domingo, 23 de julho de 2006

Juntos no Rivoli

Rui Rio decidiu há uns dias atrás por o Rivoli à venda de privados. A Câmara do Porto vai fazer uma consulta a companhias de teatro e até ao fim de Outubro deverá tomar a decisão e Rui Rio admite que nem todos os funcionários da Culturporto possam ter lugar no novo modelo de gestão.
Obviamente que esta decisão fez levantar muitas vozes e criar uma indignação total por partes dos artistas da cidade do Porto. Está-se a preparar uma vigília à porta do Rivoli, na segunda-feira às 19h e acho que todos nós deviamos comparecer. Entretanto já se levantou uma petição que qualquer um pode assinar em: Juntos no Rivoli onde podem encontrar mais informações sobre o que se está a preparar para combater esta medida da Câmara.
Não podemos deixar que a Meca artistica do Porto seja entregue a estranhos ou incompetentes. E que festivais como o Fantasporto fiquei severamente comprometidos, com graves riscos de perder a sua identidade, ou mesmo a sua preturberância.

15 comentários:

Anónimo disse...

Bem Hugo não quero ser do contra, mas eu concordo com este tipo de privatização de centros culturais. A gestão privada e profissional é uma das maiores e melhores formas de promover e melhorar a cena cultural. Senão veja-se o caso da Culturgest. É preciso acabar com a gestão por parte das autarquias, essa sim incompetente. E se essa iniciativa parte do Rivoli e abre portas para que outros sitios também o façam, então que assim seja.

A ideia é que a empresa que pegar no Rivoli se comprometa a fazer 320 espectáculos por ano, o que me parece uma meta interessante. Parece-me claro que não é por ser uma entidade privada que vai ser incompetente. Este é o futuro, e os intervenientes que não falem muito contra porque este pode ser o único meio de lhes dar emprego, e pagar a horas.

Quanto ao Fantasporto, não faltarão locais que o queiram albergar. Além disso já não é a primeira vez que se muda, e certamente que ninguém quererá tirar o Fantas do Rivoli. Isso são questões que têm de ser discutidas com uma certa calma e com seriedade entre as partes.

Vamos aguardar, não se percipitem nesses movimentos que muitas vezes em vez de serem perpétuos tornam-se toscos.

GRaNel disse...

Parece que o grande salvador da pátria é a gestão privada. O principio é em si correcto mas deixa-me certas duvidas. Por exemplo, se alguem faz x por y, se lhe tirar o lucro que x vai ganhar, fico com o mesmo serviço por menos dinheiro. E é aqui que esta onda de privatizações tem o seu ponto alto. Os nossos governantes assumiram a sua completa imconpetência e resolveram entregar as instituições. Que falta de ambição e de vergonha... mas é Portugal.

Cláudia S. disse...

Em relação ao Fantas, mais tarde ou mais cedo vai acabar por ser financiado inteiramente pela Câmara de Gaia, já que o Sr. Dorminsky é vereador da cultura em Gaia, e não podemos esquecer do TEP, que se mudou com armas e bagagens para Gaia, tendo como mecena o Sr. Filipe Menezes. Se as cooisas continuarem assim quem é capaz de comprar o Rivoli ainda vai ser a Câmara de Gaia.

Rui Vieira disse...

Quando se pensa em cultura com uma calculadora na mão, o resultado só pode ser um: falência da cultura.
Não me surpreende em nada esta atitude do Sr. Rui Rio. Para ele, assistir a uma peça de teatro de novos projectos emergentes de uma sã actividade cultural ou a um qualquer espectaculo do Sr. La Feria é exactamente o mesmo. Quem não tem sentido estético, não é capaz de ter sentido crítico.
Já pessoas mais jovens, potenciais beneficiarios de projectos culturais terem a mesma atitude, suscita-me alguma preocupação.

Rui Spranger disse...

Bem, estou na Lituania, e nos seus guias turisticos falam nos seus teatros e criadores, entre os quais o conhecidissimo Nekrosius.
E para os Lituanos, o teatro tambem faz parte do programa turistico, isto para ja nao falar do cultural, que orgulhosamente dizem ser apoiado pelo estado. E certo que a iniciativa privada pode trazer tambem coisas boas, mas quando em Portugal qualquer vilazeca tem um teatro municipal, parece-me muito estranho que uma cidade que se diz tao grande querer desfazer-se do unico que tem. E um perfeito absurdo!

António Manuel Rodrigues disse...

A gestão privada do Rivoli não me incomoda, incomoda-me a atitude (mais uma vez) do nosso excelcio presidente em calar as vozes que lhe são incómodas... O plano do nosso amigo cala de uma assentada a Culturporto onde ele nunca mandou, cala a Seiva Trupe reduzindo a companhia que mais trabalha na cidade (seja bem ou mal...), cala os pequenos grupos que trabalham por carolice e só podem sobreviver com ajuda e cala a cidade reduzindo a cultura ao "gosto médio", a expressão é do Dr Rui Rio... Sendo que isto pode significar uma futura programação entre a associação cultural de Ramalde de Baixo e as revistas do La Feria

hörster disse...

1. Gestão privada significa necessidade de lucro. Necessidade de lucro significa casa cheia. Pois bem, 320 espectáculos por ano de casa cheia não me parece que seja mau para a cultura!

2. Cultura de gosto médio? o que é isso? e cultura de gosto elevado? e de gosto baixo? pois se existe uma entidade privada que vai fazer 320 espectáculos por ano de casa cheia, nem que seja de cultura média, vai pelo menos aculturar mediamente a população. Isto para uma população que tanta gente diz não ter cultura...

3. Minorias. Elites. Ou o raio que o parta. (desculpem esta última...) Não sei porque é que está na moda defender as minorias. Sim, sem dúvida, têm o direito (e o dever) de existir, mas não me parece que devam prevalecer sobre as maiorias.

4. Fantasporto. Quem é que não quer acolher o querido fantas? Aliás, o único que me fazia ir de forma regular ao Rivoli. Caso não saibam, existem sessões do fantas, há já uns anos, a passar em salas do antigo cinema AMC Arrábida (que é em Gaia)! E podem crer que as condições audiovisuais de lá são, do meu ponto de vista, superiores às do Rivoli! Não tenho nada contra a que passe inteiramente para lá! Aliás, sendo o AMC o "supermercado dos filmes de cinema" até pode ser que o fantas comece a ter mais espectadores! E não é isto levar a cultura ao povo?

5. Privado. Serralves não é privada?

6. Chega de provocações. A verdade é que ninguém sabe a verdade. Vamos esperar para ver.

Rui Vieira disse...

Parece que este post suscita diversas opiniões o que é bastante salutar, especialmente porque nos dá a possibilidade do contraditório (numa expressão tão grata ao anterior governo).
Ter 320 espectaculos por ano com casa cheia seria seguramente um excelente objectivo se de cultura estivessemos a falar. Mas, infelizmente, sabemos que em Portugal e especificamente no Porto, não existe mercado com dimensão suficiente para alimentar tal objectivo.
Podemos questionar o porquê então de "teimar" em manter um espaço que não atrai publico suficiente. A resposta tem várias vertentes, mas a primordial é reconhecer a importância da cultura na formação civilizacional dos cidadãos. A Arte (em todas as suas expressões) reflecte e questiona a sociedade. Ela observa o mundo onde se insere, o seu passado e lança questões fracturantes para o progresso.
Ora isto é um objectivo bem diferente do entretenimento (ou gosto médio, como lhe decidirem chamar). O entretenimento usurpa o espaço de arte, desvirtua os seus objectivos fazendo o seu utilizador misturar o trigo com o joio. Assistir a uma peça da autoria de Jean Tardieu no Rivoli é seguramente bem diferente do que assistir ao Levanta-te e Ri, ainda que ninguém tenha duvidas sobre qual delas atrai mais publico.
Claro que o primeiro espectaculo destina-se a uma minoria e o segundo a uma maioria, mas deve o erario publico contribuir para o proliferar de individuos que ganham a vida a proferir impropérios? Ou deve por outro lado, assumir a sua responsabilidade e encarar a cultura como um investimento e não como uma despesa?
Salazar dizia que o povo português não estava preparado para a democracia... e eu concordo com ele. Por isso se mantinha tão preocupado em manter a Nação ignorante. Infelizmente para o regime que ele representava, uma minoria saía do País, contactava com outras gentes, aculturava-se e ia contagiando no pouco que lhe era permitido os que por cá estavam.
Agora, Salazar já não existe. Embora haja quem se comporte como tal. O desinvestimento que foi feito no Rivoli desde que Rui Rio chegou à Câmara é prova disso. Foi-lhe diminuindo o orçamento até que apenas cobrisse as despesas de pessoal. Nesse momento dá o golpe final. Porquê manter um espaço que apenas alberga os seus funcionários? Entretanto, essa imensa maioria "atenta" e sedenta de "Pão e Circo" concorda, esquecendo que foi ele que esvaziou o Rivoli da sua capacidade de cumprir com os seus objectivos.
Fazer paralelismos de uma gestão privada no Rivoli com Serralves não é o mais adequado. Serralves é uma fundação que mobilizou amantes da Arte e que por altruismo ou pura vaidade a fizeram crescer. Não é objectivo da Fundação Serralves maximizar o lucro para distribuir pelos seus accionistas, mas tão somente enriquecer o seu acervo e contribuir activamente para a divulgação da Arte.
Não querendo alimentar provocações, para isso já basta o panfletário site da CMP, um apeciador de Arte está habituado à ironia e sabe reconhecê-la quando a vê. Se o Fantas mudasse de armas e bagagens para Gaia não seria o fim do Fantas, seria apenas a prova cabal de que Gaia cresce e o Porto definha.

Hugo Valter disse...

Bravo, meu caro Vieira! Bravo! Estou sem palavras para tal lucidez... É bom saber que alguém compreende os nossos problemas... Bravo!

Hugo Valter disse...

Atenção! 320 Espectáculos??? Que número pomposo. Se virem bem as claúsulas do contracto bastam 4 espectáculos estarem em cena durante dois meses cada um e fazer mais um infatil ou outro para compensar os dias que faltam... A estatística é uma arma muito perigosa....

GRaNel disse...

Quando gerimos uma câmara temos de um só bolo, dar de comer a muitas bocas. É natural que uns tenham mais fome que outros e muitos reclamem por uma fatia maior. O importante é que cada fatia mate a fome a cada um. Eu faço parte do grupo doas que não votaram no Dr Rui Rio (até porque sou recensiado noutro concelho) e nem sequer gosto particularmente do homem mas se este é o caminho para o rigor orçamental e a prosperidade em áreas tão importantes como as áreas industriais, a habitação social e outros, não me importo minimamente que a cultura emagreça um bocadinho. Até porque a necessidade aguça o engenho e parece-me a mim que muitos dos meninos "cultos" que proliferam pela nossa cultura, fazem (muito) pouco por muito. Tá na altura de tambem eles apertarem o cinto.

Rui Spranger disse...

Bom, sei que ja ninguem vai ler este comentario. Em todo o caso parece-me que o Vieira foi muito lucido no seu comentario. (Ja agora muito obrigado pelo Tardieu).
Miguel, quanto a apertar o cinto, e o que andamos a fazer ha muitos anos. Ate ha bem poucos anos a camara do Porto apoiava com subsidios praticamente todas as companhias de teatro, alem do mais, comprava bilhetes para que as populacoes mais desfavorecidas pudessem assistir gratuitamente a espectaculos.
Desde a chegada do Sr Rui Rio a presidencia acabaram os apoios as companhias e a compra de bilhetes para a populacao, alem dos esvaziamento financeiro do Rivoli. No entanto, sempre apoiou a festa anual da Radio festival e em vesperas de eleicoes comprou finalmente bilhetes para dar as populacoes, ou seja, mais de 75000 euros para os dois ultimos espectaculos

Rui Spranger disse...

que o senhor Filipe La Feria levou ao Porto.
Eu trabalho regularmente numa pequena companhia de teatro do Porto. Ganho exactamente o mesmo que ganhava em 1999, quando ainda viviamos com escudos. Com o euro tudo aumentou, mas no teatro ninguem foi aumentado. Apertar mais o cinto????
Porque nao antes pedir a camara municipal do Porto aqs contas das celebres corridas de calhambeques que organizou?
E se foi realmente com apoios privados, nao tera a camara municipal do Porto de arranjar os mesmos apoios privados para outras iniciativas mais culturais e menos popularuchas? Porque sem desprezar o "gosto medio", ate porque existe todo o direito a te-lo, percebo muito bem o que e ter uma politica cultural e o que e comprar subrepticiamente votos!

António Manuel Rodrigues disse...

Não é justo...
Batemos o recorde dos comentários com a malta a repetir-se...

:P

E eu venho ajudar à festa...
Está a tornar-se claro que o problema do Rivoli é comum a muita coisa que nesta cidade se vai fazendo... Chama-se Rui Rio... Só podemos esperar que os nossos filhos e netos paguem a factura de alguém que por cá andou alguns anos a fazer da NOSSA cidade o seu quarto de brinquedos...

Mas deixemos estas relações viscerais, o Rivoli não tem problemas de funcionamento que obriguem à alteração da sua gestão, não vai ficar melhor, esperemos que também não fique pior... O problema é a gestão da cultura, é isto que temos estado a discutir e é isto que esperamos, cultura para todos! Reafirmo o meu principio: A cultura é um bem público! Não pode ser deixada nas mãos de caprichosos de qualquer tipo...

O problema do Porto e de Portugal é que têm sido os carolas de boa vontade a produzir e a evoluir (inocentes...). Da expressão "iniciativa privada" nasce tudo o que é novo, mas também tudo o que é vicio... A gestão deve ser global, a educação de publicos para TODA a cultura deve ser politica, ou então acabe-se com o ministério e com todos os pelouros da cultura camarários que parece cada vez mais tacho e jobs for the boys...

Custa-me assistir a esta queda sem ver o fundo, custa-me trabalhar no vazio, custa-me não ver reconhecimento e ser chamado de elite por todos aqueles que não se mexem...

Enfim...
Lá teremos que continuar a trabalhar de mote próprio, por carolice e do nosso bolso, eu por cá continuarei a fazer o que me compete e a lutar pelo que me parece correcto, contra a presunção do poder (esses sim, elitistas!) porque continua a ser a unica forma de ver algo acontecer neste país sem futuro...

hörster disse...

Bem, eu confesso que adorei o circuito da Avenida da Boavista. Fui ver, levei o cão e tudo!

Quero com isto dizer que me parece que o debate se afastou um bocado do mote inicial: o RIVOLI!, e não o Rui Rio.