A expectativa era grande, não só por ser mais uma sessão do Fil, mas fundamentalmente, porque ninguém fazia a mínima sobre o tema que desceria à cave. Começou por relatar a sua crescente aproximação aos documentários-filme e consequente distanciamento da ficção. Fez-nos viajar pelos incontornáveis “Onibus 147” ou “A Marcha dos Pinguins”. Tudo para nos preparar para a paixão que tinha descoberto e iria partilhar.
“A História do Camelo que chora”, é um relato avassalador sobre o deserto de Gobi, centrado nas gentes que o habitam e no animal que virou sua mascote. Representados por Ugna, o míudo reguila e o orgulho da comunidade e Botok, o camelo albino que quis o azar, teve um parto difícil, fomos acompanhando o dia-a-dia no deserto. Botok e Ugna cativaram-nos desde o primeiro momento. Mostraram-nos que as fábulas reais também existem e que as “coisas normais” da vida também comovem (provavelmente bem mais que a ficção). Foi indisfarçável a nossa comoção a cada esgar de olhar de Ugna ou a cada choro suplicante de Botok.
Os Mongóis do deserto de Gobi habitam em pequenas povoações isoladas e que formam entre si uma teia de suporte. Acompanhámos neste documentário, um povo que vive da pastorícia (dromedários e gado caprino) e que tem no momento de nascimento dos camelos, um ponto fulcral da sua vivência e porque não, subsistência. Uma época marcada por rituais e preparativos, de forma a garantir que todos os novos “rebentos” nasçam e cresçam de plena saúde. E é aqui que Botok entra. Filho de um parto difícil foi rejeitado desde logo pela mãe (como vimos, acto normal nestes animais). Este foi o ponto de partida para um esforço incansável da população em unir mãe e filho, num acompanhamento total dos animais e com rituais típicos pelo meio. Quando todo o esforço da comunidade falhou, Ugna, acompanhado e protegido pelo seu irmão Dude, seguiram viagem até ao centro de todas as povoações em busca de ajuda. Nesta viagem vemos Ugna a descobrir os prazeres mundanos das comunidades maiores, sejam elas a nossa banal televisão (que custa aproximadamente duas/três cabras), as aulas de dança e música ou mesmo, as “grandes superfícies” que vendem pilhas.
Tudo está bem quando acaba bem. O Ritual Hoos, que mais não é que o tocar de violino (de duas cordas feitas de crina de cavalo) do professor que Ugna e Dude foram chamar e as preces cantadas de uma mulher local, conseguiu finalmente apaziguar mãe e filho e apagar todas as más memórias de um mau inicio. Antes de mostrar o seu afecto e acolher Botok, a mãe camelo solta uma lágrima. Acredite quem não viu que a imagem é tão bela quanto poderosa e marcante…
É certo que “A História do Camelo que chora” ganhou inúmeros prémios, é também certo que foi comprado pela National Geographic e é o primeiro da colecção National Geographic World Films, mas eu gostava mais de destacar que por juntar realidade, drama e magia em proporções iguais foi inúmeras vezes o preferido pelo júri do público.
Muito obrigado Fil.
quarta-feira, 13 de junho de 2007
Os Camelos tambem choram...
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12 comentários:
Podia dizer que gostei muito da sessão, que o documentário é muito bonito etc, etc, etc...mas como com os amigos não se tem de cumprir protocolo, posso dizer que fui invadida por uma crise da doença de Chron e respectivas cólicas insuportáveis e, como tal, não consegui prestar atenção ao documentário.
Não tenho grandes dúvidas relativamente à sua qualidade mas a minha opinião, essa, fica para quando o Fil me emprestar o DVD e conseguir assistir ao documentário sem ser eu, em vez do camelo, a estar com as lágrimas nos olhos :) Ficam, ainda assim, os parabéns antecipados para o Fil.
Quanto ao post, e pese embora não possa opinar muito pelos motivos que já expliquei, parece-me que está muito bom. Parabéns ao postador.
Não vou fazer grande comentário. Adorei o documentário. Mais do que isso, adorei o documentado. Peço apenas desculpa ao Fil porque estava cansado e não consegui desenvolver algumas ideias que acho relevantes neste assunto e que tem a ver com as paixões do Clube. Porque, de certa forma partilho essa paixão que tens pelo mundo, e a luta quotidiana contra o etnocentrismo. Muitos parabéns!
Ao Granel, parabéns pela prontidão do post e pela sua qualidade.
Ao contrário do habitual, inicio o comentário com uma palavra de apreço ao postador! Através das suas palavras fiquei rendido ao encanto do filme... sem nunca o ter visto.
Fui atrás do trailer e não fiquei nada decepcionado.
É nas coisas simples que encontramos a melhor forma de abordar temas complexos, e este filme parece tratar-se disso mesmo.
Dar os parabéns ao Filinto pela escolha do filme será desnecessário, mas ainda assim deixo o meu agradecimento por ter colocado este filme na minha lista de filmes a ver!
Fil tenho mesmo muita, muita pena de mais uma vez não ter estado presente, eu adoro documentários, e essa história é apaixonante, como é apaixonante conhecer uma realidade tão diferente da nossa como é a desse povo, que parece que vive num tempo só dele.Muitos parabéns...e tudo isso é poesia.
Granel este é sem dúvida um dos posts mais bonitos que escreveste, para não dizer que é o mais bonito. Emocionaste-me, as tuas palavras fizeram-me ver imagens lindissimas e ternurentas, o documentário inspirou-te.Adorei ler-te. Se pudessemos dar pontuação ao post, eu dava um 20. Parabéns.
Para quem não foi à sessão, como eu, é muito bom poder ler posts assim, porque nos faz viver um bocadinho do que vocês viveram ontem.
O Filinto já nos tinha presenteado com uma sessão dedicada à world music, agora ficou o world cinema. Sem dúvida um filme brilhante mas que ele foi engrandecido ainda mais com as pequenas informações que o Filinto lhe foi acrescentando. Muitos parabéns!
Excelente Granel, caro post!
O post da sessão diz tudo, apesar da promessa do Filinto que o documentário não seria "lamechas"...a verdade é que por várias vezes houve emoções contidas na cave...
Em jeito de desejo, seria optimo que a "magia" e o empenho, que permitiu recuperar de um "mau começo" (pegando nas palavras do Granel)no relacionamento entre mãe e cria, fosse extensivel às relações humanas...
Parabens a ambos, pela sessão, pelo post.
Começo desde já por pedir desculpas visto ter falhado a sessão do clube ( a semana não vai ter a mesma qualidade.. enfim)
Assim sendo em primeiro lugar, só me posso guiar pelo post, pois através dele consegui visualizar e entender aquilo que o documentário-filme provocou ao Granel e por consequencia do facto, acaba por provocar a minha pessoa. E em segundo lugar consigo entender esta paixão do Fil, pois sonhos secretamente ir a esse deserto.
De nov peço desculpa por não ter ido e dou os parabens tanto ao Fil como ao Granel.
Obrigados,
e obviamente o filme está disponível para quem quiser.
Granel,
reforço o agradecimento pelo post. Antes de o ler sabia que estava bom, de manhã quando o li tive a certeza e agora parece-me ainda melhor (no bullshit).
regressei à cave do clube e não me decepcionei o filinto soube receber como já o tinha feito na sua primeira performance,não estive até ao final mas troxe comigo a vastidão do deserto e a volúpia silênciosa da sabedoria daquela gente.obrigado filinto e parabéns granel por seres cada vez mais humilde.
Quando esse documentário foi exibido no cine Bombril (se não me engano) eu fiquei louca para ver, mas infelizmente não pude.
Recentemente eu, ao garimpar a locadora, encontrei ele, assisti e amei. Pena que poucas pessoas já o tenham visto.
Fico feliz em ver que outros blogueiros tb viram e gostaram.
Ah! Parabéns pelo seu blog, mto bom!
Esqueceram de registrar o fato de que, enquanto os mongóis vivem no deserto e tem tanto, nós os "civilizados", no meio do "tanto", não temos nada!
Na escola aprendí que os Mongois eram bárbaros. Esse filme me fez entender que os bárbaros somos nós!
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