segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Agora estou nu diante das estrelas

Esta terça a paixão foi do Victor, chama-se Raul Brandão...

Nasceu no Porto (Foz do Douro), em 1867, no mesmo ano literariamente auspicioso de António Nobre e Camilo Pessanha. Figuras maiores do nosso Simbolismo, eles serão também, em momentos diferentes e por vias estético-literárias divergentes, referências absolutas para a literatura portuguesa do século XX.

“Agora estou nu diante das estrelas”
In Pobre de pedir

Raul Brandão, escritor um tanto desconhecido para a maioria das pessoas, é todavia um dos percursores da escrita dita existencialista em português. O expoente da angústia existencialista pode ser encontrada em Húmus, com excelentos retratos da perenidade da nossa existência.

Húmus, a obra-prima de Raul Brandão, ocupa um lugar à parte na história da ficção portuguesa: é um livro que se subleva contra a estruturado romance tradicional, introduzindo processos inovadores que o projectam muito para além do horizonte estético do seu tempo. Por isso, nem sempre beneficiou de uma recepção crítica que estivesse à altura de o julgar, apesar da sua assinalável repercussão num meio literário restrito.Considerado em sentido lato como um escritor de desinência pós-naturalista ou, numa perspectiva comparatista, como um escritor “de transição”, Raul Brandão pôs radicalmente em causa as concepções estéticas vigentes na sua época, por uma vontade de ruptura indissociável da intensa vocação indagadora que sustenta a singularidade do seu projecto estético. Abolindo a oposição entre prosa e poesia, subvertendo as categorias genéricas, desvalorizando os elementos convencionais da narrativa, a ficção brandoniana antecipa as experiências mais inovadoras efectuadas no âmbito da narrativa contemporânea.(Do Preâmbulo, por Maria João Reynaud)

“Um grito, um grito na noite, um grito fundo que me interessa como se fosse eu próprio que gritasse...”
In A morte do palhaço

Deixou uma obra desigual, mas com momentos de grande valor poético e intensidade dramática, representativa da transição entre os finais do século XIX e princípios do XX, com influências tão variadas quanto, por um lado, a do realismo e naturalismo e, por outro, a do simbolismo, com o seu pendor esteticista decadente. Abandonando as influências simbolistas do grupo boémio a que pertenceu no Porto, confluíram na sua fase seguinte a recuperação dos valores psicológicos e sociais presentes em escritores como Tolstoi ou Dostoievsky e a observação da existência sofredora mas genuína das gentes portuguesas, entrelaçando-se deste modo ficção e realidade numa visão oposta ao optimismo positivista.

Raul Brandão foi um dos fundadores da Seara Nova.
Revista portuguesa publicada entre 1921 e 1982. Assumindo-se como uma publicação «de doutrina e crítica», congregou um conjunto de nomes da cultura portuguesa da época. O seu grupo fundador incluía Raul Brandão, Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro, Câmara Reis, Augusto Casimiro e Raul Proença. O grupo pretendia intervir activamente na vida política do país, aproximando a élite intelectual da República da realidade portuguesa, e servindo-se da revista como foco de acção pedagógica e doutrinária.

Os homens da Seara Nova consideravam-se, segundo um texto do 1º número, "poetas militantes, críticos militantes, economistas e pedagogos militantes", intenção contribuiu para quebrar o isolamento dos homens de elite, aproximando-os da realidade social ao mesmo tempo que combatiam com as armas de que dispunham contra o fascismo salazarista.

António Sérgio desenvolveu uma notável acção pedagógica e cultural, tendo um papel fundamental no combate da tendência literária para o "vago, nebuloso, torre de marfim", através da organização de uma ciência da crítica literária mais racional, que seria continuada nas obras de Castelo Branco Chaves e Agostinho da Silva.
Apesar de diversas divergências e cisões (de Jaime Cortesão e António Sérgio, por exemplo), a revista desenvolveu um importante trabalho sobretudo do ponto de vista pedagógico e cultural, com Câmara Reys.

A revista Seara Nova viria a tornar-se o principal órgão periódico no campo da oposição democrática ao regime de Salazar. Ao longo de cinco décadas seguintes, os colaboradores da revista desempenharam um importante papel de reflexão e intervenção crítica no processo de degenerescência do liberalismo republicano dos anos 20, na oposição à consolidação do Estado Novo nos anos 30, na resistência cívica ao longo dos anos 40 e 50, na renovação doutrinária da esquerda e numa crescente afirmação política e cultural nos anos 60 e 70 até à queda da Ditadura.
Apesar de tudo, ainda hoje é publicada, de forma pouco regular, podem ver os ultimos numeros em http://searanova.publ.pt/

PS – Perdoem-me este post maçudo, mas esqueci-me de pedir os livros ao Victor e portanto é mais a informação que as citações, o que me parece seria mais interessante.

2 comentários:

Rui Spranger disse...

Muito bem Tó! Com o teu trabalho acho que podemos em breve concorrer aos oscares dos blogs.
Isto está a ficar com muito nível!!!!

Anónimo disse...

li hoje o resumo que fizeste da minha apresentação e temo que suplantes a minha demonstração por via da tua tedência para politizar todo o discurso.parabéns pelo texto.vitor elyseu.09-02-06.