sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Da revista popular ao urbano depressivo. Da vara à vareta. Da saída até ao onírico. Uma fusão ou algo que já seria natural? Um eterna procura ou uma obsessão??

“Eu sei, é preciso esquecer
desenterrar os nossos mortos e voltar a enterra-los,
os nossos mortos anseiam por morrer
e só a nossa dor pode matá-los.” […]
                                                    M. A. Pina


Aqui estou eu sentado na sala a pensar como escrever o resumo da sessão que o Hugo Valter apresentou ontem.

Durante estes anos procurei sempre fugir a escrever sobre paixões partilhadas porque dificilmente haverá distanciação. Neste caso, não pode haver distanciação nem interessa. Neste caso, não havia como fugir ao post.

Hoje acordei melancólico. Não é o melhor estado para escrever um resumo. Tanto, que ando aqui às voltas e ainda não cheguei sequer a dizer sobre o que foi. Porque sem vontade, há lágrimas livres a banhar-me as faces.

Eu sei, é necessário fazer um esforço. Isto é um resumo e o Hugo apresentou uma sessão extraordinária.   Não só pela paixão em si, mas pela excelente preparação e apresentação.

E não foi só uma paixão, foi ao mesmo tempo uma tão sentida e legítima homenagem a um dos maiores criadores que este país conheceu.

João Paulo Seara Cardoso (1956-2010)

Com um powerpoint cuidadosamente preparado e alguns videos para ilustrarem o percurso criativo do João Paulo Seara Cardoso no Teatro de Marionetas do Porto, o Hugo começou por nos apresentar uma pequena biografia. Depois começou por apresentar o percurso (que ele tão bem conhece, graças ao seu pai) do João Paulo até à fundação do Teatro de Marionetas do Porto. A partir daqui fez-nos uma viagem, mais do que bem documentada (e com pequenas histórias privadas) de todos os espectáculos levados a cena pelo Teatro de Marionetas do Porto com encenação do João Paulo Seara Cardoso (desafiando-me pelo meio a apresentar uma sessão sobre o "Miséria", aquele que ainda hoje considero o espectáculo da minha vida e, claro está, também é uma criação do João Paulo Seara Cardoso).

Estávamos poucos, muito poucos para o cuidado da preparação e para a qualidade da apresentação do Hugo. É o único dado negativo da sessão.

Para além da curiosidade natural de quem não conhecia a obra do João Paulo Seara Cardoso, creio que o Tó, o Filipe e eu fizemos uma viagem pelo nosso passado (como Hugo fez também ao preparar e apresentar a sessão). Os espectáculos do Teatro de Marionetas faziam parte do nosso quotidiano. Cada estreia era um acontecimento feliz, esperado com ansiedade e cada espectáculo trazia emoções, histórias e permanecia na memória. Por isto, o powerpoint preparado pelo Hugo termina com uma questão: Teatro de Marionetas do Porto, e agora???

Agora esperamos (como o Filipe bem o disse) que com o tempo o Teatro de Marionetas do Porto se reencontre e, digo eu, refloresça radiante para bem de todos nós.

Apesar de toda a nostalgia, fica como nota extra que depois da sessão, o Hugo, o Filipe, o Nuno e eu ficámos na cave a recordar, a conversar e a discutir até perto das 4h da manhã. E assim tão naturalmente celebrámos a AMIZADE!

Obrigado João Paulo!
Obrigado Hugo!  

2 comentários:

António Manuel Rodrigues disse...

E que grande viagem...
Um Homem que criava histórias e contava sonhos!
Seja o "Miséria", seja o "Cabaret Molotof" os seus espectáculos deliciaram todos os que acompanharam o seu percurso...
Um obrigado ao Valter e ao Rui, e um grande bem-haja ao João Paulo!

Hugo Valter disse...

Rui,
Muito obrigado por este post maravilhoso. Sei que não te deve ter sido nada fácil pois, também me custou muito preparar esta sessão e mentalizar-me que a tinha que fazer com um sorriso na cara...
É bom depois deste esforço todo receber um elogio tão grande.
Mais uma vez obrigado e um bem-haja ao João Paulo, como disse o Tó!