sexta-feira, 21 de março de 2008

Canção Primaveril

Anda no ar a excitação
de seios súbito exibidos
à torva luz de um alçapão,
por onde os corpos rolarão,
mordidos!

Ou é um deus, ou foi a Morte
quem nos vestiu este torpor;
e a Primavera é um chicote,
abrindo as veias e o decote
ao meu amor!

Esqueço que os dedos têm ossos:
é só sangue esta carícia;
apenas nervos os percoços...
Mas nos teus olhos, nos meus olhos,
a luz da morte brilha.

David Mourão Ferreira

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