Viagens no tempo
Desta vez, tinha
mesmo de ser eu a escrever o post. Por três razões: em primeiro lugar porque já
não escrevia há anos – uma vergonha; em segundo lugar porque o Hugo, antes de
começar a sessão, perguntou quem seria o voluntário enquanto me atirava um
olhar irresistível, com as pupilas dilatadas; e, em terceiro lugar, porque eu não
consigo realmente imaginar tema que me fascine mais. Quem me conhece sabe
disso, e o Hugo sabia: umas horas antes da sessão, para me convencer a não
faltar, enviou para o meu gtalk duas
palavras-chave: “Quantics… Heisenberg… aparece!”. E eu fui logo a correr.
Na
verdade, a sessão consistia num documentário sobre viagens do tempo. Portanto, o
Heisenberg e a mecânica quântica só apareciam lá para o fim; o protagonista
clássico deste assunto, como toda a gente sabe, é o Einstein. Mas tudo bem, não
me senti defraudado.
Acima de tudo,
como sempre, foi uma sessão divertida. Até teve um certo tempero sexual: alguém
desconfiou, a dada altura, que o documentário tinha sido disponibilizado por um
canal suspeito, um tal «Ânus TV» que, alegadamente, apareceu listado no ecrã do
portátil do Hugo (não posso confirmar isto, não vi com os meus próprios olhos).
Mas a ideia não é totalmente descabida: de facto, a teoria da relatividade
geral é cheia de buracos negros, túneis, alongamentos do espaço, comprimentos e geometrias, etc, etc... :)
Agora a sério: o
que eu achei do documentário? Bem intencionado, mas fraquinho. Demasiado sensacionalista e, pior
ainda, muito impreciso. Não era a plausibilidade das teorias ou o aprofundamento
teórico da temática que estavam em causa. Tudo tinha de ser equacionado em
termos de uma utilidade prática: afinal de contas, quanto tempo é que ainda vamos
ter de esperar até podermos comprar um bilhete (económico) para o futuro ou
para o passado? Em suma, o documentário parecia realizado por uma criança histérica
acabadinha de sair de uma sessão do “Regresso ao Futuro”. Mas o pior, como eu
dizia, foram os erros técnicos. Só um exemplo: a dada altura, era preciso ilustrar
o modo como os objetos com massa deformam o tecido do espaço-tempo, deformação
que, por sua vez, cria alterações na trajetória (até) da própria luz. E eis,
então, que uma animação colorida nos mostra um feixe de luz a dirigir-se
diretamente para uma estrela, a desviar-se radicalmente quando chega à
imediação da estrela (como se esta tivesse um escudo), a contornar a estrela
num semicírculo perfeito e, por fim, já do outro lado, a retomar a sua
trajetória original. Pessoalmente, nunca ouvi falar em luz que saiba contornar
obstáculos (a não ser talvez através dos meta-materiais investigados pelos
militares para se criarem «mantos da invisibilidade», mas isto não é para aqui
chamado). Tenho a certeza que até os cientistas entrevistados para o
documentário devem ter ficado embaraçados quando viram – se é que viram – a
animação de que eu acabei de falar.
Não quer dizer
que não haja documentários do género igualmente apelativos, igualmente
sensacionalistas, mas rigorosos. Não posso deixar de fazer aqui uma pequena lista.
Duas das minhas minisséries favoritas são narradas por dois físicos conhecidos:
Stephen Hawking (que dispensa apresentações) e Brian Greene (um dos cérebros
por detrás da teoria das cordas). Estes dois senhores são grandes cientistas
mas também grandes divulgadores da ciência para leigos como nós. E as suas minisséries
são respetivamente:
“Master of the
Universe – A Brief History of Time”, de Stephen Hawking (2 episódios).
“The Elegant
Universe”, de Brian Greene (3 episódios).
É claro que o
ideal seria lerem os livros dos autores (que estas séries tentam sintetizar).
Aqui vai uma lista dos livros que eu aconselho:
Hawking,
Stephen, “Breve história do Tempo Ilustrada” (1996) – provavelmente o livro de
divulgação científica que mais me influenciou até hoje, mas tem um problema:
está já muito desatualizado.
Hawking, Stephen, “O Grande Desígnio” (2010)
– o seu livro mais recente. É pena que, neste livro, ele já não esteja tão
otimista quanto a certas possibilidades e a certas respostas. Em última análise,
a impressão que fica é que cada vez sabemos menos. (Eu sei que há muita gente
que adora o sentido poético desta conclusão, mas eu prefiro manter-me otimista).
Greene, Brian, “O
Universo Elegante” (1999) – Delicioso. Sobre as grandes questões e as grandes
respostas.
Greene, Brian, “O
Tecido do Cosmos” (2004) – Um pouco mais pessimista que o anterior, mas também
delicioso e lê-se com facilidade. Para fazerem uma ideia dessa «delícia», o
livro tem quase novecentas páginas e eu consegui lê-lo em quatro dias, estendido
ao sol numa praia alentejana. Dias maravilhosos.
Bem, este post
já vai longo…
Para
terminar, mando aqui o meu abraço ao Hugo. Obrigado pelo modo fascinado,
divertido e despretensioso com que nos trazes as tuas paixões.
Até para a
semana a todos (se o tempo e o espaço deixarem).
Filipe