quarta-feira, 9 de maio de 2012


            Viagens no tempo    
Desta vez, tinha mesmo de ser eu a escrever o post. Por três razões: em primeiro lugar porque já não escrevia há anos – uma vergonha; em segundo lugar porque o Hugo, antes de começar a sessão, perguntou quem seria o voluntário enquanto me atirava um olhar irresistível, com as pupilas dilatadas; e, em terceiro lugar, porque eu não consigo realmente imaginar tema que me fascine mais. Quem me conhece sabe disso, e o Hugo sabia: umas horas antes da sessão, para me convencer a não faltar, enviou para o meu gtalk duas palavras-chave: “Quantics… Heisenberg… aparece!”. E eu fui logo a correr.
            Na verdade, a sessão consistia num documentário sobre viagens do tempo. Portanto, o Heisenberg e a mecânica quântica só apareciam lá para o fim; o protagonista clássico deste assunto, como toda a gente sabe, é o Einstein. Mas tudo bem, não me senti defraudado.
Acima de tudo, como sempre, foi uma sessão divertida. Até teve um certo tempero sexual: alguém desconfiou, a dada altura, que o documentário tinha sido disponibilizado por um canal suspeito, um tal «Ânus TV» que, alegadamente, apareceu listado no ecrã do portátil do Hugo (não posso confirmar isto, não vi com os meus próprios olhos). Mas a ideia não é totalmente descabida: de facto, a teoria da relatividade geral é cheia de buracos negros, túneis, alongamentos do espaço, comprimentos e geometrias, etc, etc... :)
Agora a sério: o que eu achei do documentário? Bem intencionado, mas fraquinho. Demasiado sensacionalista e, pior ainda, muito impreciso. Não era a plausibilidade das teorias ou o aprofundamento teórico da temática que estavam em causa. Tudo tinha de ser equacionado em termos de uma utilidade prática: afinal de contas, quanto tempo é que ainda vamos ter de esperar até podermos comprar um bilhete (económico) para o futuro ou para o passado? Em suma, o documentário parecia realizado por uma criança histérica acabadinha de sair de uma sessão do “Regresso ao Futuro”. Mas o pior, como eu dizia, foram os erros técnicos. Só um exemplo: a dada altura, era preciso ilustrar o modo como os objetos com massa deformam o tecido do espaço-tempo, deformação que, por sua vez, cria alterações na trajetória (até) da própria luz. E eis, então, que uma animação colorida nos mostra um feixe de luz a dirigir-se diretamente para uma estrela, a desviar-se radicalmente quando chega à imediação da estrela (como se esta tivesse um escudo), a contornar a estrela num semicírculo perfeito e, por fim, já do outro lado, a retomar a sua trajetória original. Pessoalmente, nunca ouvi falar em luz que saiba contornar obstáculos (a não ser talvez através dos meta-materiais investigados pelos militares para se criarem «mantos da invisibilidade», mas isto não é para aqui chamado). Tenho a certeza que até os cientistas entrevistados para o documentário devem ter ficado embaraçados quando viram – se é que viram – a animação de que eu acabei de falar.
Não quer dizer que não haja documentários do género igualmente apelativos, igualmente sensacionalistas, mas rigorosos. Não posso deixar de fazer aqui uma pequena lista. Duas das minhas minisséries favoritas são narradas por dois físicos conhecidos: Stephen Hawking (que dispensa apresentações) e Brian Greene (um dos cérebros por detrás da teoria das cordas). Estes dois senhores são grandes cientistas mas também grandes divulgadores da ciência para leigos como nós. E as suas minisséries são respetivamente:    
“Master of the Universe – A Brief History of Time”, de Stephen Hawking (2 episódios).
“The Elegant Universe”, de Brian Greene (3 episódios).
É claro que o ideal seria lerem os livros dos autores (que estas séries tentam sintetizar). Aqui vai uma lista dos livros que eu aconselho:
Hawking, Stephen, “Breve história do Tempo Ilustrada” (1996) – provavelmente o livro de divulgação científica que mais me influenciou até hoje, mas tem um problema: está já muito desatualizado.
  Hawking, Stephen, “O Grande Desígnio” (2010) – o seu livro mais recente. É pena que, neste livro, ele já não esteja tão otimista quanto a certas possibilidades e a certas respostas. Em última análise, a impressão que fica é que cada vez sabemos menos. (Eu sei que há muita gente que adora o sentido poético desta conclusão, mas eu prefiro manter-me otimista).
Greene, Brian, “O Universo Elegante” (1999) – Delicioso. Sobre as grandes questões e as grandes respostas.
Greene, Brian, “O Tecido do Cosmos” (2004) – Um pouco mais pessimista que o anterior, mas também delicioso e lê-se com facilidade. Para fazerem uma ideia dessa «delícia», o livro tem quase novecentas páginas e eu consegui lê-lo em quatro dias, estendido ao sol numa praia alentejana. Dias maravilhosos.  

Bem, este post já vai longo…
            Para terminar, mando aqui o meu abraço ao Hugo. Obrigado pelo modo fascinado, divertido e despretensioso com que nos trazes as tuas paixões.

Até para a semana a todos (se o tempo e o espaço deixarem).

Filipe

2 comentários:

Hugo Pereira disse...

AHAH Muito bom o post!!

Sim, também achei o documentário demasiado sensacionalista e com muitas notas humorísticas (não só pela maneira como alguns argumentos eram lançados, mas também pelo aspeto pouco credível dos seus autores) eheh

Sabia que tinhas de estar presente e escrever o post para trazer alguma verdade à coisa :D

Abraço!

Rui Spranger disse...

Muito bem Filipe. Excelente post! Venham mais.