“Falava com o meu pai sobre o 11 de Setembro quando ao fim de algum tempo, percebi que ele referia-se ao 11 de Setembro de 1973”.
Talvez esta situação despertasse a curiosidade do Filinto. Talvez aqui ele tivesse percebido que toda e qualquer situação é passível de diferentes interpretações.
E foi isso que o Filinto nos trouxe. 11 diferentes formas de abordar um acontecimento que mudou o mundo.
Alain Brigand, convidou 11 realizadores a contar a sua visão do 11 de Setembro de 2001, por altura do seu 1º aniversário.
Samira Makhmalbaf, Claude Lelouch, Youssef Chahine, Danis Tanovic, Idrissa Oudreaogo, Ken Loach, Alejandro Gonzalez Inarritu, Amos Gitai, Mira Nair, Sean Penn e Shoei Imamura, oferecem-nos “11 perspectivas” (no Original 11’09’’01 – 11 minutos, 9 segundos e 1 frame).
Um filme composto por 11 curtas com a duração correspondente ao titulo do filme, em que cada autor nos surpreende com a sua arte de narrar.
Com o visionamento do filme de Inarritu, o Filinto introduz-nos no horror do 11 de Setembro. Com muito ruído de motor de aviões, telefonemas de despedidas e frames de PESSOAS a saltar, descobrimos a impotência, o desespero de quem recusa acreditar que
o homem com a foice lhes tocou no ombro. E uma grande questão: “A luz de Deus guia-nos ou cega-nos?”
- Acendem-se as luzes para respirar e acima de tudo descomprimir. Os aviões a chocar contra as torres, mesmo volvidos 6 anos, continuam a arrepiar, mas as opiniões dividem-se. Deus, politica, terrorismo, indivíduos. As opiniões continuam a jorrar de bocas que tentam disfarçar o mar que se formou nos olhos. E as luzes apagam-se. –
“Queridos Pais… em 11 de Setembro foi cometido o mais vil ataque aos valores da democracia… os aviões sobrevoaram os céus… a multidão fugia, corpos jaziam pelo chão… a dor é carregada pelos que perderam os entes queridos … os terroristas são perseguidos… Queridos Pais, escrevo-vos do exílio com saudades da terra onde nasci e que o 11 de Setembro de 1973 me roubou.” - Ken Loach não consegue dissociar os dois 11 de Setembro, e mostra-nos a arbitrariedade humana.
Quando falamos gostamos que nos escutem, mas por vezes criamos tanto ruído com o que dizemos que esquecemos que alguém também tem algo para nos dizer.
Amos Gitail, realizador israelita, traz-nos a relativização dos problemas. Uma jornalista em Jerusalém tenta a cobertura televisiva de um atentado perto de um mercado. Mas como se não lhe bastassem as dificuldades no terreno, o estúdio recusa-lhe o directo… “ mas aqui morreram pessoas… foi um carro armadilhado… o senhor viu o quê?... eu sei o que aconteceu no 11 de Setembro … Torres em Washington?... um atentado perto do mercado…” , palavras vãs para quem recusa ouvir que o mundo acabou de mudar.
Para outros o mundo desaba ao alvorecer. Num mundo de sons, há quem procure Amor nos silêncios e ainda que mega-toneladas de décibeis façam vibrar o ar em sua volta, nada faz esquecer o Amor que se perdeu, os sonhos que não se cumprirão. Isto diz-nos Claude Lelouch. Mas não só. Também nos diz que a muralha que colocamos em nosso redor, a recusa em ver além do nosso umbigo, um dia se desmorona diante de nós. Felizmente Lelouch acredita num final feliz.
E se de finais felizes se trata, porque não observar o milagre de uma flor que renasce? Sean Penn traz-nos uma dor que se carrega todos os dias. São muitos os rituais que se encontra para camuflar a dor, para afastar a dor, para compreender a dor. Mas a dor está lá todos os dias. E está com todos. A dor não é apenas americana. Ela é universal, e não apenas porque o desabar de uma torre nos ensombra o Dia.