quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Dias Perfeitos (2023) - Wim Wenders

Em tempo de férias, os pinguins foram ao cinema. Também merecem. O problema que se apresenta é que escrever o que seja sobre este filme será não lhe fazer justiça - a palavra que tão contida esteve, será agora usada ao desbarato, espero que me perdoem. 

Um filme que se inicia com os sons banais que anunciam uma rotina bem vincada, com a leveza (ou pesar) que isso implica, com o anunciar de uma personagem cuidadosa - no sentido de saber cuidar - atenta, meticulosa não por mero perfeccionismo mas por dedicação deliberada. Este é o nosso protagonista, que durante 45 minutos se manteve em silêncio, talvez pela inadequação das palavras à sua vida - este é Hirayama, e o filme que protagoniza. 

Anunciando-se de forma tão espetacular - Dias Perfeitos, que maravilha! - leva-nos pela rotina de Hirayama ao longo dos seus dias e semanas, algo bastante menos entusiasmante, para quem esperava histórias fantásticas e heroicas. O dia começa de forma simples: dobrar o colchão e cobertor para libertar os tatami (tapetes de palha tradicionalmente usados como chão nos quartos japoneses), lavar os dentes, fazer a barba, lavar a cara, regar variados rebentos que guarda no andar superior iluminados com luz UV, vestir a farda, comprar um café de máquina, e seguir viagem ao som de artistas dos anos 80. Vemos, ao longo do filme, que este ritual é levado a cabo com muito rigor, e mesmo em circunstâncias que o dificultariam. Afinal, dias perfeitos terão de ser semelhantes entre si, e nada como a rotina para o garantir.

Hirayama trabalha enquanto empregado de limpeza de quartos de banho públicos em Tóquio, especificamente na região de Shibuya. Para quem está menos familiarizado, Shibuya é um centro comercial e financeiro de larga escala no Japão, onde podemos encontrar gente de negócios, turistas perdidos, e pessoas sem grande ligação com quem os rodeia caso não sirvam os seus interesses momentâneos. Isto torna-se claro enquanto vamos acompanhando Hirayama no seu emprego, que desempenha de forma inquestionável, nunca ficando frustrado com o ocasional homem embriagado às 7 da manhã, com as crianças traquinas a esconderem-se umas das outras, ou com uma qualquer pessoa mais aflita, cuja urgência é incompatível com o ritmo metódico e atenção ao detalhe caraterístico do nosso protagonista.

Acordado antes do nascer do sol, Hirayama almoça algo simples no parque, tendo momentos a contemplar a natureza e o jogo de sombras a que as árvores estão acostumadas: do japonês Komorebi, a luz do sol filtrada pelos espaços das folhas de árvore. Reparamos que Hirayama presta muita atenção, ao longo dos dias, a este fenómeno e às sombras em si, chegando mesmo a tirar fotos que guarda como um hobby. Especificamente, atenta à constante mudança e flutuação das formas, posições, e espaços que as sombras assumem e ocupam. Esta talvez fosse a rotina de que mais desfrutava ao longo das horas.

O resto do dia corre como habitual: ir ao banho público, passo fulcral depois de um dia de limpeza; jantar num lugar onde já é conhecido pelo cozinheiro, que quando o vê diz Okaeri, melhor traduzido como "Bem-vindo de volta", e lhe dá um copo de água fresca e um petisco (tudo sem ele ter de pedir), dizendo ainda Otsukaresama deshita, idioma de difícil tradução que procura valorizar o trabalho árduo da outra pessoa depois de um dia longo em serviço; e o retorno a casa, onde adormece a ler livros baratos que compra semanalmente. Aos fins de semana, aproveita para se dirigir a um bar onde é recebido pela Mama, uma anfitriã, maternal não só de nome, reconfortando os seus clientes com comida quente e voz sublime.

Este é o filme, com as ausências necessárias a manter alguns segredos vivos. Se o enredo não vos entusiasma, é porque não é esse o seu foco. Wim Wenders, mas mais ainda Koji Yakusho (a ator principal), procuram mostrar-nos a vida perfeita desta personagem que encontrou um semblante de paz no meio do caos de Tóquio, no trabalho duro e repetitivo a que se dedica, e na repetitividade dos seus dias. Diga-se ainda que os dias não são perfeitos como seria o céu ou a matemática: acontecem imprevistos, situações inesperadas, sentem-se emoções antigas que se julgavam sanadas, enfim, vive-se. E Hirayama vive também ao seu jeito particular, de uma forma aparentemente desligada do outro, retirando só o que precisa para viver e não mais que isso, dedicando-se de corpo inteiro a tudo o que faz, e com um respeito incalculável pelo que o rodeia. 

De várias leituras possíveis, esta é a minha: Hirayama aprendeu a viver depois de ter vivido. Aprendeu que as palavras não eram suficientes - e talvez até contraproducentes ao que se quer - e que o silêncio preenchia melhor o espaço. Aprendeu a cuidar, sem qualquer suporte ou retaguarda, fazendo-o de forma genuína sem esperar retorno. Aprendeu a observar o outro, interação que o nutre mais do que outras formas (veja-se só como reage ao receber um beijinho na bochecha), mantendo a sua distância, tal como as árvores estão longe do sol, recebendo apenas a luz. E aprendeu, talvez esta a lição mais valiosa que as restantes, que a mágoa não impede a felicidade, e que a felicidade não desfaz o que nos magoa - que é possível viver com tudo por inteiro. 

Outras divagações serão possíveis, aliás, porque o filme a isso se presta, por isso a minha recomendação (e falando também pelos restantes) é de que vejam o filme, nem que não seja pelo simples facto de que ver Hirayama sorrir é, de si, algo muito reconfortante. Até uma próxima, esta foi a crónica não anunciada sobre a sessão de dia 7 de agosto de 2024, um dia como os outros, e por isso mesmo perfeito.

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Pernas, para que vos quero: Coupling, humor britânico, e a essência de Jeff em cada um de nós

Quem nunca sonhou em ter um grupo de amigos? Quem é que não gostaria de se sentir suportado nas suas desaventuras por pessoas que nos acompanham desde sempre, ou desde cedo? Quem é que nunca mentiu sobre o número de pernas que... esperem, adianto-me, voltemos ao princípio.

No dia 31 de julho a Olga presenteou-nos com uma sessão apropriada à data, o bem sabido melhor dia para casar, como reza a lenda (sendo essa o Quim Barreiros). Inicialmente, procurou inflamar os ânimos dos demais, revelando que iríamos ver episódios de uma série, por nota sua favorita, e que faria os Friends parecerem amigos de infantário; ela não verbalizou exatamente desta forma, mas senti-o nas suas palavras. 

Introduziu-nos o título, Coupling, uma série britânica que se manteve no ar entre 2000 e 2004. Diriam agora, vocês, leitores suspeitos e céticos, que Friends durou 10 anos a terminar, e que por simples aritmética seria superior em qualidade e quantidade. Aqui, justificamos a origem do fim, por assim dizer: um dos potenciais motivos do término antecipado desta brilhante sitcom terá sido a escolha de um dos atores em não dar seguimento à sua personagem, por medo de ficar a ela eternamente associado. De agora em diante, este ator não terá nome, e será apenas conhecido por Jeff, vingança mesquinha à qual temos direito. Para além disto, e como Coupling bem nos ensina, às vezes ter a mais nem sempre é sinal de prosperidade: seja essa abundância em termos de temporadas, apelo ao mainstream, ou número de membros do corpo.

O que se seguiu no decorrer da sessão foram dois brilhantes episódios de televisão e, mais especificamente, de humor britânico, que nos transportaram para Londres, experienciada pelas peripécias deste grupo insólito de 6 amigos unidos por um fio comum: a sua propensão, ou necessidade quase compulsiva, ou possivelmente tédio existencial que os levava a terem como foco das suas vidas e conversas o tema dos relacionamentos. E do sexo. As pessoas gostam, gostaram, e imagino que gostarão de falar desse tópico, por ser algo que toca a todos, passando a expressão provocadora.

[DISCLAIMER]: as opiniões que se seguem são fruto da visão idiossincrática do autor, baseadas na breve exposição que teve à série em questão. Não refletem as opiniões dos restantes elementos do clube, nem a tal almejam.


O grupo, personagem principal, é constituído por 6 membros (às vezes, mais membros é algo bom, mas nem sempre): Steve e Susan, o casal que se mostrou mais preocupado em conhecer relacionamentos alheios do que em solucionar os problemas acumulados ao seu próprio, ao ponto de se terem passado por franceses e australianos não numa tentativa de apimentar a vida, mas de esconderem um ao outro as inseguranças quasinevitáveis a qualquer relação duradoura; Jane, que surge do mesmo sangue, da mesma essência, do mesmo arquétipo de mulher despachada, segura de si, orgulhosamente sexual que informou outras personagens como Samantha Jones de Sex and the City, comparação que não consegui deixar de tecer durante os episódios, e que se tornará auto-evidente quando tu, leitor, te debruçares sobre ambas as séries em questão; Patrick, o mulherengo inevitável numa sitcom focada em relacionamentos, e que utiliza a sua sabedoria e, de certa forma, a sua arte para tentar encaminhar os seus amigos e amigas, embora o caminho seja sempre o mesmo, e o resultado também - sexo descomprometido; Sally, que se mostrava insistente em estar em relacionamentos, não pelo prazer e companhia que derivaria destes, mas antes porque precisa de um projeto com o qual se entreter, e nada melhor que um homem, pedaço de mármore por esculpir e que tanta resistência mostra a esse processo (estaria melhor servida com um hobby, mas quem sou eu para julgar); e, por fim, Jeff.

A Jeff dedico um novo parágrafo. A Jeff devemos muita coisa, nem que seja um episódio inteiro em que se fingiu amputado para conseguir a nuca dos seus sonhos, quer dizer a perna dos seus sonhos, quer dizer a mulher dos seus sonhos. Jeff, que se demonstrou pronto a saltar em frente ao proverbial comboio em andamento numa tentativa de salvar o seu amigo, dizendo que SIM, ELE MESMO seria Dick Darlington num mundo de Giselles (isto fará mais sentido depois de verem o episódio mas para quem o viu vai ter piada, confiem). Jeff, com a sua cara meio pálida à luz do projetor, com o seu jeito por um lado nervoso, por outro plenamente seguro de si como acontece muitas vezes a quem sente uma corrente de ar por entre os ouvidos, Jeff, este anjo caído não por pecado mas porque certamente tropeçou numa nuvem, representa o que todos nós somos a algum nível: pessoas à procura de pessoas, por vezes de formas tão intensas que nos esquecemos do nosso corpo, que nos esquecemos que temos um corpo, que nos esquecemos que o nosso corpo afinal está melhor do que o esperado e que não vamos conseguir dar mais de nós porque, literalmente, temos a mais para dar. Atire a primeira pedra quem nunca fingiu ser amputado para engatar uma pessoa.

Que isto desperte em vós a curiosidade para darem a esta série a oportunidade que merece. Eu sei que vou ver os restantes episódios de forma semi-compulsiva, sobretudo porque tenho um forte ponto fraco por humor britânico.

E lembrem-se, como diz Mateus, 19:24, numa versão da Bíblia que já não está em circulação: mais fácil é a um camelo passar pelo olho de uma agulha, do que um homem de duas pernas entrar pelas portas do paraíso. 

Pernas, para que vos quero, quando uma me bastava para ser feliz. Um bem haja, e até uma próxima!

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Debate leve, levemente (...) Fui ver. Eram os Pinguins.

Ah, o velho Clube dos Pinguins está de volta! A última sessão trouxe à memória a verdadeira tertúlia de debates acesos que houve em tempos idos nesta cave, mas desta feita, a discutir trivialidades, o que acabou por se transformar numa noite de risota.

Esta semana, a anfitriã foi a Márcia, que abriu a sessão de uma forma inovadora, saindo da sala e deixando-nos com uma gravação de nível profissional, a explicar o tema da sua paixão: os debates, e de forma pedagógica a etimologia da palavra "debate". Parece que vem do latim "de-" (remover) e "battuere" (bater), o que nos fez logo imaginar uma sessão de pancadaria verbal!

Mas, no fundo, descobrimos estar a integrar uma espécie de espectáculo voyeurista para a Márcia, que usou uma metáfora curiosa: cada pessoa é um museu. E pronto, ali estávamos duas facções de "debateurs" para serem devidamente observados, escrutinados e julgados pela dupla Márcia e João, este último voluntariado à força. Claro que nós, os restantes pantomineiros, não perdemos tempo e entrámos logo no espírito da coisa.


Para abrir as hostes, a mediadora lançou para a mesa uma questão fracturante e de extrema importância para a sociedade: molhar a escova de dentes antes ou depois de colocar a pasta dentífrica? Argumentos científicos, experiências pessoais e até tradições familiares foram trazidos à mesa, e no final o júri escolheu a equipa que trouxe a avó à colação.


Pelo meio, houve mais temas não menos importantes, como a melhor francesinha (Porto ou Braga), em que de um lado se defendia o toque especial da nouvelle cuisine minhota. 


Mas o ponto alto da noite estaria para chegar, com o debate musical: Um dos lados puxou do telemóvel e, com toda a pompa e circunstância, apresentou uma música dos Oasis, argumentando que era a melhor banda britânica. O outro lado dizia que não, que aquela, música não tinha qualidade nenhuma e que os Blur é que eram a melhor banda do mundo, comparada com os Rolling Stones e tudo. Só que mais tarde se vem a descobrir que a música era, na verdade, dos Blur! Foi gargalhada geral, e tivemos de admitir que, mesmo sem querer, se tinha dado um exemplo perfeito de como se deve estar bem preparado para um debate, para não se fazer figuras à Biden. Pronto, admito que esta piada foi um "tiro ao lado". 


Encerrada a sessão, a Márcia fez uma reflexão importante. No meio de tanta diversão, lembrou-nos que o debate é essencial. Vivemos num mundo onde se debate cada vez menos e precisamos de pessoas que saibam construir argumentos e defender os seus pontos de vista, elevando a discussão. E, assim, saímos do Clube dos Pinguins não só mais divertidos, mas também um pouco mais sábios.


Até à próxima sessão, caros Pinguins. E lembrem-se, debatam sempre, nem que seja sobre a escova de dentes!

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Tira-Teimas Shakesperiano: O amor é o veneno e a cura

   Há cerca de uma hora e meia ainda se vivia o dia 3 de julho, onde a noite se estendeu para, uma vez mais, fazer da cave a casa de quem nela encontra abrigo. 

A Francisca trouxe a ideia, o Tiago usurpou-a e os dois materializaram-na num dueto a vozes que se pediam desafinadas. Havia, então, que desafiar a memória e recuperar uma estória em que a expectativa do amor feérico, não se tenha concretizado ao nosso desejado traço.

Tendo sido o desafio proposto, dois pacotes de lenços de papel da Renova patrocinaram-nos a tela para cada um dos relatos anónimos. Enquanto cada um  de nós descrevia, mais ou menos animado, sob um lenço de papel, o Tiago preparava o ambiente com músicas pseudo-românticas e instalava-se o confessionário possível. 

Após terminarmos, os papéis foram misturados e retirados um a um. De microfone e lanterna em riste, cada um leu um dos relatos anónimos e, no final de cada leitura, houve espaço para conselhos, exploração de hipóteses, confabulações e comentários, mais ou menos polêmicos. (Seria o Pedro cigano, e por isso estava prometido?/ Terão os homens um risco biológico perto de mulheres que nem um vírus?). Afinal, somos todos igualmente portadores de um ardente coração, diferenciamo-nos apenas por uns terem um tipo de letra mais aprazível. 

De modo a concretizar a libertação de que o coração precisa, no final necessitámos da ajuda de um isqueiro,  de um pátio e  de um par de botas audazes. Assim, queimaram-se as estórias e iluminaram-se as possibilidades futuras de mais desaires que nos encham o consultório desamoroso das quartas!

"Foi assim, como foi e não como deveria ter sido"- Pensámos nós, ao recordar os nosso tropeços. 

Ainda assim, partimos hoje da cave com  a certeza de que, mais uma vez, estamos juntos no desamor como no amor. Caminhámos juntos no mesmo convés com um pinguim ao leme que é o coração da nossa partilha. Esse amor é o de todos, e é para sempre!


sábado, 8 de junho de 2024

Cheque-mate by João Leite

Bem, tenho de vos dizer que a culpa de ainda não ter escrito a crónica da sessão passada é do João. Pois é... o problema é que agora nos meus tempos livres, tenho estado entretido a jogar xadrez em vez de escrever. E só agora é que me decidi a relatar a última sessão do Clube dos Pinguins, fazendo um intervalo do chess.com.


Na última sessão, o João decidiu uma abordagem diferente na apresentação da sua paixão: o xadrez. Uma mesa bem iluminada no meio da cave, apenas com o tabuleiro em cima e várias cadeiras vazias em volta. Começou por explicar algumas regras básicas para quem não estava familiarizado e dividiu-nos em duas equipas. Única regra do jogo: cada movimento realizado deveria ser acompanhado de uma explicação do motivo por detrás dessa escolha. Esta abordagem adicionou uma camada educativa e estratégica ao jogo, permitindo-nos entender melhor as decisões e raciocínios dos nossos "adversários".


A minha equipa começou muito bem e conseguimos capturar mais peças do que a equipa adversária e o jogo parecia estar praticamente ganho. A nossa estratégia estava a funcionar e estávamos confiantes na vitória.


No entanto, a situação tomou um rumo inesperado. A outra equipa, que parecia estar em desvantagem, conseguiu dar a volta ao jogo de maneira surpreendente. Lembro-me da Olga não parar de dizer: "Mas por que é que não moveste o raio da torre? Por que é que não fizeste aquele movimento?" Estas perguntas refletiam o nosso choque e frustração ao ver o jogo a fugir-nos das mãos. E nessa altura já o Tiago gritava: "Não lhes digam o que vamos fazer, que isto é cheque-mate em 3 jogadas!". Não foi e aí o João decidiu tomar as rédeas do final de jogo a perseguir o nosso rei, até o encurralar num cheque-mate dilacerante, em apenas 343 jogadas.


Foi uma sessão extremamente divertida e pedagógica, que mostrou a importância de pensar cada movimento no xadrez e como um pequeno erro pode alterar completamente o rumo do jogo. Esta experiência ensinou-nos a analisar cuidadosamente cada decisão e a antecipar as jogadas dos adversários com maior precisão.


Agora que tive a oportunidade de escrever sobre esta sessão, vou voltar ao chess online e espero encontrar-vos lá nas mesas. Ou pelo menos ao João, para ter a desforra.

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Um Pequeno Passo Para O Peregrino, Um Grande Passo Para o Cético

 Por esta altura, já se estarão a intrigar: "Mas porque raio esta Márcia tem de escolher títulos tão  desmesurados nos caracteres?". Eu sei amigos, perdoem-me a emoção não contida e palavrosa mas desta vez apoiar-me-ei na justificação de que o nosso queridíssimo Hugo dividiu a sua sessão em duas. Ora, o que é o dobro em exposição, poderá também sê-lo em transcrição. Feito este inútil preâmbulo, passemos ao que nos traz a esta leitura que, não, não é sobre mim (bem lembrado!). 

No passado dia 16 de maio, a cave pinguina converteu-se numa pequena e catita exposição com fotografias acompanhadas de descrições que se vislumbravam desde as paredes, aos bancos onde também se apoiavam, inundado o espaço de uma partilha e sapiência agora material. 

Essa instalação gênero "anti-museu", onde as peças são o mote para chegar a um testemunho pessoal e a vivas cores, foi o mote para contar cada uma das histórias que o Hugo ali tinha representadas em recorte. Curioso. Lembro-me como se de há uma semana se tratasse. O Hugo dizia "Quando expus estas fotografias pela primeira vez, um indivíduo queria comprar-me uma por 50 euros e leva-la no momento.". E assim recordamo-nos de que o valor do tempo se sobrepõem ao outro. Respeite-se a respiração da arte para inundar ainda mais olhos!

A primeira sessão sobre os "Caminhos de Santiago" foi uma alegre e viva partilha de histórias, acontecimentos, coincidências e revelações que o Hugo prontamente guiou, qual peregrino errático.

A coincidência mais particular e bonita que nos fez chegar teve como protagonista uma libelinha. Para quem não esteve, não revelarei demais. Há histórias que nos fazem ter que estar nos lugares. Acrescentarei apenas que quando encontrarem a vossa libelinha em repouso, como se vos recebesse, saberão que o Caminho segue em bom vento. Estarão prontos. 

Mas afinal o que é isto do Caminho? Um passeio? Um cumprir de um objetivo? Uma vã tentativa de deixar o sedentarismo? 

Na segunda parte desta bonita sessão, dia 22 de maio, abreviamos caminho mas fizemo-lo juntamente com quatro amigos que se aventuravam pela primeira vez nesses percursos. Foi através do filme The Way, de Emilio Estevez, que este feito se concretizou e, durante duas horas, vivemos os desafios, as alegrias, as inquietações e as vitórias de cada uma das personagens. 

Cada um destes quatro protagonistas tinha uma meta diferente, um objetivo decorado a quem lhes perguntavam como se matéria de conhecimento público se tratasse. Mas os caminhos do Caminho são misteriosos e, no final, percebemos que esses sonhos que lhes boiavam na língua não eram os mesmos que surgiram revelados ao chegar à meta final. A verdade é que ninguém sabe porque percorre o Caminho até o fazer. E é no final que nos inteiramos de que o finalizar é, simbolicamente, morrer, já que o tesouro é a própria viagem que só se descobre quando o que sobra são as histórias, as amizades, as reflexões, as perspetivas, os milagres. 

"A vida não se escolhe, vive-se". Talvez a escolha seja viver e a vida a sua consequência. Seja como for, considero que a experiência dupla a que o Hugo nos proporcionou, nos moldou os olhos, a mente e a alma, para mais uma forma de nos transcendermos e sermos maiores do que os dogmas a que nos fomos habituando para não ir. Viver não é preciso, Caminhar é que é preciso!

quinta-feira, 2 de maio de 2024

A banalização do Gral: O Diabo veste Nada!

 No dia 1 de maio, quarta-feira apetecível entre portas e cave já que a chuva dançava pela cidade fora, percebemos uma vontade coletiva de preencher o final de feriado com a partilha habitual (mas jamais previsível!). 

Desta vez, João Leite (doravante JL) trouxe-nos uma proposta diferente da sua inicial. Ao invés de uma exposição a viva voz, apoiada por uma apresentação refinada e com elementos ilustrativos da personalidade do próprio: humorística e cáustica, leia-se, fomos surpreendidos com um tópico mais sensível aos portadores de coração. 

Enquanto aguardávamos o início da exposição de JL, erámos prendados com a sua playlist possível a que já nos afeiçoamos. A música para. Faz-se silêncio.  JL, que nem ator sem texto mas com palavras para dizer, começa a sua exposição sob uma luz tímida que o empalidecia a ele e a um banco de madeira. O espetáculo começou com um presságio: o breu é mais forte do que a luz. 

JL começou por descrever um facto histórico com localização geográfica específica. Segue-se: 

O massacre na Indonésia de 1965-1966 refere-se ao movimento anticomunista e  ao assassinato em grande escala subsequentes à tentativa mal sucedida de golpe de Estado por parte do Movimento 30 de Setembro, na Indonésia.

Segundo as estatísticas, mais de um milhão de pessoas foram mortas. Segundo alguns, tratou-se de um genocídio; segundo outros, foi uma limpeza política.

Após recebermos este pedaço de informação dramática, gostaríamos de poder abanar a cabeça e fazer evaporar esta imagem difusa para nunca mais a recuperar. Contudo, as duas horas seguintes impediram-nos de querer largar a história que prova que entre o "ser" e o "não ser", incluímo-nos mais nos "não-ser humanos". 

Vimos então o documentário The Act Of Killing realizado por Joshua Oppenheimer e por Christine Cynn em 2012. Duas horas em que a cave que nos traz sempre o melhor da palavra, da voz, da guitarra, do outro, só conseguiu ouvir o ranger dos dentes ao assistir a tal horror. 

Com isto, JL provou-nos que a sua paixão por pessoas é democrática e indiferenciada: vale a pena investigar a origem dos maiores horrores, para entender que até essas pessoas se gratificam por crer estar do lado certo da história. Perceber-nos no nosso pior para prevenir a antevisão do caos que se pode instaurar quando muitos pensam na mesma direção sem se questionar. 

Afinal, tal como JL dizia, "não são monstros, são pessoas". E é exatamente essa a premissa que sempre me fascinara também. Saber que num contexto e condições específicas também eu podia ser uma agente ativa a contribuir para um massacre. O que nos diferencia? Tempo, espaço, biologia, influências, mas, mais importante: a exposição.

Quando expostos a uma certa "verdade" por todas as vias, durante tempo indeterminado, o nosso cérebro é moldado ao ponto de criar pontos de tensão e de repulsa ao ouvir soar certas palavras, como sob um efeito Pavloviano.

Ouvimos: "Deus não gosta de comunistas". Mas teimo em acreditar que a culpa reside em Moisés que, por acidente, esculpiu mal a pedra sagrada quando queria de facto escrever "Deus não gosta de artistas". E é legítimo. Ainda não existia o Pinguim!


JL, manda vir mais, mas desta vez, queremos a garantia de uma consulta grátis no final. 👀



quarta-feira, 27 de março de 2024

Kai Zen

 

Como já começa a ser costume, no passado dia 20 de março, que por acaso até foi uma quarta-feira, o clube dos pinguins encontrou-se na cave do Pinguim Café para mais uma sessão. Desta feita, o Daniel Lopes, com a sua apresentação ainda “quente”, deixou-nos um pouco apreensivos porque pensávamos que iríamos realizar algum desafio de elevada capacidade mental, mas não, presenteou-nos com uma das suas paixões. O Kai Zen que incide sobre a melhoria contínua.

Posto isto, achei que iria aprender como arrumar as meias na gaveta por cores e por estação, mas o grande propósito desta apresentação seria compreendermos porque é que em Portugal, nas nossas empresas e nas nossas vidas, a filosofia de Kai Zen não funciona.

Mas o que é isto do Kai Zen? Criado por Sakichi Toyoda, fundador da marca Toyota, inicialmente focado na produção de teares, numa visita aos EUA com o intuito de se informar sobre os métodos de produção deste país, ficou fascinado com a eficiência dos supermercados e pensou como poderia transportar essa eficiência para a sua indústria. No Kai Zen, todos, mesmo todos, desde o CEO até à empregada de limpeza, estão envolvidos em processos de melhoria contínua de todas as funções da imprensa. O Kai Zen visa por isso eliminar ao máximo desperdícios, quer sejam monetários ou temporais, apoiando-se SEMPRE num mindset científico.

Durante a apresentação fomos educados de como usarmos este pensamento nas nossas empresas. Ficámos também a compreender o que é o ciclo PDCA (plan, do, check, act/adjust), que aliado a uma prática deliberada (Kata) fomenta a criação de pensamento científico que pode ser aprendido por todos.

Então porque não funciona? Porque o ser humano é péssimo a seguir e a aprender o método cientifico. A razão principal para esta dificuldade prende-se com os nossos mecanismos cognitivos ligados à nossa sobrevivência como espécie, visto que o nosso cérebro consome 20% da nossa energia, é normal que tente transferir essa energia para resposta rápidas e automáticas, sendo difícil treinarmos para que isso não aconteça.

Esta foi a sessão onde mais opinámos e onde mais nos distraímos, quer seja por aranhas, para sabermos se devemos tratar os novos pais pelo nome ou por papá e mamã e nunca, mas nunca, arranjar problemas com a Marta Leal. Falámos de muita coisa e a memória não dá para tudo, por isso acredito que este texto não faça jus a todos os temas que debatemos na sessão. Termino assim com um grande obrigado ao Daniel Lopes por esta sessão.

 

quarta-feira, 20 de março de 2024

Oh my Clube!

 Na última quarta-feira, o Clube dos Pinguins estava agitado com a chegada da Marta, que mesmo grávida de nove meses, veio partilhar a sua paixão: os quizes! Com um sorriso radiante, a Marta contou como tudo começou, desde os dias no antigo bar do tio até se tornar a mestre dos quizes no Pinguim Café. Todos ficaram fascinados com sua história e já mal podiam esperar para experimentar o desafio de perguntas e respostas. 

A Marta criou o seu próprio método de Quiz, contando com a ajuda daquele que é mais conhecido por "Lopes, o pai da criança" . 

O método consiste numa apresentação em Power Point contendo 50 perguntas cuidadosamente elaboradas.  Cada equipa recebe uma folha para registar as suas respostas, enquanto desfruta das músicas do Lopes, que por vezes servem  como pistas ao longo do desafio.

A Marta introduziu elementos visuais como imagens e sons para tornar o jogo ainda mais envolvente, atendendo aos feedbacks anteriores sobre o que os participantes não gostavam noutros quizzes. A dificuldade das perguntas evolui gradualmente, garantindo que todos os participantes se mantêm interessados. 

A base de dados da Marta conta neste momento, com mais de 4000 perguntas, abrangendo uma variedade de temas, desde história, arte e literatura até ciência, cultura pop e carros. Os participantes são divididos em grupos, permitindo competições amigáveis entre aficionados por diferentes áreas de conhecimento.

Três ajudas são disponibilizadas, em forma de cartões (amarelo, verde e vermelho) , garantindo que ninguém fique preso  numa pergunta difícil. E para os mais destemidos, existe sempre  o desafio de subir e descer as escadas da cave com os 23 volumes da enciclopédia luso-brasileira às costas. 

Os Pinguins presentes testaram, gostaram e aprovaram com distinção, o Oh My QuiZ, atribuindo-lhe certificado de qualidade e de diversão garantida. 

Obrigada Marta e "companhia"! 


quarta-feira, 13 de março de 2024

João Progressivo

 Considero-me bastante eclético do ponto de vista musical, mas há géneros que me custam mais a entrar ou nunca entraram de todo. Um deles é o Heavy Metal, outro, embora já mais aceitável para mim, é o Rock Progressivo. Eis senão quando, no nosso querido Clube, o João apresenta a sua primeira paixão: Metal Progressivo. "Estou fo.... " pensei eu. Ainda por cima já me tinha oferecido para escrever o post. Que custou a sair. Que me provocou insónias. Sim, já lá vai mais de um mês, foi no dia 07 de Fevereiro. Ainda se lembram? Eu lembro, mas na verdade não por maus motivos. Pois é, quando temos alguém apaixonado é possível que a conversão aconteça. Primeiro o João preparou um powerpoint cheio de informação e de humor (este último funciona sempre). Depois, e este aqui é para mim próprio o grande ponto de viragem, explicou-nos que é um género difícil de entrar pela "parede sonora" pelo que nos sugeriu que nos focássemos num ou noutro som. Até porque há um certo virtuosismo no género (isto sou eu a reconhecer) mas muito em especial no multifacetado e também bastante eclético Devin Townsend. Foi aqui que começou verdadeiramente a nossa viagem, com o João a levar-nos pela abrangência musical deste ícone do Metal Progressivo. Desde temas como "Ziltoidia Attaxx!!!" em que o título já diz muito e em que nos faltou cabelo para agitar em exagerados sins, passando por temas mais melódicos como DeadHead, ou ritmados e poderosos como "Lucky Animals", ou o calmo e ritmado "The Code" que consta já nos meus favoritos do Spotify. E foi o humor, as instruções de escuta, a viagem proposta na noite de 07 de Fevereiro e também a playlist partilhada no dia 09 no nosso grupo de whatsapp que me permitiram tornar-me mais eclético. Obrigado João! As insónias foram só peso na consciência por não ter escrito este post no devido tempo.



sexta-feira, 8 de março de 2024

A Arte de Bem Jardinar!

 No passado dia 6 de março, o Clube espantou-se com mais uma noite embrenhada em surpresa, desta vez, com o mote dado pela doce Joana. 

Ao aterrarmos na cave mágica, deparamo-nos com o cenário que passo a descrever: quatro mesas juntas formando uma super-mesa, e, em cima desta, vários utensílios referentes ora à arte da jardinagem ora à pintura. Confuso? Não por muito tempo.

Ora, não fosse a querida Joana uma apaixonada pelo diletantismo, abraçando várias áreas do saber, e a sua proposta seria curta e objetiva. Mas a noite tinha outros planos para estes aventureiros e, por isso, o desafio no qual prontamente mergulhámos foi o de semear algumas "plantas-a-ser" e enfeitar uns bonitos vasos que a nossa promotora tinha encontrado junto a um ecoponto, ditando assim um destino que já se queria colorido!

O resto do serão pautou-se por uma partilha lúdica com bom rock de fundo, em que uns pintava, outros brincavam com a terra, trocando-se depois de estação de trabalho, e onde os testemunhos sobre "experiências psicadélicas" foram lugar-comum. Minto. Reescrevendo: onde os testemunhos de "amigos" que tiveram experiências psicadélicas foram lugar-comum. (Advertência: não experimente "Salvia Divinorum" em casa.).

Se aprender é já um deleite assumido pelo clube que aqui se reúne semanalmente, esta sessão foi particularmente rica no que nos deu a conhecer e, mais importante ainda, a saborear conjuntamente: um convívio alegre, a vivas cores, com a vontade da partilha a impulsionar a bonita troca que, mais uma vez, se verificou em sucesso. 

Viver não é preciso, Pinguar é que é preciso!







sábado, 2 de março de 2024

Escape Cave - Malas, Caixas, e Ultravioletas

 

Imaginem o seguinte cenário: uma cave familiar, uma mala conspícua tanto pela iluminação deliberada como pela ausência de mais elementos de destaque, e uns quantos lugares ocupados por futuras vítimas de uma caixa de madeira. Assim começava a reunião de 28 de fevereiro de 2024 do Clube dos Pinguins.

O Hugo, para nos falar e mostrar a sua paixão por enigmas, fê-lo de uma forma bastante fiel à forma, enchendo-nos de mistérios por resolver. O que é que estaria na mala? Porquê que ele acabou de fechar a porta com um aloquete? Será que nos vai obrigar a fazer sudokus a noite inteira? Depois de uma breve introdução à origem da sua paixão, que traz consigo desde os tempos de infância em que servia de Mestre dos Enigmas para a sua irmã, e de nos presentear com alguns puzzles, livros, e jogos que lhe vão saciando a fome de se provar a si mesmo como capaz de desmontar qualquer incógnita, o Hugo propôs o desafio que iria responder a todas as perguntas previamente feitas: iríamos fazer um Escape Room na cave do Pinguim.

As regras eram simples. Em primeiro, não se podia partir nada. E era isso, tudo o resto seria deixado ao nosso critério, desde que cuidássemos dos objetos e do espaço, sem desmontar, partir, arrancar, ou desmantelar nenhum objeto, por muito que a frustração fosse crescendo. Numa tentativa de sumarizar os 45 minutos que demoramos a resolver este puzzle meticuloso e bem planeado, segue-se uma breve descrição do processo, em termos mais ou menos compreensíveis para quem não lá esteve.

1)        Foi-nos lido um texto com pistas importantes que foram esquecidas nem 5 segundos após a Olga ter terminado de o ler;

2)        A mala continha mais malas, três no total, cada uma com mais pistas ou objetos necessários para a nossa liberdade;

3)        As paixões de sessões anteriores foram usadas contra nós, tanto é que a solução final envolvia a palavra GIN (e não GHN, ao contrário do que pensávamos inicialmente);

4)        A música/sons de fundo utilizados oscilavam entre gritos de mulheres em pré-assassinato, gatos/crianças a berrar, vozes angélicas, e ruídos industriais;

5)        Apenas UM objeto foi partido em toda esta aventura, o que significa que mesmo só havendo uma regra não fomos capazes de a cumprir;

6)        O objeto partido estava a pedi-las – uma caixa de madeira cuja solução era incrivelmente simples, algo que os nossos cérebros, condicionados à complexidade devido ao restante jogo, falharam em compreender;

7)        Uma lanterna UV e algumas letras espalhadas pela cave, soletrando a palavra que nos deu a liberdade, por muito que alguns elementos tivessem tentado remover o aloquete por via do som e da coloquial fézada;

8)        Terminamos antes do tempo, para surpresa de todos, sobretudo depois do tempo perdido com o objeto envolvido nas alíneas 6) e 7).

E assim terminava o nosso escape room, com algumas pessoas a ficarem convertidas a esse mundo de intrigas, puzzles, e desconfianças sobre todos os cantos e recantos das salas envolvidas. Não haverá melhor recompensa para um apaixonado do que ter conseguido plantar nos outros a sua própria paixão, e diria que o Hugo foi bem sucedido nesse objetivo. Nem que não o tivesse sido, a oportunidade de ter visto tanta gente presa na maléfica e demoníaca caixa de madeira, que ele próprio revelou ter-lhe dado muitas dores de cabeça quando a recebeu, certamente lhe trouxe algum ânimo, por saber que não estava sozinho na sua luta contra os paralelepípedos.

Assim termino, com um obrigado ao Hugo por todo o planeamento, à Olga pela sua participação enquanto fotógrafa e narradora, e aos restantes, sem os quais nada disto se teria proporcionado.