segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Guerra dos Botões

Actualmente grande parte da população das cidades tem a sua origem em meios rurais, facto que se comprova, por exemplo, pelo deserto em que transformam, nas poucas horas que precedem a ceia de Natal. E isto mesmo se pôde verificar esta quinta-feira entre a plateia do Clube dos Pinguins, desde o Rui e a sua infância em Vouzela até à minha, em São João da Madeira. E foram esses tempos a jogar à bola na rua e a subir às árvores, longe da Playstation e da televisão por cabo, uma das razões que permitiu apreciarmos e nos identificarmos tanto com o ambiente em que decorre A Guerra dos Botões: a França rural dos anos 60. E não se pense que crianças a beberem álcool e maus tratos infantis são fenómenos só do nosso país!

A história centra-se num pequeno conflito entre as crianças de Longeverne e de Velrans, duas pequenas aldeias vizinhas, e de como este começa a escalar e a requerer uma enorme organização entre as crianças, com uma série de problemas decorrentes dessa tentativa de organização. Pelo meio desfilam criativas e engenhosas estratégias de combate, que tiram partido dos limites que os adultos impõem às crianças, contrastadas com uma sensibilidade que surge nos momentos mais inesperados.

O realizador, Yves Robert, acaba igualmente por satirizar o mundo dos adultos, abordando tópicos como uma “igualdade” onde há ricos e pobres, e trabalhadores que trabalham sob chefes que vêem trabalhar; as guerras e a sua falta de sentido, onde todos se prejudicam e ninguém é beneficiado; o papel predestinado às mulheres naquele tempo. Enfim, um reflexo muito peculiar da sociedade.

É particularmente interessante o exercício de comparar a liberdade de um realizador em 2010 e em 1962, ano em que este filme foi realizado. Se pensamos que actualmente tudo é possível, com esta obra apercebemo-nos que, entre outros, os enormes escândalos de pedofilia que assolaram recentemente a sociedade ocidental, o fundamentalismo anti-tabagista, o hiper-proteccionismo a que as crianças são sujeitas e, se calhar, até o caso Maddie, nos fizeram perder algo, plantando no subconsciente colectivo uma série de regras não escritas.

Concluindo, são 89 minutos muito bem passados, repletos de nostalgia e que acabam por ser uma pausa no mundo politicamente correcto de hoje em dia. E para quem gostou, vai haver mais do mesmo na próxima sessão!

2 comentários:

Hugo Pereira disse...

De facto, um filme bem nostálgico!!

Nós é que nos divertíamos a esfolar os joelhos. Agora, os putos divertem-se a ficar com calos nas pontas dos dedos...

Aguia disse...

Desde já tiro o chapeu ao Andre pelo excelente post :)

DE facto um grande filme. que aborda problemáticas muito muito actuais.

Sou um rapaz da cidade, e ao ver o filme tentei adaptar a minha vivência no meio dos prédios, aquela que os miúdos tiveram entre as arvores... E de facto é parecido, mas menos , digamos, saudavel...

Um grande filme que da para pensar... reflectir e analisar os comportamentos dos miudos de hoje em dia...

Se bem que cada geração tem as suas referencias... Podemos dizer que as consolas dominaram as brincadeiras dos miúdos, e a internet é o seu jardim de brincadeiras... mas quando eu era puto os meus pais e avos também me diziam muitas vezes "Hoje em dia vcs teem tudo, na minha altura brincávamos com uma roda de um carro, ou construíamos nos os nossos brinquedos..."