Por esta altura, já se estarão a intrigar: "Mas porque raio esta Márcia tem de escolher títulos tão desmesurados nos caracteres?". Eu sei amigos, perdoem-me a emoção não contida e palavrosa mas desta vez apoiar-me-ei na justificação de que o nosso queridíssimo Hugo dividiu a sua sessão em duas. Ora, o que é o dobro em exposição, poderá também sê-lo em transcrição. Feito este inútil preâmbulo, passemos ao que nos traz a esta leitura que, não, não é sobre mim (bem lembrado!).
No passado dia 16 de maio, a cave pinguina converteu-se numa pequena e catita exposição com fotografias acompanhadas de descrições que se vislumbravam desde as paredes, aos bancos onde também se apoiavam, inundado o espaço de uma partilha e sapiência agora material.
Essa instalação gênero "anti-museu", onde as peças são o mote para chegar a um testemunho pessoal e a vivas cores, foi o mote para contar cada uma das histórias que o Hugo ali tinha representadas em recorte. Curioso. Lembro-me como se de há uma semana se tratasse. O Hugo dizia "Quando expus estas fotografias pela primeira vez, um indivíduo queria comprar-me uma por 50 euros e leva-la no momento.". E assim recordamo-nos de que o valor do tempo se sobrepõem ao outro. Respeite-se a respiração da arte para inundar ainda mais olhos!
A primeira sessão sobre os "Caminhos de Santiago" foi uma alegre e viva partilha de histórias, acontecimentos, coincidências e revelações que o Hugo prontamente guiou, qual peregrino errático.
A coincidência mais particular e bonita que nos fez chegar teve como protagonista uma libelinha. Para quem não esteve, não revelarei demais. Há histórias que nos fazem ter que estar nos lugares. Acrescentarei apenas que quando encontrarem a vossa libelinha em repouso, como se vos recebesse, saberão que o Caminho segue em bom vento. Estarão prontos.
Mas afinal o que é isto do Caminho? Um passeio? Um cumprir de um objetivo? Uma vã tentativa de deixar o sedentarismo?
Na segunda parte desta bonita sessão, dia 22 de maio, abreviamos caminho mas fizemo-lo juntamente com quatro amigos que se aventuravam pela primeira vez nesses percursos. Foi através do filme The Way, de Emilio Estevez, que este feito se concretizou e, durante duas horas, vivemos os desafios, as alegrias, as inquietações e as vitórias de cada uma das personagens.
Cada um destes quatro protagonistas tinha uma meta diferente, um objetivo decorado a quem lhes perguntavam como se matéria de conhecimento público se tratasse. Mas os caminhos do Caminho são misteriosos e, no final, percebemos que esses sonhos que lhes boiavam na língua não eram os mesmos que surgiram revelados ao chegar à meta final. A verdade é que ninguém sabe porque percorre o Caminho até o fazer. E é no final que nos inteiramos de que o finalizar é, simbolicamente, morrer, já que o tesouro é a própria viagem que só se descobre quando o que sobra são as histórias, as amizades, as reflexões, as perspetivas, os milagres.
"A vida não se escolhe, vive-se". Talvez a escolha seja viver e a vida a sua consequência. Seja como for, considero que a experiência dupla a que o Hugo nos proporcionou, nos moldou os olhos, a mente e a alma, para mais uma forma de nos transcendermos e sermos maiores do que os dogmas a que nos fomos habituando para não ir. Viver não é preciso, Caminhar é que é preciso!
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