quarta-feira, 28 de junho de 2006

Bob Dylan, para ouvir recomenda-se

A sessão que nos foi apresentada pelo Vitor conduziu-nos através da vida e obra de Bob Dylan pelos "olhos" de Martin Scorsese.
Quem já experimentou escutar Bob Dylan de olhos fechados, depressa terá ultrapassado a estranheza à sua voz nasalada para se deixar seduzir pela magia dos seus temas.
Ontem o Vitor decidiu então apresentar-nos a sua paixão por este cantor (de intervenção?). Tarefa simples caso optasse por nos dar para audição os seus temas. Mas... o Vitor foi mais longe do que isso.
Despindo-se de fundamentalismos, mostrou-nos o Robert Zimmerman e colocou o Criador perante a Criação.
Ora é neste ponto de reflexão que me encontro. Sendo indiscutivel a qualidade artistica de Bob Dylan e o mérito em quebrar barreiras, especialmente na transposição da Folk Music para o Blues, Bob Dylan enquanto Criador comportou-se tal qual um qualquer artista Pop.
Em momento algum da sua ascensão mediática, Bob Dylan foi coerente com a mensagem das suas letras, e sempre se mostrou indiferente para com quem ela se sentia representado.
É verdade que Bob Dylan sabia interpretar os momentos de convulsão vividos nos anos 60, mas seria ele capaz de individualmente concordar com os gritos de protesto? Acharia ele justo os protestos anti-guerra, as preocupações anti-nucleares, as reinvindicações dos negros, dos homossexuais ou dos partidários da livre expressão?
Não creio. Bob Dylan é egocêntrico. Bob Dylan é um génio, dirão alguns. Bob Dylan é um produto do proto-marketing musical, diria eu.
Ao longo dos tempos, em todas as épocas, surge sempre individuos com capacidade para absorver o que os rodeia e difundi-lo através da sua arte e engenho, mas devemos confundir aqueles que são partidários dos ventos de mudança com os que tão somente a propagam sem a verdadeiramente sentir. Podemos colocar Bob Dylan no mesmo patamar de Bono Vox por desmentir categoricamente José Eduardo dos Santos quando invocou o seu apoio, ou Jean-Paul Sartre ao recusar o prémio Nobel da literatura, ou mesmo Pedro Abrunhosa quando bradou "Não pagamos" ?
A vida para mim é uma pirâmide na qual vamos acrescentando um degrau sempre que a base está coerentemente cimentada. Caso contrário seremos apenas uma pedra rolante sem saber onde irá parar.

6 comentários:

GRaNel disse...

Sem surpresas, o Rui conseguiu transpôr magistralmente para o post, um dos temas que mais interesse nos despertou a sessão - qual a postura de Bob Dylan perante os temas que abordava nas suas canções. Partilho a opinião de que Dylan, qual carriça oportunista, filtrava os temas que a sociedade he fornecia e consumia e se limitava a fazer boas letras, desprovidas de conteúdo no entanto. Mas fazer letras como Bob Dylan é inatingivel... e épor isso que é considerado dos maiores poetas americanos e já é leccionado nas escolas. Assim, resta-me agradecer ao Vitor, ter-nos mostrado o génio sob a forma de documentário feito por outro génio. Ao Rui, os meus parabens pelo post e pela forma limpida e coerente com que resumiu a nossa sessão.

António Manuel Rodrigues disse...

Já agradeci... Agora permitam-me olhar sobre este nosso exercicio (esta palavra soa-me repetitiva)... Porque sempre defendi que os post's das sessões deviam ser livres, hoje temos a prova da sua subjectividade, sobre a mesma sessão 2 visões, igualmente boas e justas à paixão do victor. Assim deve ser este nosso espaço... Multiplo!

Anónimo disse...

Não tenho nada a acrescentar. Do Vitor tenho a certeza que só podia esperar uma sessão entusiasmante, para quem assistiu. Os dois posts fantásticos. Muitos parabéns!

A minha opinião sobre Dylan alguns de vós já a conhecem e revê-se na última frase do Vieira. Mas deu muitas coisas à música e influenciou muita gente. Ficam algumas sugestões:

- Neil Young «Harvest»
- Joni Mitchel «Court and Spark» ou «Blue»
- America «Greatest Hits»

hörster disse...

E parabéns pelos posts tão pronta e inteligentemente redigidos!

Vitor Elyseu disse...

o Rui é de facto atento à realidade que o envolve,um pouco como bob dylan,e surpreendentemente cuidadoso nas observações que faz o que só valoriza este nosso espaço de partilha.obrigado pelo post é sincero.

Marta Araújo disse...

De facto a riqueza da humanidade está na diversidade daqueles que são parte integrante dela. Bob Dylan não era, obivamente, um nome estranho mas quase, confesso. Sabia da sua existência e conhecia dois ou três músicas dele mas só. Com a sessão do Victor confesso que fiquei com vantade de saber ainda mais coisas sobre a personagem. Parabéns ao Victor pela ideia e pelo conteúdo da mesma. Felicitações também aos postadores. Os dois textos permitem perceber aquilo que vos disse há algum tempo atrás sobre as coberturas jornalísticas. Não pode haver objectividade pura e simples. Somos fruto de um contexto, de uma família, de um sítio e de uma cultura que se forma à volta de todos estes elementos. Duas pessoas que ouviram exactamente a mesma coisa, no mesmo sítio e à mesma hora, escreveram textos completamente diferentes. Os dois correctos e carregados de verdades. No entanto com leituras um bocadinho diferentes. É por tudo isto que este clube é extremamente rico e pelo qual até vale dormir poucas horas! :) Parabéns a todos!