terça-feira, 19 de maio de 2020

Gin

Pela terceira vez nesta quarta temporada o clube dos pinguins juntou-se, ainda fora da cave, para mais uma partilha de paixões. Desta vez foi o Tiago que nos presenteou como uma apresentação sobre a sua grande paixão, o Gin.

O interesse por destilados começou por intermédio dos seus pais que tinham por hábito a realização de cocktails, como gin tónico e dry martini, nos encontros familiares. O gin que bebericavam era Gordon's, um grande clássico, com a famosa rodela de limão num copo de tubo.
Andando para frente uns anos, é por volta de 2013/2014 que, ao voltar ao seu emprego antigo conheceu quem viria a ser a sua futura sócia. Foi esta mesma sócia, Rute, que o iniciou na degustação dos chamados novos gins, com algum esforço visto que, o Tiago achava que aqueles aquários cheios de gelo, salada de frutas, pouco gin e muita tónica era uma "paneleirice". Ao provar um Martin Miller's com zimbro e lima a sua opinião mudou completamente, um novo mundo de sabores estava à sua frente. Continuou a experimentar e a comprar mais gins diferentes e no dia dos namorados de 2016 a sua esposa, Daniela, ofereceu-lhe o livro "Vamos Beber um Gin?" que rapidamente leu e a ideia de fazer o seu próprio gin começou realmente a formar-se. Leu bastantes livros dos quais destaca "The Drunken Botanist", foi a Londres fazer um workshop de como abrir uma destilaria e concluiu também o nível dois de destilados pela WSET Awards.
Num jantar de família virou-se para o seu padrinho, "Oh Teles vamos fazer um gin.", "Está bem.", respondeu este sem dar grande importância, sem saber que o Tiago falava muito a sério. Começou por pensar no nome, GinT, de Tiago e Teles. Em dezembro de 2017 comprou 40 litros de vodka e fez algumas destilações, "É pá, aquilo era horrível.", pensou o Tiago, mas prosseguiu nas suas experiências tendo bastante dificuldade em arranjar fornecedores. Chegou então à sua receita final, zimbro, semente de coentro, cássia, angélica, flor de sabugueiro, casca de laranja doce, cravinho, noz-moscada e o ingrediente diferenciador a casca de figueira. Este último ingrediente vem da vontade de criar um gin que tivesse algo de sua identidade, o aroma da infância que sentia quando aproveitava a sombra das figueiras nos terrenos do norte. Durante o início de 2018 correram o país a dar a provar algumas amostras e em maio nasce o GinT Rubro, um gin com 58% de álcool (o mais forte em Portugal) mas com uma suavidade e um sabor incríveis. A garrafa em formato de balão Erlenmeyer e a rolha de cortiça natural elevam o gin transparecendo a atenção ao detalhe do Tiago. (ver imagem seguinte)
Posto isto, foram ao Lisbon Bar Show e tiveram críticas muito positivas, mas foi na Junipalooza 2018 em Londres que se afirmaram, apesar de estarem ainda a começar, tiveram muito sucesso e venderam bastantes garrafas. Conseguiram distribuição no estrangeiro e o negócio começou a rolar de uma boa maneira. Em 2019 eu tive o privilégio de acompanhar o Tiago e a Rute à Junipalooza onde vendemos cerca de 80 garrafas em dois dias e onde testemunhei em primeira mão o quanto o público fica maravilhado a degustar este gin, é sem dúvida dos melhores do mundo e para mim o melhor português que já experimentei. 
Agora em 2020, já com duas medalhas de prata e uma de bronze, o negócio estava a correr bem e já existia uma nova receita, menos alcoólica e não tão seca, para entrar numa gama ligeiramente mais baixa e dar a possibilidade a mais clientes de provarem o que o Tiago consegue fazer com um alambique. Infelizmente com o vírus que anda por aí esta receita ficou em suspenso mas, sendo o Tiago uma pessoa que nuca pára, vai lançar brevemente uma edição limitada chamada Heads & Tails. Receita esta que, como explicado na sua apresentação, vem do desperdício que se tem na destilação, dado que, só é aproveitado a parte central, Hearts, procedendo-se depois a uma nova destilação deste desperdício e nasce assim esta edição. Para terminar gostaria de mencionar o grande esforço que o Tiago demonstrou para seguir a sua paixão e a capacidade de ter uma destilaria com praticamente nenhum desperdício, quer seja no aproveitamento do álcool como referido mas também no aproveitamento dos botânicos que após destilados ainda têm muito para dar, realizando em parceria comigo e com o grande Paulo Pires os primeiros bitters portugueses que brevemente também entraram no mercado.

Assim me despeço esperando ter feito justiça à belíssima apresentação do mestre destilador Tiago Sanches.
(Já agora bebam muito GinT que o vosso palato agradece e o Tiago também.ahahah)   


  

 

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