Não sou, de todo, a pessoa ideal para dizer o que quer que seja, sobre greve. Não as entendo muito bem na medida em que acho que não resolvem os problemas de fundo - sendo certo que foram importantes, e se calhar ainda o são, algures no mundo e em determinadas situações - e não alinho nelas.
Quando à questão, não deixa de ter a sua pertinência, claro está que com um lado irónico.
As composições da rede do Metro do Porto estão a circular de forma muito condicionada esta quarta-feira, dia de greve geral convocada pela CGTP, devido a um conjunto de alegados actos de vandalismo ocorridos durante a madrugada, “com fortes indícios de sabotagem para deixar o sistema inoperacional”.
A ser verdade parece-me uma clara violação das regras do jogo.
Mas apesar de ter feito greve, ontem dia 30, foi um dia de muito trabalho...
E há sempre muito trabalho num dia de greve, porque há sempre alguém que tenta limitar os efeitos da greve. Como?
-Substituindo pessoal nos serviços, argumentando que o local de trabalho não pode encerrar…
-Requisitando mais serviços mínimos do que aqueles que a Lei determina…
-Tentando pressionar os trabalhadores para anunciarem previamente se aderem à greve ou não…
Ora, tudo isto são violações à Lei da Greve e cabe aos Sindicatos a sua denúncia e posterior acção judicial.
Como é evidente, a entidade patronal tenta minimizar os efeitos da greve. Os trabalhadores, por seu lado, tentam que os efeitos da sua paralisação sejam os mais expressivos para as suas reivindicações.
Chamo a atenção para o facto de, a greve ser o ultimo recurso da contestação e só ser usada quando todos os outros mecanismos da negociação falham. As greves existem porque há descontentamento. E é só neste contexto que devem ser entendidas.
E para quem anda atento, parece-me que há bastantes razões para o descontentamento geral, daí a GREVE GERAL!
Quanto à “clara violação das regras do jogo”, relembro um episódio: Há uns tempos, em Espanha, os transportes fizeram uma greve reclamando melhores condições de trabalho, redução do horário de trabalho, períodos de descanso mais longos, denuncia da contratação de mão-de-obra ilegal (trabalhadores magrebinos e de leste) capaz de conduzir durante longos períodos de tempo, etc, etc.
Para impedir que os transportadores não espanhóis continuassem a trabalhar, diluindo assim o efeito das suas reivindicações, lembro-me que "nuestros hermanos" colocaram nos viadutos, pedras suspensas à altura do pára-brisas dos camiões (invisíveis à noite). Resultado: nenhum transportador ousou furar a greve e assim as reivindicações foram tomadas em consideração.
Parece-me que a sinistralidade com veículos pesados diminuiu… parece-me que o salário mínimo em Espanha é superior ao português, parece-me que o crescimento económico é superior ao de Portugal…
Nenhum funcionário da Metro fez greve (eu tenho um amigo que é maquinista). Houve sabotagem, era nítido, segundo ele, porque quem o fez sabia muito bem o que estava a fazer. Na madrugada interior acontecer este tipo de situações parece-me no mínimo de desconfiar.
«Quando todos os outros mecanismos de negociação falham...» (não foi boca, António)
E repara que nem todos os fins justificam os meios. Julgo que no caso do Metro não se colocou em risco a vida de ninguem. Já o mesmo não se pode dizer em relação a Espanha. E convenhamos... uma vida vale mais... muito mais.
Talvez certas pessoas só conheçam o verdadeiro significado da greve quando começarem a trabalhar e a ver quantas e quantas coisas estão mal, ou talvez nunca venham a perceber. Há muitas pessoas que trabalham e que também não conhecem o significado nem o porquê de uma greve. A capacidade de cada um de nós ser avestruz é incógnita. Vou fazer aqui um paralelo: muitos de nós questionamos o porquê das eleições - "sou só um, o meu voto não vai fazer a diferença". A verdade é que no dia lá vamos às urnas e lá acabamos por votar. E quando votamos ficamos à noite a ver atentamente os números, votos e abstenções. E vemos o poder do grupo, que todos juntos acabamos por ter voz, acabamos por sentir que fazemos parte de uma qualquer unidade. A greve é quando a diplomacia falha. A greve é quando o Governo é absurdo. A greve é quando o governo é autista. A greve é a única voz que resta no fim. Um a um, cada um, tem o poder do voto, o poder do voto da greve, o poder de, com a sua não ida ao trabalho, dizer: isto não pode continuar assim.
Uma greve é uma manifestação de voto, voto de descontentamento. Quantos mais de nós formos a estas "eleições" mais o governo se apercebe do descontentamento da população.
E ainda há quem pense que uma greve é algo de antiquado...
Curiosamente, ninguém contesta a democracia...
Granel, não é que concorde com a sabotagem do metro, mas compreendo-a. Foi alguém a tentar dizer: acordem! Abram os olhos!
9 comentários:
Fiquei confuso!
Eu fui obrigado a fazer grve. Amarrado em casa!
Não sou, de todo, a pessoa ideal para dizer o que quer que seja, sobre greve. Não as entendo muito bem na medida em que acho que não resolvem os problemas de fundo - sendo certo que foram importantes, e se calhar ainda o são, algures no mundo e em determinadas situações - e não alinho nelas.
Quando à questão, não deixa de ter a sua pertinência, claro está que com um lado irónico.
Confusão, confusão... só mais logo, quando se confrontarem os numeros oficiais...
"Para quem acompanhou as anteriores greves gerais e esta, uma coisa fica clara: foi a mais fraca greve geral até hoje organizada em Portugal."
Esta frase é de Daniel Oliveira. Pareceu-me interessante ver um tipo "de esquerda" a escrever tal blasfémia.
A fonte é o Correio da Manhã - não escrevo
O assunto é mesmo pertinente - escrevo
Já fiz um post sobre isto - não escrevo
Do mal-me-quer, bem-me-quer surge um comentário:
As composições da rede do Metro do Porto estão a circular de forma muito condicionada esta quarta-feira, dia de greve geral convocada pela CGTP, devido a um conjunto de alegados actos de vandalismo ocorridos durante a madrugada, “com fortes indícios de sabotagem para deixar o sistema inoperacional”.
A ser verdade parece-me uma clara violação das regras do jogo.
Eu fiz greve!
Mas apesar de ter feito greve, ontem dia 30, foi um dia de muito trabalho...
E há sempre muito trabalho num dia de greve, porque há sempre alguém que tenta limitar os efeitos da greve. Como?
-Substituindo pessoal nos serviços, argumentando que o local de trabalho não pode encerrar…
-Requisitando mais serviços mínimos do que aqueles que a Lei determina…
-Tentando pressionar os trabalhadores para anunciarem previamente se aderem à greve ou não…
Ora, tudo isto são violações à Lei da Greve e cabe aos Sindicatos a sua denúncia e posterior acção judicial.
Como é evidente, a entidade patronal tenta minimizar os efeitos da greve. Os trabalhadores, por seu lado, tentam que os efeitos da sua paralisação sejam os mais expressivos para as suas reivindicações.
Chamo a atenção para o facto de, a greve ser o ultimo recurso da contestação e só ser usada quando todos os outros mecanismos da negociação falham. As greves existem porque há descontentamento. E é só neste contexto que devem ser entendidas.
E para quem anda atento, parece-me que há bastantes razões para o descontentamento geral, daí a GREVE GERAL!
Quanto à “clara violação das regras do jogo”, relembro um episódio:
Há uns tempos, em Espanha, os transportes fizeram uma greve reclamando melhores condições de trabalho, redução do horário de trabalho, períodos de descanso mais longos, denuncia da contratação de mão-de-obra ilegal (trabalhadores magrebinos e de leste) capaz de conduzir durante longos períodos de tempo, etc, etc.
Para impedir que os transportadores não espanhóis continuassem a trabalhar, diluindo assim o efeito das suas reivindicações, lembro-me que "nuestros hermanos" colocaram nos viadutos, pedras suspensas à altura do pára-brisas dos camiões (invisíveis à noite). Resultado: nenhum transportador ousou furar a greve e assim as reivindicações foram tomadas em consideração.
Parece-me que a sinistralidade com veículos pesados diminuiu… parece-me que o salário mínimo em Espanha é superior ao português, parece-me que o crescimento económico é superior ao de Portugal…
Nenhum funcionário da Metro fez greve (eu tenho um amigo que é maquinista). Houve sabotagem, era nítido, segundo ele, porque quem o fez sabia muito bem o que estava a fazer. Na madrugada interior acontecer este tipo de situações parece-me no mínimo de desconfiar.
«Quando todos os outros mecanismos de negociação falham...» (não foi boca, António)
E repara que nem todos os fins justificam os meios. Julgo que no caso do Metro não se colocou em risco a vida de ninguem. Já o mesmo não se pode dizer em relação a Espanha. E convenhamos... uma vida vale mais... muito mais.
Talvez certas pessoas só conheçam o verdadeiro significado da greve quando começarem a trabalhar e a ver quantas e quantas coisas estão mal, ou talvez nunca venham a perceber. Há muitas pessoas que trabalham e que também não conhecem o significado nem o porquê de uma greve. A capacidade de cada um de nós ser avestruz é incógnita.
Vou fazer aqui um paralelo: muitos de nós questionamos o porquê das eleições - "sou só um, o meu voto não vai fazer a diferença". A verdade é que no dia lá vamos às urnas e lá acabamos por votar. E quando votamos ficamos à noite a ver atentamente os números, votos e abstenções. E vemos o poder do grupo, que todos juntos acabamos por ter voz, acabamos por sentir que fazemos parte de uma qualquer unidade.
A greve é quando a diplomacia falha. A greve é quando o Governo é absurdo. A greve é quando o governo é autista. A greve é a única voz que resta no fim. Um a um, cada um, tem o poder do voto, o poder do voto da greve, o poder de, com a sua não ida ao trabalho, dizer: isto não pode continuar assim.
Uma greve é uma manifestação de voto, voto de descontentamento. Quantos mais de nós formos a estas "eleições" mais o governo se apercebe do descontentamento da população.
E ainda há quem pense que uma greve é algo de antiquado...
Curiosamente, ninguém contesta a democracia...
Granel, não é que concorde com a sabotagem do metro, mas compreendo-a. Foi alguém a tentar dizer: acordem! Abram os olhos!
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