quarta-feira, 31 de maio de 2006

simplesmente, POESIA

Esta era já uma sessão anunciada, uma paixão antiga e que todos já sabíamos da sua existência. O apaixonado em causa, nunca a escondeu, muito pelo contrário, sempre a enalteceu. Mas teimosamente, nunca essa paixão tinha descido as escadas do Pinguim. Mas ontem, finalmente os holofotes foram acesos e finalmente o Clube teve direito, em privado, à partilha desta paixão, e deleitou-se com uma magnífica sessão de poesia. Por esta hora, já todos devem saber quem era o nosso apaixonado. Para os mais distraídos aqui fica: Rui Spranger. A paixão, já foi dito, a Poesia. O caminho escolhido, o desfolhar do livro que há quatro anos lhe faz companhia, junto à cama, pousado na mesinha de cabeceira. Rui Spranger leu-o como ninguém e mostrou-nos, mesmo aos mais cépticos (e acreditem que havia alguns na sala), o encanto da Poesia Portuguesa para além de tomarmos conhecimento de autores, que apesar de brilhantes, a sua obra nos era desconhecida. Foi mais uma noite de glória do nosso Clube, onde a paixão de um se tornou a paixão de todos. Saímos todos mais ricos, quer a nível intelectual quer a nível emocional. Como disse Rui Spranger,
“A Poesia tem a capacidade de em poucas palavras dizer tudo(…) e pôr-nos a pensar”
Quanto à obra lida na sessão, Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa, foi compilada por Eugénio de Andrade, e reúne inúmeros autores Portugueses (todos eles já falecidos) tão heterogéneos como sejam, Luís de Camões, Álvaro de Campos, Mário de Sá Carneiro, Alexandre O’neill, o nosso Rei Dom Diniz, Alberto Caeiro, Rui Belo; este último, uma paixão dentro da própria paixão. É uma obra brilhante pela sua amplitude e comporta inúmeros poemas de inegável qualidade. Eugénio de Andrade descreveu-a bem mais simples: “Esta é a poesia portuguesa que, após mais de sessenta anos de lê-la, a memória me traz à tona(…)”. Quem quiser saber mais, ou mesmo comprar a obra, pode consultar a página
Do Rui, pouco há a dizer, um talento nato para as artes de palco e um declamador exímio, que arcou às costas a difícil tarefa de pôr gente como eu, a ouvir e principalmente, a gostar de Poesia. Está de parabéns pelo serão que nos proporcionou e estou certo que também ele saiu bem mais bem disposto. É também de elevar o seu esforço, ao preparar uma sessão num prazo tão apertado. A sabedoria popular diz que “Depressa e bem há pouco quem”. Descobrimos ontem que o pouco dá pelo nome de Rui Spranger.


É uma sensação horrível e de uma impotência total esta que agora vivo – não conseguir traduzir por palavras o que se passou na cave do Pinguim nesta terça. Resta-me assim dizer que, e a exemplo de todas as que tive o privilégio de presenciar, foi uma sessão fantástica e endereçar-vos o convite para se juntarem a nós. A próxima sessão, será excepcionalmente na quinta. Na terça, a nossa “toca” vai ser palco de um concerto de música experimentalista.

A todos quantos estiveram presentes e me deram o privilégio (isto sou eu a delirar porque o presente vem carregado de veneno) de redigir este post e principalmente ao Rui, o meu muito obrigado.

Ainda "Le Deserteur"

Alguns dos utilizadores podem não ler os comentários ao post anterior e seria lamentavel perder a tradução do poema desta música de Boris Vian , com que o Rui Spranger nos brindou.

Senhor Presidente
escrevi-lhe uma carta
que talvez lerá
se tempo tiver

Acabo de receber
os meus papeis militares
para partir para a guerra
antes da tarde de quarta-feira

Senhor Presidente
eu não a quero fazer
eu não estou na terra
para matar as pobres gentes

Não é para vos fazer zangar
mas é preciso que eu lhe diga
a minha decisão está tomada
e eu vou desertar

Desde que nasci
já vi morrer o meu pai
vi partir os meus irmãos
e chorar os meus filhos

A minha mãe sofreu tanto
Ela está no seu tumulo
e borrifa-se para as bombas
e borrifa-se para as minhocas

Quando eu fui prisioneiro
roubaram-me a mulher
roubaram-me a alma
e todo o meu querido passado

Amanhã de madrugada
vou fechar a minha porta
no nariz dos anos mortos
e irei pelos caminhos

Mendigarei a minha vida
pelas estradas de frança
da Bretanha à Provença
e direi às gentes

"Recusem obedecer
recusem fazê-la
não vão para a guerra
recusem partir"

Se é preciso dar o sangue
vá então dar o seu
já que é um bom apóstulo
Senhor Presidente

Se me perseguir
Avisai os vossos guardas
que eu não terei armas
e que eles podem atirar

Boris Vian
traduzido por Rui Spranger

domingo, 28 de maio de 2006

Le Deserteur


Numa noite de Pinguim como muitas outras em que pequenas pérolas são transmitidas de mão em mão, o co-Pinguim Rui Spranger partilhou este tema da autoria de Boris Vian (se a memória não me trai interpretado pelos Têtes Raides).

Desde essa 1ª audição a força interventiva do poema não me sai da cabeça, por isso achei por bem partilhar a letra e a própria musica no original de Boris Vian.



Monsieur le président
Je vous fais une lettre
Que vous lirez peut-être
Si vous avez le temps

Je viens de recevoir
Mes papiers militaires
Pour partir à la guerre
Avant mercredi soir

Monsieur le président
Je ne veux pas la faire
Je ne suis pas sur terre
Pour tuer des pauvres gens

C'est pas pour vous fâcher
Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m'en vais déserter

Depuis que je suis né
J'ai vu mourir mon père
J'ai vu partir mes frères
Et pleurer mes enfants

Ma mère a tant souffert
Elle est dedans sa tombe
Et se moque des bombes
Et se moque des vers

Quand j'étais prisonnier
On m'a volé ma femme
On m'a volé mon âme
Et tout mon cher passé

Demain de bon matin
Je fermerai ma porte
Au nez des années mortes
J'irai sur les chemins

Je mendierai ma vie
Sur les routes de France
De Bretagne en Provence
Et je dirai aux gens:

« Refusez d'obéir
Refusez de la faire
N'allez pas à la guerre
Refusez de partir »

S'il faut donner son sang
Allez donner le vôtre
Vous êtes bon apôtre
Monsieur le président

Si vous me poursuivez
Prévenez vos gendarmes
Que je n'aurai pas d'armes

Et qu'ils pourront tirer

Boris Vian


Ao senhor presidente
e chefe da nação
escrevo a presente
pra sua informação

recebi um postal
um papel militar
com ordem pra marchar
prà guerra colonial

diga aos seus generais
que eu não faço essa guerra
porque eu não vim à Terra
pra matar meus iguais

e aqui digo ao senhor
queira o senhor ou não
tomei a decisãode ser um desertor
desde que me conheço

já vi meu pai morrer
vi meus irmãos sofrer
vi meus filhos sem berço

minha mãe sofreu tanto
que me deixou sozinho
morreu devagarinho
nas dobras do seu pranto

já estive na prisão
sem razão me prenderam
sem razão me bateram
como se fosse um cão

amanhã de madrugada
pego numa sacola
e na minha viola
e meto-me à estrada

irei sem descansar
pela terra lusitana
do Minho ao Guadiana
toda a gente avisar

à guerra dizei 'não!
'a gente negra sofre
e como nós é pobre
somos todos irmãos

e se quer continuar
a matar essa gente
vá o senhor presidente
tomar o meu lugar

se me mandar buscar
previna a sua guarda
que eu tenho uma espingarda
e que eu sei atirar

adaptação para português de José Mario Branco

créditos: http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/mariobranco-monsieurLePresident.html

quinta-feira, 25 de maio de 2006

Fotojornalismo contemporâneo - segunda metade do séc. XX

É sempre difícil fazer o resumo de uma sessão, pois a mestria com que cada apresentador conta a sua paixão é tal que todo e qualquer resumo nunca lhe pode ser fiel.
A paixão desta semana foi apresentada pelo Tó Rodrigues, e como não poderia deixar de ser foi sobre fotografia, ou melhor, sobre fotojornalismo, que é, também, a profissão deste nosso amigo. Mas para resumir esta sessão o melhor talvez fosse apresentar algumas fotos para que se pudesse perceber melhor do que estamos a falar. Ora, nada disso! Vou assumir a posição de «caneta» num acto deliberadamente provocatório e tentar retratar tudo o que vi e ouvi em texto!

O que é um fotojornalista? Um mero reporter de imagem? Um flash apontado para um qualquer buraco na rua, ou para uma série de individuos no meio da estrada?
É muito mais do que isto, como é óbvio! É acordar de manhã e sair para a rua, registar a tristeza nos olhos dos que sofrem, a alegria nos de quem celebra, a coragem de quem perde, a glória de quem triunfa. É passar uma imagem que diga ao mundo que naquele momento e naquele local algo de importante para alguém aconteceu.
Ser imagem do que é notícia é mostrar o seu calor e a sua luz, o seu gelo e a sua escuridão. E acima de tudo (penso que foi o que o Tó quis mostrar) é ser A Notícia. E ser a notícia é conseguir colocar toda a intensidade dos momentos numa única imagem, como se cada fotografia fosse um desenho tirado do diário de Deus!

A história do fotojornalismo tem-se modificado. A reportagem de guerra já não é igual, o estatuto de cada fotojornalista é bastante diferente, e a colaboração entre o fotojornalista e o jornalista é muito fraca, pelo que nos apercebemos na sessão. Falou-se na grande reviravolta que houve em Portugal desde o aparecimento do jornal Público, na forma de fazer fotojornalismo, na forma como as redações começaram a exigir determinado tipo de trabalhos.
Percebemos também a estrutura de cada publicação, desde as tablóides, às mais generalistas e mesmo dentro destas, o público a que se dirigem.

Numa altura em que se discute tanto a seriedade dos nossos jornalistas foi bom saber que ainda há alguém que o que faz, faz bem, e com um único intuito - Informar!
Como vêem meus amigos, chego ao final deste post sem ter cumprido a minha missão que era a de ser fiel à sessão e por isso peço desculpa a todos, muito especialmente ao Tó. No entanto sei que ele sabe que admiro imenso a profissão dele embora não consiga explicar bem porquê, como se constatou neste pequeno texto.

Acabo com um enorme chavão: Uma imagem vale mais que mil palavras!

P.S. Deixo só aqui um grande abraço de todos os Pinguins ao Hugo Danin e à Cátia pois temos sentido a vossa falta e esperamos que tudo esteja a correr bem. Os vossos lugares estão sempre marcados e aguardamos ansiosamente o vosso regresso. Que seja breve!
Muito me agradou, também, ver uma sessão repleta de pessoas!

terça-feira, 23 de maio de 2006

Cultura não é formosura

Desculpem os meus co-pinguinianos trazer à colacção este tema em género de desabafo. Não sou crítico político, nem sequer imparcial o suficiente para discutir com a máxima honestidade intelectual determinado tipo de matérias, sendo que a minha opinião neste contexto é conhecida por todos.
No entanto, hoje senti-me incomodado com um acontecimento televisivo que mais fez lembrar uma sala de audiências de uma qualquer série americana sobre Tribunais. Falo do Prós e Contras, programa este que trouxe a debate o livro do queixoso Manuel Maria Carrilho. Com um painel composto por Ricardo Costa e Pacheco Pereira de um lado, e Manuel Maria Carrilho e Emídio Rangel do outro, o debate moderado por Fátima Campos Ferreira incidiu, essencialmente, num lavar de roupa suja levado a cabo pelo queixoso.

Eu não sou advogado de defesa de ninguém, nem quero de forma alguma contribuir para a humilhação pública de Carrilho, porque isso ele faz muito bem sozinho, e por isso não me vou alongar muito no texto, mas posso dizer que para quem escreve um livro sobre a falta de seriedade das campanhas eleitorais (de que ele também já se usou, das campanhas, leia-se) e da difamação, parece-me um pouco irónico a sua atitude tanto no próprio livro (que confesso não ter lido, nem tão pouco ter paciência para tal) como no debate, em que as acusações, insinuações e ataques pessoais se multiplicam como bebés em países sem controlo de natalidade.

Quanto a Emídio Rangel, recuso-me a escrever muito sobre uma pessoa que crítica a comunicação social de fraca qualidade, quando o próprio foi responsável por um dos canais com mais visibilidade num contexto político, e não só, em Portugal.

O Prof. M.M. Carrilho pode ser um homem de cultura reconhecida, um estudioso da filosofia, mas parece-me acima de tudo um péssimo aluno. A sua falta de coerência, de elegância e de bom senso fazem-no perder a cabeça e comportar-se impulsivamente como uma criança de 10 anos que amua, faz birra e não brinca mais com os outros meninos.
O debate acaba, curiosamente, com uma troca de galhardetes que passo a citar: «Ricardo Costa, você é o rosto da vergonha do jornalismo em Portugal» (cit. Manuel Mara Carrilho); «E você é o rosto da derrota eleitoral» (cit. Ricardo Costa). Só visto!

Queria apenas deixar uma última nota. Eu sou bastante crítico no que diz respeito à forma como são conduzidas as campanhas eleitorais pela comunicação social, mas isso sou eu, um simples eleitor que pode pontualmente deixar a sua opinião num espaço como este, com o devido respeito pelas outras pessoas (excepto por Mário Soares). Uma pessoa como M.M. Carrilho ou outro político ou comentador político não pode lançar insinuações infundadas para o ar com a leviandade com que estes homens o fazem. A sua responsabilidade e visibilidade não o deveriam permitir, por isso, parece-me um pouco estúpido que o façam. Isto é uma prova de que a cultura não se fica pelos livros mas na forma como a transportamos para as nossas vidas e como se reflecte nos nossos comportamentos. Talvez uma leitura mais aprofundada sobre a filosofia moral fizesse bem a estes senhores.

domingo, 21 de maio de 2006

Há palavras que deviam ser tabu

"Todo o cidadão que receba em sua casa um estrangeiro deve declarar às autoridades a data da sua chegada e a data da sua partida".

Era mais ou menos assim que começava a chamada "Lei Debré", que felizmente não chegou a ser aprovada, fruto de muitas manifestações em França.

A contestação foi muito grande por vários motivos, mas o principal foi o de lembrar os tempos do governo de Vichy (a ocupação Nazi) onde existia o princípio da delacção.

Em Portugal, tivemos durante 40 anos o mesmo princípio, mas já ninguém se lembra... ou pelo menos assim parece.

A primeira vez que andei de metro fiquei chocado.
Um grande cartaz dizia algo no género " O Metro também é seu. Se assistir a um acto de vandalismo DENUNCIE".
Recentemente, andei de autocarro, e ainda sobre o tema do vandalismo, havia uns prospectos com o mesmo objectivo, mas já não pediam para DENUNCIAR, mas sim para INFORMAR.

Creio estar aqui toda a diferença!

sexta-feira, 19 de maio de 2006

23 de Maio de 2006

Aqui fica um aperitivo...



Habitantes do bairro de Santa Engrácia, no coração de Lisboa, vibram de emoção com o jogo dos quartos de final do Euro 2004. (Junho 2004) Por Guillaume Pazat, da agência Kameraphoto

Belle and Sebastian

(Eu queria pedir desculpas por fazer este post tão tarde, mas eu tinha avisado em relação à minha disponibilidade para o mesmo... Espero que compreendam.)

Na sessão da passada Terça-feira a Luísa trouxe-nos a música de uma banda escocesa cujo nome foi inspirado numa série de desenhos animados dos anos 70, que todos nós nos lembramos bem.
A sessão foi histórica porque pela primeira vez quebrou-se, finalmente, o gelo masculino do clube de que eram sempre mais homens do que mulheres, sendo uma sessão com 5 para cada lado, alegres e participativos.
Findas as tradicionais farpas, a Luísa tomou o controle da sessão, com o Granel como assistente técnico, e começa por nos apresentar os "Belle and Sebastian".
Os "Belle and Sebastian" nascem em Janeiro de 1996, num café de Glasgow, quando Stuart Murdoch decide criar uma banda para o seu projecto final de curso. Nessa mesma noite e nesse mesmo café criou-se a banda. Estreiam-se nesse mesmo ano (em Junho) com o albúm "Tigermilk", do qual só foram editadas mil cópias em vinil. Mais tarde, em 1999, reeditou-se e remasterizou-se para os diferentes formatos (Vinil, CD e Cassete). Em Novembro do mesmo ano (1996) editam "If You're Feeling Sinister". Depois em 1998 aparece "The Boy With The Arab Strap" e até hoje editaram mais 6 albúns: "Fold Your Hands Child, You Walk Like A Peasant"(2000), "Storytelling"(2002), "Dear Catastrophe Waitress"(2003), "Push Barman To Open Old Wounds"(2005) que reúne todos os EP's editados até à data, "If You're Feeling Sinister: Live At The Barbican"(2005) e o último "The Life Pursuit" editado em Fevereiro deste ano.
A sessão foi sempre acompanhada com várias músicas e com muita, muita, muita paixão da Luísa (sempre com um brilhosinho nos olhos). A sua paixão e desconcentração na apresentação levou a que, no final, alguns mais audazes, menos tímidos e menos cansados dessem um pézinho de dança ao som desta banda, já que "eles têm um som alegre e dançável".
E foi com esta descontracção, um sorriso no canto da boca e uma enorme leveza de espírito que os Pinguins sairam desta sessão, deixando uma Luísa de olhar radiante e um sorriso enorme por ter cumprido na perfeição a sua tarefa.

Para mais informações sobre os "Belle and Sebestian" podem visitar o site oficial da banda ou ao site da Jeepster.

quinta-feira, 18 de maio de 2006

Citações

Um post muito curto.
Parabéns ao autor da rubrica citações.
Já por cá há algum tempo (demasiado) passando despercebida sem merecer o louvor dos seus pares.
Suponho que o autor é o Tó, mas já que se trata de uma felicitação, levante-se o réu!

Para descontrair, um link sui generis http://www.youtube.com/watch?v=cn5KGxeRwnI

Para toda a comunidade de pinguins, um grande abraço

quarta-feira, 17 de maio de 2006

Tom Waits

Já aqui foi abordado o filme "O tigre e a neve".
A curiosidade suscitada pelo post levou-me a percorrer o trailer e naturalmente a ver o filme.

Tudo que aqui foi dito sobre o filme é verdade. Mas houve algo que ficou por ouvir. A brilhante música de Tom Waits.
Logo à 1ª audição esta musica/poema de Tom Waits conquistou-me. Podia quase dizer que Tom Waits escreveu a música e só depois Benigni filmou o complemento visual.

"You can never hold back spring" é uma homenagem ao Amor em tudo que tem de mais belo. No deslumbramento, na abnegação, na partilha, na dor, na esperança...

e para tudo o mais, "You can never hold back spring" tem a voz de Tom Waits.

sábado, 13 de maio de 2006

Fado, Futebol e Fátima

Ontem, enquanto ía de carro até ao Pinguim, ouvi uma coisa que não ouvia há muitos anos, o 13 de Maio dos Xutos e Pontapés.

Lembrei-me, inevitavelmente, daquilo que significa o 13 de Maio e senti mais uma vez que continuamos na mesma.

Já vem sendo habitual, ao longo dos anos dizer-se que Salazar usava o Fado, o Futebol e Fátima para distrair o povo para traçar a sua grande estratégia sem que houvesse muito alarido. Esta é uma situação típica em sistemas como o antigo regime, e não querendo comparar, alguns artistas como Chico Buarque ou Vinicius de Moraes falavam desta situação no seu país, mas numa escala mais preversa.

O Fado de Amália, o Futebol de Eusébio e Fátima, o centro do fanatismo católico em Portugal. Poderíamos estar a falar disto como uma coisa passada, algo que está enterrado num Portugal diferente que alguns tentam esmagar. Mas a memória não se apaga quando os factos continuam bem presentes e vivos, no entanto encobertos. E que melhor dia para falar nisto pode haver?

Hoje 13 de Maio, último dia da Queima das Fitas da Academia do Porto, véspera da Final da Taça de Portugal. O povo continua distraído!!! Caminham uns num desespero de lamúrias lavadas em àgua benta, e de promessas cuidadosamente atiradas para o reino anárquico das velas, outros caminham trôpegos pelo meio de um chão imundo e de um cheiro insuportável a urina com 5 dias, envergando o diploma numa mão e o freepass para as urgências na outra, os últimos gritam o golo com a raiva e a força com que gostariam de mandar o patrão à merda. Do outro lado já não está Salazar, está uma democracia, um estado social de direito, a evolução de Abril. Mas o povo continua agarrado aos três F’s, que estranho! E a liberdade de expressão, o protesto pelos direitos dos mais fracos e oprimidos, o voto livre e universal, a consciência cívica e a evolução cultural? O povo quer é festa! E já não é só o povo, meninos burgueses também... Ah os senhores doutores do futuro do amanhã, tão bêbedos que eles estão, que engraçado! -Avé Maria cheia de graça... olha que mal vestida que esta vem, Santa Maria mãe de Deus... rogai por nós sim que não só somos pecadores como também somos mercenários, -As velinhas é o que quiser dar, só uma contribuição! – Ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh Filho da Puta!

Dos fanatismos à decadência, da mediocridade à estupidez, não há limites.

Fico então em casa, em pânico, até que de repente um senhor canta no rádio «Não te aflijas que tudo vai já passar», então fecho os olhos e acalmo a inquietação... não é fácil!

Szobor Park

A pedido de inumeras familias aqui vão fotos minhas...
Aproveito para partilhar uma paixão, deixar uma sugestão e lançar nova discussão (hoje devo estar armado em poeta...)

Estátua de Lenin, António Manuel Rodrigues


O Szobor Park (ou parque das estátuas) fica em Budapeste, na Hungria. Estive lá o ano passado e estas fotos são das minhas preferidas de 2005, a minha primeira intenção era vendê-las como reportagem mas ainda ninguém as quis publicar, até este momento muito poucas pessoas as puderam ver...

Depois da queda do comunismo na Hungria, como em todo o bloco de leste, as estátuas e memoriais foram retirados da rua. Mas, ao contrario do que aconteceu nos outros paises (em que estas obras foram encaixotadas e desapareceram em garagens e armazéns), a Hungria iniciou uma discussão pública sobre o que fazer a todo este material de propaganda. A conclusão, talvez fruto de décadas de comunismo "goulash", foi simples: a propaganda devia desaparecer das ruas, mas não se podiam apagar e esquecer décadas de história do país.
Decidiu-se então pela criação de um museu que lembrasse a ditadura. Deixem-me frisar que não se trata de um museu ao comunismo, mas à resistencia contra a ditadura, algo que os hungaros sempre fizeram!
A opção politica pode parecer dúbia ao visitante, tratam-se de esculturas que começam pela "libertação" pós segunda guerra mundial e terminam na "exultação" dos dirigentes comunistas hungaros e soviéticos. Mas confesso-vos que esta visita juntamente com o (minúsculo) museu do comunismo em Praga me explicaram mais sobre este período e esta região do que anos de história no secundário e de informação que (como todos nós) recebi na minha formação pessoal, seja pela leitura, pela televisão ou pelos meios de comunicação social...

Ákos Eleőd Junior, o arquitecto que o desenhou, diz o seguinte:
"Este parque é sobre ditadura. E ao mesmo tempo, porque se pode falar sobre ele, descrito, construido, este parque é sobre democracia. No fim, só a democracia é capaz de nos dar a opurtunidade para pensarmos livremente sobre a ditadura. Ou sobre a própria democracia. Ou sobre tudo!"

Na loja de "souvenirs" podemos encontrar desde CDs com a internacional, a miniaturas Trabi (também têm um exposto, mas ainda são faceis de encontrar a rolar pelas ruas) a t-shirts dos mais variados motivos...

Vista geral do parque das estátuas, António Manuel Rodrigues

sexta-feira, 12 de maio de 2006

«Os bejos merecidos da Verdade»



Numa cena altamente sentimentalista e deprimente aqui ficam alguns dos bejos históricos. em três artes diferentes! Como diria uma amiga minha, romântico mas não trôpego!

quinta-feira, 11 de maio de 2006

quarta-feira, 10 de maio de 2006

Le Baisier

A paixão do dia...



Robert Doisneau

PS - Propositadamente não deixo quaquer informação, fico à espera dos vossos comentários. Já é altura de mexer o blog e aproveito para preparar o meu regresso em força...

Calvin & Hobbes-A Paixão


Foi uma surpresa esta paixão do Granel. Normalmente este tipo de paixões são caracteristicas das pessoas que se envolvem consigo próprias e as suas dúvidas,algo que não me ocorre que o Granel suscite à primeira impressão mas como as primeiras impressões são de uma maneira geral erradas dou a mão à palmatória e apresento-vos o novo Granel que tenho vindo a conhecer nos ultimos tempos:
Uma pessoa que pensa,o que de si já é raro nos dias que correm,e pensa com inteligência,algo ainda mais raro, peço desculpa por só agora se ter feito luz no meu horizonte mas por vezes é preciso esperar para se avaliar melhor,um indivíduo disponível para os outros e com capacidade de escuta,não tão bom a contar anedotas mas não se pode ter tudo,capaz de alguma mobilização o que manifestamente importa ao clube dos pinguins e com imenso domínio ao nível da construção informatizada dos assuntos,trouxe ao convívio dos amigos do clube,eu já não comparecia há muitas sessões,um criador de imagens únicas e preciosas sobre aquilo a que chamamos vida: Pai; Mãe; sociedade.
Não estranhei o prazer de conhecer e rever algumas tiradas de mestre do nosso pequeno herói e seus alter-egos pois remete-nos à infância e aquelas performances que tanto gozo nos dava ver refletidas nos olhares dos adultos incrédulos por vezes, fascinados por outras mas sempre sem resposta,que bom lembrar-mo-nos de ser crianças de vez em quando!Não tenho agora dúvida alguma de que a paixão do Granel é um elemento superior da comtemplação amorfa da existência,não é suficiente rir é preciso pensar e isso,repito,o Granel sabe fazer.E ainda por cima os personagem das histórias são reais,existem conforme são apresentadas por Bill Watterson(o criador) e isso é o que mais arrepia se imaginassemos que ninguém tivesse coragem de os animar e assim torná-los públicos e dessa maneira confrontar as ideias gastas acerca de tudo e que já cansam e francamente já não divertem as pessoas que se atrevem a pensar um bocadinho que seja.
Assim sendo o clube dos pinguins foi uma vez mais espaço de liberdade e evasão e foi óptimo ocupá-lo de novo.

P.S.-Podem consultar as tiras do Calvin & Hobbes na net via jornal público ou via Granel em formato analógico.

segunda-feira, 8 de maio de 2006

OGame

Hoje decidi partilhar convosco uma das minhas ultimas paixões (ou vicios...)

Não sou muito dado a jogos, mas este prendeu-me (deixo desde já o aviso: é extremamente viciante!). É um jogo online gratuito, e passo a citar:

"O que é o OGame?
Como Imperador intergaláctico tens a possibilidade de aumentar o teu poder e a tua influência através da galáxia usando numerosas estratégias. Começas o jogo no teu planeta onde irás construir uma infraestrutura económica e militar graças aos recursos que produzires. Pesquisando novas técnicas e evoluindo os teus edifícios e pesquisas acedes a tecnologias e a sistemas de armas superiores e melhoradas. Durante o jogo tens a possibilidade de colonizar novos planetas e criar alianças com outros Imperadores. Negociar com os outros jogadores e lutar contra impérios inimigos ajudam-te a ganhar recursos para evoluires mais rapidamente."

O OGame é um jogo de estratégia espacial, de construção e principios extremamente simples, além de gráficos "pouco amigáveis", que contudo já possui mais de um milhão de utilizadores em 13 países diferentes.

O objectivo é organizar planetas, gerindo os recursos essenciais ao desenvolvimento (metal, cristal e deutério), começamos por criar minas, edifícios e estruturas no nosso planeta e depois criamos frotas (naves várias) para atacar e roubar outros planetas.

Cada planeta corresponde a um jogador, cada jogador pode ter até 9 planetas. Para uma melhor gestão do espaço, vão-se criando mais universos em cada jogo, o português tem já 8 universos, cada um deles com mais de 10.000 jogadores, o jogo alemão já tem 52 universos...

O jogo foi criado em 2002 na Alemanha e tem-se espalhado pelo mundo criando viciados um pouco por todo o lado. Pode parecer estranho como um jogo sem grandes complicações pode ter tanto sucesso, mas a verdade é que o crescendo do jogo não cansa, para além de ter regras curiosas que vão protegendo os jogadores, não os desmotivando, como por exemplo não ser permitido atacar um planeta mais de 6 vezes num dia ou não se poder atacar jogadores com 5 vezes mais ou menos pontos, o que nos protege dos mais fortes e nos impede de atacar os mais fracos...

Apesar de não haver idades para este jogo, do miudo ao avôzinho, deixo-vos um exemplo... Mesmo sendo alemão dá para perceber o que se passa com este jovem jogador... E agora perguntem-se como um jogo de estratégia sem qualquer tipo de acção é capaz de provocar isto...

http://video.google.com/videoplay?docid=-3078559253896129876

Para quem quiser arriscar pode inscrever-se no OGame português em http://ogame.com.pt/

domingo, 7 de maio de 2006

O ministério da Penalização Social

Ouvi anteontem (julgo eu) no noticiário da TV algo que me incomodou. Ainda por cima por se estar a tornar regra um comportamento estranho neste nosso pequeno país.

O nosso querido e amado primeiro ministro, consciente da falta de massa produtiva, procura o aumento da natalidade em Portugal. É comum no mundo ocidental, evoluído e industrial vivermos problemas de evelhecimento de população e segurança social em crise, vários paises estão a adoptar medidas para combater esta situação.

Ora o Excelentissimo Primeiro Ministro José Socrates lançou um plano que visa penalizar os casais sem filhos, ligeiramente diz ele... Acreditando que na expressão "penalizar ligeiramente" a leveza da segunda palavra alivie o peso da primeira...

Já Milan Kundera nos falou da "Insustentável leveza do ser" e Nitsche do "Eterno Retorno"...

A semana passada recebi uma carta da segurança social (sic) que me esclarecia do valor que tenho a pagar mensalmente, ora diz a mesma, que por incumprmento dos prazos legais (que me parece falha dos seus serviços) não tenho beneficios no pagamento, ou seja, tenho que pagar pela regra... Sendo a regra o desconto sobre 1,5 SMN...

Traduzindo... A regra na tributação da segurança social são quase 200 euros mensais... Sim, leram bem, não me enganei... Num país onde o salário mínimo nacional não chega a 400 euros... E nem todos os recibos verdes são médicos e advogados... Grande parte são na verdade jovens em primeiro emprego explorados segundo esquemas legais que chegam ao fim do mês com trocos que não permitem a sobrevivência de ninguém... Muito menos de familias... E ainda menos destas com cachopos para criar...

Confesso que me sinto confuso... Com as politicas da nossa segurança social... Com as opções de um suposto governo socialista... E com o discurso dos funcionários públicos que se aproxima de ameaças de agiotas...

Este texto é escrito a quente... Nota-se... Mas já se passaram alguns dias da minha revolta... Se fosse na altura estaria pejado de palavras menos delicadas e quiçá insultuosas... Hoje, só me apetece emigrar, abandonar esta desgraça a quem a quiser aturar... E deixar a massa produtiva para os governantes que se queixam da falta de mão de obra e (irritantemente) dos ataques da comunicação social (que afinal nada faz e de pouco fala)...

Se até há alguns meses o meu receio se resumia a voltar a ver os policias, de bastão na mão, aparecerem na rua, hoje confesso que temo pelo desaparecimento da palavra républica nesta nossa pátria que, para já, ainda é a Républica Portuguesa...

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Fugacidade do tempo

O tempo de um segundo

Mais logo, à 1 hora, 2 minutos e 3 segundos da manhã, acontecerá algo que não voltará a repetir-se no decurso da nossa vida (por longa que seja a nossa curta vida). Na verdade, a todo o momento acontecem coisas na vida de cada um de nós que não se repetirão, um rosto que se cruza connosco na rua, uma palavra ou o fragmento de uma conversa escutados por acaso, a súbita alegria de um riso atrás de nós, um reflexo de sol numa montra decompondo-se num brevíssimo e efémero arco-íris, um portão (como no poema de Borges) que nunca mais atravessaremos, um nome que nunca mais pronunciaremos, alguém que não voltaremos a ver. A vida, mesmo a mais rotineira das vidas, é feita de coisas únicas e últimas. Mas a nossa curiosidade tem uma natureza geométrica e é atraída pelas coincidências e pelas conjugações misteriosas e singulares. Logo, pouco depois da uma da manhã, durante a breve pulsação de um segundo, nos mostradores dos relógios digitais surgirá o seguinte grupo data/hora 01:02:03:04/05/06. A notícia chegou-me alvoroçadamente por e-mail. É a notícia de uma perda, de algo que teremos durante um instante e perderemos para sempre no instante seguinte. Como acontece (pois ter é perder) com cada instante e com cada coisa da nossa vida.

in Jornal de Noticias, Manuel António Pina

Há já alguns meses que me sinto viciado nestas pequenas crónicas publicadas na última página do JN, hoje recebi um mail que me falava deste "momento", a primeira coisa que pensei foi na fugacidade do tempo, depois esqueci... porque o tempo passou... Agora há pouco, enquanto esperava que me servissem no café aqui por baixo, peguei no jornal e li esta crónica, não resisti...
Porque também eu deixo o tempo passar, como todos nós fazemos, por vezes de forma inconsequente não medindo os instantes desperdiçados... E hoje à 1 hora, 2 minutos e 3 segundos da manhã do dia 4 do 5º mês do 6º ano do presente milénio passará um instante único nas nossas vidas para nunca mais se repetir...

terça-feira, 2 de maio de 2006

Ontem, dia 2 de Maio, o Clube dos Pinguins, excepcionalmente, não reuiniu. A sessão ficou assim adiada para o próximo dia 9. Ficamos à vossa espera. Aquele abraço.