Esvaziam-se os cinzeiros, o fumo dissipa-se e fica visível um mundo novo.
2008 começa sem um dos factores culturais mais importantes na História de um país mediterrânico como Portugal.
Nos livros, desde a minha adolescência que lia o prazer de enrolar um cigarro ou fumar um cachimbo das personagens. Nas fotografias Coltrane, Parker e muitos outros mostravam que o Jazz não vivia sem o fumo dos seus cigarros. No cinema, a rebeldia de James Dean ou a estética Boggardiana seriam vazias sem o pequeno cilindro de tabaco aceso no meio dos dedos. Sartre, Kafka, Freud, Faulkner ou Hemingway perfumaram as páginas dos seus livros com o tabaco mais suave para que a leitura corresse como uma nuvem.
A noite foi criada pelos boémios para os boémios. Nas mitologias grega e romana não consta que Diónisos ou Baco fossem dois coninhas preocupados com o fumo passivo. A sua importância na história da sociedade ocidental reflecte-se na Filosofia. O ócio e o fausto das nuvens de fumo nos speakeasy's de Chicago toldam uma memória e uma forma de vida que nunca hão-de morrer.
Mas é o puritanismo mesquinho e hipócrita que o homem vem alimentando desde sempre que está a matar uma cultura, uma liberdade individual, um prazer. E quem mata o prazer não merece um minuto de felicidade.
O fumo desaparece dos espaços públicos e as notícias mostram os protestos contra o Ministro da Saúde, uma fábrica que fecha em Santo Tirso sem aviso prévio aos trabalhadores, os acidentes de viação continuam e há pessoas mortas a tiro na passagem de ano.
Nem tudo o fumo levou! Feliz Ano Novo!
6 comentários:
E dizias tu que nada mudava!
Era um bom motivo para apelar à desobediência civil.
A noite é dos boémios, a noite é do alcool, a noite é de conversas e de danças, a noite é banhada pela luz da lua, a noite não é saudável.
Não há frutinha á noite, não há dietas à noite, não há programas de como perder o peso na nossa noite, não há preocupação com o abater a barriguita quando estamos sentados a uma mesa a fumar e a beber.
Roubaram um prazer da nossa noite, o prazer de fodermos a nossa saúde.
Mas há tiros na passagem de ano...
Nada como uns cigarrinhos à chuva...a acompanhar o café da manhã, da tarde, ou da noite...
Beijinho
Muito bom post.
Viva o fumo e como diz muito bem o Filinto, há que apelar à desobediência civil!!!!!!
Eles andam aí os delatores:
http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/%2Bh6OZ6bYA4WW000zFX%2BQcw.html
2008 constará nos anais como o inicio da era asséptica dominada por uma escol acéfala.
Ainda assim , e com muita desobediência, Feliz 2008.
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