôpegos pelo meio de um chão imundo e de um cheiro insuportável a urina com 5 dias, envergando o diploma numa mão e o freepass para as urgências na outra, os últimos gritam o golo com a raiva e a força com que gostariam de mandar o patrão à merda. Do outro lado já não está Salazar, está uma democracia, um estado social de direito, a evolução de Abril. Mas o povo continua agarrado aos três F’s, que estranho! E a liberdade de expressão, o protesto pelos direitos dos mais fracos e oprimidos, o voto livre e universal, a consciência cívica e a evolução cultural? O povo quer é festa! E já não é só o povo, meninos burgueses também... Ah os senhores doutores do futuro do amanhã, tão bêbedos que eles estão, que engraçado! -Avé Maria cheia de graça... olha que mal vestida que esta vem, Santa Maria mãe de Deus... rogai por nós sim que não só somos pecadores como também somos mercenários, -As velinhas é o que quiser dar, só uma contribuição! – Ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh Filho da Puta!
Dos fanatismos à decadência, da mediocridade à estupidez, não há limites.
Fico então em casa, em pânico, até que de repente um senhor canta no rádio «Não te aflijas que tudo vai já passar», então fecho os olhos e acalmo a inquietação... não é fácil!Estátua de Lenin, António Manuel Rodrigues
O Szobor Park (ou parque das estátuas) fica em Budapeste, na Hungria. Estive lá o ano passado e estas fotos são das minhas preferidas de 2005, a minha primeira intenção era vendê-las como reportagem mas ainda ninguém as quis publicar, até este momento muito poucas pessoas as puderam ver...
Depois da queda do comunismo na Hungria, como em todo o bloco de leste, as estátuas e memoriais foram retirados da rua. Mas, ao contrario do que aconteceu nos outros paises (em que estas obras foram encaixotadas e desapareceram em garagens e armazéns), a Hungria iniciou uma discussão pública sobre o que fazer a todo este material de propaganda. A conclusão, talvez fruto de décadas de comunismo "goulash", foi simples: a propaganda devia desaparecer das ruas, mas não se podiam apagar e esquecer décadas de história do país.
Decidiu-se então pela criação de um museu que lembrasse a ditadura. Deixem-me frisar que não se trata de um museu ao comunismo, mas à resistencia contra a ditadura, algo que os hungaros sempre fizeram!
A opção politica pode parecer dúbia ao visitante, tratam-se de esculturas que começam pela "libertação" pós segunda guerra mundial e terminam na "exultação" dos dirigentes comunistas hungaros e soviéticos. Mas confesso-vos que esta visita juntamente com o (minúsculo) museu do comunismo em Praga me explicaram mais sobre este período e esta região do que anos de história no secundário e de informação que (como todos nós) recebi na minha formação pessoal, seja pela leitura, pela televisão ou pelos meios de comunicação social...
Ákos Eleőd Junior, o arquitecto que o desenhou, diz o seguinte:
"Este parque é sobre ditadura. E ao mesmo tempo, porque se pode falar sobre ele, descrito, construido, este parque é sobre democracia. No fim, só a democracia é capaz de nos dar a opurtunidade para pensarmos livremente sobre a ditadura. Ou sobre a própria democracia. Ou sobre tudo!"
Na loja de "souvenirs" podemos encontrar desde CDs com a internacional, a miniaturas Trabi (também têm um exposto, mas ainda são faceis de encontrar a rolar pelas ruas) a t-shirts dos mais variados motivos...
Vista geral do parque das estátuas, António Manuel Rodrigues
Robert Doisneau
PS - Propositadamente não deixo quaquer informação, fico à espera dos vossos comentários. Já é altura de mexer o blog e aproveito para preparar o meu regresso em força...