O escritor alemão, prémio Nobel da Literatura, Günther Graas, admitiu esta semana, na vépera do lançamento da sua biografia, que ingressou nas SS do exército alemão na sua juventude, durante alguns meses.
Ao saber disto a comunidade internacional insurgiu-se (vai se lá saber quem ao certo) e sugeriu que o escritor deveria abdicar do prémio Nobel.
É verdade que Graas é considerado um ícon moral, tal como foi referido nos noticiários, e que se pode pensar que defraudou de certa forma as expectativas dos seus leitores em relação à sua pessoa. No entanto, parece-me exagerada esta reacção. Acima de tudo, um prémio como este é atribuido pela obra, pelo contributo artístico do autor. Saramago também se assume como estalinista e ninguém reclamou até hoje. O próprio Papa Bento XVI marchou com a Juventude Hitleriana e não é isso que o impede de espalhar a mensagem de Deus pelos homens.
Comente sucintamente a situação exposta, tendo em conta que já foi retirado um outro prémio ao autor, pelo mesmo motivo. (6 valores)
4 comentários:
Confesso que quando ouvi esta notícia a minha reacção foi bastante passiva:
"Pronto, confirma-se... 'Tá tudo doido!"
Agora, já que o Jorge decidiu inflamar o blog, acho que tenho que responder...
Voltamos a discutir o medo... Essa coisa terrível que nos humaniza perante os animais e desumaniza entre nós próprios...
O senhor Günther Graas confessou que pertenceu a um dos mais terríficos grupos de seres humanos que a história já viu.
(Desculpem-me o aparte mas isto é noticia e é assim que elas se fazem, mas como muitas das noticias que nos chegam é apenas meia verdade...)
A segunda parte da história é que o homem passou por lá alguns meses no desespero do fim da guerra.
Não me parece, portanto, que este motivo justifique qualquer tipo de repreensão sequer... Ele não cometeu crimes que o envergonhem...
Para não me alongar há apenas duas conclusões que quero tirar:
1ª - As SS produziram "monstros", na sua grande parte eram assassinos sem consciência escolhidos a dedo, suficientemente aterradores para ainda hoje se temer o seu nome;
2º - A fama (ou trabalho bem sucedido) provoca em algumas pessoas sentimentos mesquinhos (ou invejas), ter o poder de cruxificar alguém do tamanho de Günther Graas será uma glória para algumas destas pessoas...
PS - limito-me a deixar mais estas achas para quem vem a seguir se aquecer...
O poder de cruxificar anda lado-a-lado com o poder de endeusar. Acontece porém que por vezes se descobrem nesses "deuses" feitos à pressa certos erros (independentemente das circunstâncias que os originaram) e nem nesse momento nos lembramos que o objecto de culto e agora de censura sempre foi um Homem.
Pobre Günther Graas que nasceu homem.
Bem... depois disto já não há muito a acrescentar. Pelos vistos estamos todos de acordo. Tó, concordo na perfeição com tudo o que dizes, mas acho que o Vieira resumiu tudo de uma forma excelente.
Apesar disso o nobel da literatura apenas designa-se ao seu trabalho literário e não tem nada com o seu passado. O que eu acho triste é que as pessoas continuem a pegar em assuntos de alhos para falarem de bugalhos e teimarem em fazer tempestades em copos de água, mas enfim...
em primeiro lugar a situação não é reproduzível, sequer imaginável. os jovens alemães vivam nessa época não só na ilusão, mas na mentira alimentada por uma máquina de propaganda inigualável..poucos sabiam ao certo o que se passava à sua volta. Depois, as SS eram maioritariamente uma força de combate de elite. De facto havia dois tipos de SS, a saber as Waffen-SS que eram isso mesmo (tropas de combate de elite) e havia as outras SS, as que faziam guarda aos campos de extremínio. Os homens que pertenciam às Waffen SS não podem só por isso ser considerados criminosos e assassinos, muitos deles eram apenas alemães dedicados ao seu país, como os "marines" eram aos EUA, ou os nossos comandos o foram em África. Lutavam pelo seu país. Pelas atrocidades de uns não podem ser todos condenados. As SS foram armas de guerra fantásticas, tropas de elite do mais alto nivel...De facto lá para meados da guerra já nem eram constituidas so por alemães..já havia indíviduos de leste, e até de ex-colonias alemãs! De qualquer das formas gostei da descrição da situação que foi feita por um escritor alemão de origens judaicas (nao recordo o nome) que vinha referida num artigo de opiniao do Público "é como uma família que descobre na véspera de natal que a adorada e conservadora avó, que não deixa a neta sair de casa de mini-saia, fora em tempo uma prostituta. Ninguém lhe perdoa, mas também não a podem por fora de casa...."
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