segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

"Como água para chocolate"

Na sessão do dia 2 de Fevereiro, a nossa amiga pinguina Olga, levou-nos ao cinema da nossa cave (porque também já a adoptei!). Começou por apresentar o filme, baseado no romance da escritora mexicana Laura Esquível, "como água para chocolate", adaptado para cinema pelo seu próprio marido Alfonso Arau.

O tema inspirava logo, principalmente para quem gosta de chocolate como eu!
Contudo, mais do que o chocolate em si, que aparece uma vez como ingrediente, é a forma como é preparado, em água a ferver.

Como a água para o chocolate é o ponto de ebulição que lembra um momento, um estado de prazer afrodisíaco, o extase.

No género de obra latino-americana que lembra as fantasias, por exemplo de Isabel Allende na Casa dos Espíritos, o contexto histórico das guerras civis entre extremas direita e esquerda, as histórias que rodam à volta de famílias tradicionalistas, conservadoras, campestres, quase isoladas e o papel da mulher na sociedade de então, são ingredientes fundamentais para marinar uma boa história recheada de contradições e paixões.

Descreveria esta obra pelo simbolismo que carrega. A paixão de Tita e Pedro é o fósforo de todo o enredo, que consome cada personagem e no fim se consome a si própria.

Começa com a narradora da história, sobrinha de Tita, na cozinha a cortar uma cebola. Porquê uma cebola? Acho que é por fazer chorar! O mesmo choro das lágrimas de Tita que, ao nascer em cima da mesa da cozinha, se transformou em sal!
Outro ingrediente que parecia fundamental era o destino. A ordem pré-estabelecida e a tradição da filha mais nova não se casar para poder cuidar da mãe até à morte.
Cingida às lides domésticas, é na cozinha que Tita se expressa, reage a este destino. O sentimento e as emoções combinam com os ingredientes mais curiosos como pétalas de rosa, enfeitiçando todos os que saboreavam as iguarias. Transformando a mãe, frigida com o tempo (vítima do mesmo peso de filha mais nova), libertando o padre das amarras de castidade, despertando a paixão de uma das irmãs de Tita por um soldado revolucionário em fuga, montados num cavalo, ela nua agarrada a ele.

Lembro-me de outro símbolo curioso, o da manta que Tita ia costurando à medida de cada contrariedade.

No fim discutiam-se as escolhas de produção e estilos de representação do elenco. A "beleza" da actriz Lumi Cavazos também não foi indiferente fazendo-nos recordar a imagem das mulheres antigas, latinas e de rosto sereno.

Com este filme recordamos também as nossas memórias da cozinha antiga, do lar todo em pedra, espaço de estar, de cozinhar, preparar e comer.

Foi um excelente serão que me despertou para a leitura deste livro! Obrigada Olga por este momento bem passado!




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